segunda-feira, 1 de junho de 2015

O que fazer da Reeleição ?


                                        

         Em nossa instabilidade institucional, a República Velha, como veio a ser denominada, durou cerca de quarenta e um anos. A de 1946 termina em 1964, com a chamada ‘Redentora’. Já o período de domínio militar teve  os vinte e dois anos do Fascismo na Itália.

         A Constituição de 1988, alcunhada por Ulysses Guimarães Cidadã, continua vivinha da silva, embora tenha sido a princípio feita para  regime parlamentarista que virou presidencialista. A reeleição foi introduzida por iniciativa de FHC. Não me parece que haja sido boa ideia. Com geral abertura – de prefeito a presidente –teria que dar no que deu, em país que não tinha a tradição da reeleição, se deixarmos de lado a experiência do Estado Novo.

         Por isso,  o Ministro Dias Toffoli, atual  presidente do Tribunal Superior Eleitoral, perdeu, data vênia, boa oportunidade de ficar calado.

         A reeleição pode ter sido útil para o Partido dos Trabalhadores e para Lula da Silva em especial, mas o Povo brasileiro guarda má lembrança da virtual institucionalização da prorrogação de mandato. A reeleição foi zelosa assistente da corrupção, e isso nos três níveis constitucionais. Ela deturpa o processo democrático, pois a autoridade em exercício (para o qual não há vocábulo em português, ao contrário do incumbent para o inglês) frui de enormes vantagens em permanecer à frente dos negócios (que para alguns toma até um sentido mais lato), além de gozar de outros favores que tendem a colocá-los em melhor situação do que o(s) eventual (is) opositores.

          Só mesmo com desastrosa gestão – ou com pletora de fatores contrários – o candidato (ou candidata) à reeleição enfrenta cenários que venham a decretar-lhe o malogro no intento continuísta.

          Depois de ser reprovado em dois exames para juiz e ter sido secretário de José Dirceu, Dias Toffoli foi aprovado pelo Senado. Como verificamos, de resto, pela última indicação de Dilma Rousseff essa característica do Senado – que por uma série de circunstâncias nos tempos modernos não consegue mais dizer NÃO ao Poder Executivo, mesmo que quem exerça a presidência esteja em situação de grande fraqueza – parece ser irremediável.

           Com conhecimento histórico, Sua Excelência se teria abstido provavelmente de referir o temor da instabilidade por quadriênio.  Porque na República Velha – malgrado os doestos de que foi objeto – tinha mandatos presidenciais de quatro anos. Quando o Primeiro Mandatário assumia, o poder era exercido com autoridade e em plenitude (por vezes, até demais).

            Quanto à extensão do mandato, para seis anos, isso me pareceria uma reedição do México.  O sexênio, por ser um período prolongado, servia bem à corrupção que predominava abaixo do Rio Grande. Nada de democrático existia na prática mexicana, eis que o candidato ungido era destapado pelo Presidente em exercício, que o escolhia em geral dos Secretários do Interior (Gobernación), que nos países ibero-hispânicos quer dizer Ministério da Justiça e das Prisões.

             Está de bom tamanho para a democracia quatro anos, sem reeleição. Se for muito bom, voltará, após transcorrido o seguinte quadriênio.

             Como já dito, são os períodos mais longos que favorecem a corrupção.  A intimidade com o poder faz a autoridade confundir a fazenda pública com a privada. Com a série de vantagens asseguradas aos partidos maiores, a propaganda eleitoral chamada gratuita pode dar uma posição de extremo desfavor para eventuais adversários. Para tanto, um longo predomínio – que chega a lembrar o mexicano – dá posição muito pouco republicana para o partido no poder, com todas as confusões que isso pode provocar.

              Não creio que sejam necessários exemplos mais incisivos pessoais. Aguentamos há muito o façanhudo aparelhamento do Estado, que é feito, como se sabe, às nossas custas, eis que é a conhecida Viúva quem banca as contas.

              Acho que chega.  O Brasil está cansado. É tempo de mudança. Pode ser que assim as coisas melhorem.

               Os tchecos, depois da revolução de veludo ([1]), inventaram um instituto penal chamado lustração (lustratzia). A norma implicava em período de afastamento de autoridade do exercício do poder, com vistas a voltar à vida comum. Na Inglaterra, existe uma punição para os maus alunos, que é o de ficar afastado do currículo, para melhor se conscientizar da necessidade de aprimorar seus estudos. Há também um precedente na Grécia e na Roma antiga, em que o afastamento das funções correspondia a um castigo, para que a pessoa voltasse à vida corrente, como quem retorna às boas fontes.

               Assim, a lustração era uma punição a quem fossem creditados atos antidemocráticos. Esse retorno às origens (à planície da vida corrente) seria modo de reaprendizado para autoridades responsáveis por ato antidemocráticos ou contrários aos interesses do Estado.

                Que tal se a dita lustração fosse aplicada a alguns próceres que se julgam proprietários do Estado e de suas benesses? Não seria para o Brasil uma boa ideia?

 

( Fonte:  O  Globo)



[1] A Lustração, surgida com a revolução de veludo, era um instituto de reeducação de políticos formados na escola soviética. Equivalia a uma volta às origens, assim como as universidades inglesas impunham afastamentos de alunos com más notas, e que equivaliam a uma suspensão para repor em ordem os respectivos estudos.

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