quinta-feira, 11 de junho de 2015

González e a Ditadura venezuelana


                      
          A denominação de um país não implica, necessariamente, que ela corresponda à verdade factual. No tempo das repúblicas democráticas populares, até mesmo as pessoas menos informadas não desconheciam que o título oficial da nação não transmitia a realidade factual.

          Somente um tolo aceitaria como veraz que o democrático popular implicasse em regime livre para o povo em geral. Não passava de rótulo mentiroso que tentava esconder outra realidade, eis que o regime não era nem democrático, nem popular.

          O que acaba de acontecer com o estadista espanhol Felipe González, ex-chefe do Governo da Espanha (1982-1996) sublinha a real situação na pobre Venezuela. Convidado pelas famílias dos políticos opositores Leopoldo López e Antonio Ledezma para colaborar como assessor técnico na defesa desses dois ilustres presos pelo sistema repressivo do Presidente Nicolás Maduro, González aceitou de bom grado.

           A reação do chavismo pode ser interpretada como estapafúrdia, eis que a Assembléia chegou ao ridículo de proclamar Felipe González como persona non grata. Para esses pelegos e representantes de parlamentos de fachada, as ordens devem ser cumpridas, mesmo as mais absurdas. Que políticos da estatura de López, preso há mais de ano, e atualmente em greve de fome, e Ledezma, prefeito de Caracas, que foi levado para o cárcere sem alvará judicial pelos brucutus do Serviço de Segurança depois das violências costumeiras, servir-se do apoio e das indicações de um político da estatura de González, deveria ser interpretado por governo digno desse nome como um sinal de apreço e de respeito ao Estado Venezuelano.

            O regime chavista venezuelano teria a coragem de barrar no aeroporto a Felipe González, eis que a Assembleia o proclamara persona non grata?  Como não tem maior consistência as próprias atitudes, tampouco teriam o ânimo de recusar-lhe o ingresso no país.

            Ao contrário disso, o ex-caminhoneiro  Maduro desceu ainda mais na mensagem de seu microblog: “Os assuntos da Venezuela são nossos, apenas os venezuelanos podemos assumi-los. Nossa pátria repudia o intervencionismo.”

            Oferecer assistência técnica, política e jurídica, de parte de um Felipe González seria para outro país motivo suplementar para recebê-lo. Mas a mediocridade e o baixo nível são traços distintivos deste regime que é incompetente na gestão política, e paranóico nas alegadas ameaças à sua segurança.

             Defender um regime como esse – que leva Maduro a cancelar de forma desastrosa e comprometedora uma audiência que solicitara com Papa Francisco, pela simples razão de que não poderia desvencilhar-se da solicitação papal de libertar aos políticos injustamente presos -  e agora, caindo em novos despautérios e pesada carga de ridículo, ao temer Felipe González e tratá-lo como se fora uma canhoneira – me deixa um fundo pesar que um país que tanto se assinalara na política tenha caído tão baixo, mas ao mesmo tempo, me alenta a esperança de que gente tão estulta e incompetente  não terá condições de permanecer por muito no poder.

( Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo )

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