segunda-feira, 15 de junho de 2015

Trincheiras da Liberdade 16

                                 

A Turquia reabre a fronteira

 
          No espaço sem lei no leste da Síria, a multidão de refugiados da interminável guerra civil daquele país, agora em meio às lutas entre os peshmerga do Curdistão e os jihadistas do chamado Estado islâmico, conseguiu, já em desespero de causa, que tivesse consentida a passagem para a relativa segurança da Turquia.

          Para evitar receber mais sírios, tangidos pela guerra entre o ISIS e os curdos, Ancara havia determinado que somente em caso de tragédia humanitária reabriria a sua terra.

          Foi o que ontem ocorreu, quando cessaram os canhões d’água, os lançamentos de  gás lacrimogêneo e temporariamene abaixadas as barreiras de arame farpado. Os refugiados da cidade de Tell Abyade, precariamente abrigados na derradeira região síria, literalmente forçaram a passagem, tangidos por desespero que lhes fez arriscar a vida para tentar escapar do embate entre curdos e islamitas, pelo recurso de última instância de cruzar a fronteira com a Turquia.

          Na energia do desespero, movidos pela força de quem nada mais tem a perder, criaram passagens para o refúgio no território, seja escavando buracos sob o arame farpado, seja arrostando o gás lacrimogêneo, seja derrubando aquele símbolo do egoismo e da impiedade, que são os xenofóbicos jatos d’água, que pensam resolver os seus problemas das massas de desvalidos, simplesmente através de ignorância que teima em barrar-lhes a passagem, e desse modo conseguindo mantê-los felizmente à distância do respectivo país.

          Estima-se que dez mil infelizes civis, antes residentes em verdadeira terra de ninguém na Síria, lograram atravessar para a Turquia, onde já se encontram inúmeros campos de deslocados pela guerra.  Para os mais afortunados dentre essa gente, já despojada de seus tugúrios e lares, haverá a sorte de reencontrar familiares nos acampamentos turcos.

 
O general Omar al-Bashir, réu procurado do T. P. I.  

 

             O general Omar al-Bashir, que é Presidente do Sudão, não costuma viajar muito, e para tanto, forçoso será admitir, terá boas razões.

             Pois al-Bashir é um dos perseguidos do Tribunal Penal Internacional, instância de que, salvo erro ou omissão, o Brasil não pertence. Deveria, no entanto, integrar essa Corte, que se empenha em que os tiranos desse mundo (e os há, acreditem!) sejam detidos, conduzidos à Haia, e lá tenham de responder por seus crimes. Se inocentes forem, como sóem apregoar, estarão livres para viajar... Se não...

            O TPI pede a detenção do general Bashir desde 2009, quando foi acusado de crimes de guerra e contra a Humanidade.  Como se tal não bastasse, desde 2010   Omar al-Bashir passou igualmente a ser implicado em homicídio.

            O senhor general Bashir pensava rever amigos na África do Sul, ao ensejo da reunião de cúpula da União Africana. Mais eis que uma dessas ONGs entrou com requerimento na justiça para que Sua Excelência fosse impedido de sair ! Como se tal não bastasse, o general Bashir – que há muito se queixa de ser atazanado sem dó nem piedade pelos Javert da Haia – teve reforçada a requisição com o pedido de que seja extraditado (pelos crimes nos conflitos em Darfur, no Oeste do Sudão, onde mais de trezentas mil pessoas morreram desde 2003).

           O juiz Hans Fabricius pediu que o Governo sul-africano tome “todas as medidas necessárias” para impedir  que o líder sudanês deixe o país. No dia de hoje, quinze de junho, a Justiça ouvirá as argumentações de ambos os lados.

           A primeira vista, o general Bashir, reeleito em abril pp com 94% dos votos -  que bela contagem, não é, com que o povaréu distingue esses ditadores ! – teria boas chances de escapar dessa convocação. No entanto, há gente que espera que desta feita se trabalhe em prol da Justiça.  A Africa do Sul parece, contudo, haver esquecido Nelson Mandela. Sem falar de Zuma, o atual presidente,  não é que o Conselho Nacional Africano(o partido governista) afirmou que o  TPI “não é mais útil para os propósitos a que foi concebido” ?!

           Francamente, não entendo essa observação. Sei que é por causa do TPI que o professor Henry Kissinger prefere não viajar para determinados países, por causa de queixas mesquinhas oriundas de acusações contra ele em ter participado de conluios contra os direitos humanos com a ditadura de Pinochet... Pode haver mais injustiça contra esse aficionado do futebol, que às vezes se tem de contentar com a televisão para ver as grandes partidas?...

 

( Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo )

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