sábado, 20 de junho de 2015

A Justiça no Brasil

                                     
                                            

         Erga omnes é expressão latina e significa para todos. Em geral, o seu emprego se reporta à aplicação geral da norma jurídica.

         Nesta nova fase, a 14ª, a Lava Jato eleva tom e objetivo. Foram presos ontem, dezenove de junho, em São Paulo, Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo, os presidentes das duas maiores construtoras do país – a Odebrecht e a Andrade Gutierrez. Além disso, as ordens de prisão se referem a mais outros dez executivos e operadores, acusados de ligação com o esquema criminoso.

         O tamanho das duas construtoras, a sua implantação, as múltiplas relações com o poder, tudo isso explica que a prisão dos dois presidentes haja tardado um ano, em relação às anteriores.

          Portanto, a sua detenção e transferência para a sede da Polícia Federal em Curitiba, não pode ser considerada como acontecimento na rotina da Lava-Jato. Que pessoa com o peso político e a influência de um Marcelo Odebrecht seja algemado e transferido em avião da Força Aérea Nacional constitui evento que marcará uma nova época, dentro da política brasileira.

          Essa prisão não pode, no entanto, ser vista fora de seu contexto político, jurídico e administrativo. Marca a afirmação da Lei e de sua força, em país que, em certas oportunidades, chega a evocar comparações com países africanos marcados pela corrupção extrema, como a Nigéria.

          Um grupo de funcionários zelosos, mas também prudentes, simboliza esse movimento policial e judiciário, que sabe fazer o dever de casa, e não subestima os adversários. Esses últimos na luta pela defesa dos respectivos privilégios não hesitam em valer-se de todos os expedientes possíveis para marcar e defender as respectivas posições, recorrendo a todos os apoios imagináveis, no seu combate acirrado por uma causa inglória, mas absorvente.

          Bem haja esse núcleo do Judiciário, do  Ministério Público e da Polícia Federal, que defende a Sociedade brasileira  na luta sem quartel contra a corrupção, em todos os seus avatares.

          Basta abrir um jornal para adentrar um mundo de sombras, injustiças e ilegalidade. Por isso, ao lermos nos cabeçalhos de nossos principais órgãos de imprensa acerca das medidas tomadas pelo Juiz Sérgio Moro, não duvidemos um instante do trabalho aturado e da dedicação que embasam essas providências corretoras, renovadoras e, por isso, promissoras.

          Não lhe subestimemos a coragem e a determinação, diante dos muitos obstáculos que ainda existem para que a Petrobrás volte a ser o que era, e não pasto de políticos corruptos e de empreiteiros ambiciosos e corruptores.

          Mas quando se fala em Petrobrás, no afastamento de práticas delituosas, e na sua regeneração, se tenha igualmente presente o Brasil, e a necessidade de que se escoime a corrupção da vida político-partidária.  Não há nada de abstrato nesses ideais.

          Há anos que se fala em varrer a corrupção. Muita vez são os próprios políticos corruptos, que adotam tal discurso para melhor prover-se de fundos.

          A Lava-Jato tem sido o cadinho da forja de um novo Brasil. Os eternos céticos dizem que os malfeitos sempre existirão.

          São pessoas como o juiz Sérgio Moro que pelo seu estudo, dedicação, trabalho e determinação asseguram o império da Lei.

           A  Lei e a Justiça não nasceram, se desenvolveram e se firmaram sem a ação de pessoas como esses servidores que dão vida e sentido à letra fria dos códigos e das ordenanças.

           A Justiça é o laurel do Servidor honesto, diligente e perseverante na eterna busca da afirmação do Bem Público.

           Não é por acaso que a  Justiça é figura vendada, que defende a Lei e a Ordem. Por isso, que os seus atos e providências são tomados à luz do dia, e pela sua firmeza e embasamento legal não carecem de quaisquer ligações que não sejam as estabelecidas pela letra fria e transparente da Lei.    

            Em suma, o caminho da Justiça não é tortuoso, embora possa ser íngreme. O bom juiz não é o que tudo perdoa, mas o que faz a triagem entre o bem e o mal. Este muda amiúde de traje, aparência e discurso, prefere o segredo dos gabinetes sombrios e até busca deslumbrar pela exposição da riqueza e da opulência. Já o bem tem o discurso simples, por vezes até desajeitado, mas nada busca ocultar porque se guia pelo brilho do verídico e do honesto.

            O bom Juiz não muda segundo as estações, nem modela o discurso pelo timbre dos poderosos. E sabe até o âmago da própria alma que a Justiça não é cega por acaso.    

 

( Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo )

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