quarta-feira, 1 de julho de 2015

Agora Tsipras quer negociar

                                  

                                     

        Apesar de todas as lanças brandidas nas respectivas muralhas, após o calote da Grécia no FMI, o primeiro ministro  Alexis Tsipras agora sinaliza que está pronto para negociar.

        Com efeito, o governo grego parece estar disposto a aceitar muitas das condições impostas pela União Europeia. Estaria agora inclinado a rever a sua avaliação anterior do ‘pacote’ de salvação,  antes rejeitada. 

         Em carta enviada na terça-feira 30 de junho para os credores – o Banco Central Europeu, o FMI (a quem ontem aplicara um calote[1]) e países da Eurozona -  Tsipras disse que a Grécia ‘está preparada para aceitar’ um acordo divulgado no fim-de-semana pelos credores, a que introduziria pequenas modificações em alguns dos tópicos centrais em litígio, v.g., cortes nas pensões e aumentos de imposto. Além disso, o Primeiro Ministro helênico frisou que o placet grego se conecta com as condições de um novo acordo de ajuda (bailout aid) que precisa ser negociado.

         De acordo com o seu estilo, a Chanceler alemã Angela Merkel – que é sem dúvida a ‘mais amada pelo povo helênico’ – respondeu reiterando a  posição anterior, que não haverá mais negociações antes da realização do referendo deste domingo, quando o eleitorado grego explicitará se está de acordo (SIM) com as condições apresentadas pelos credores ou em desacordo (NÃO). Interpreta-se essa posição dura da Merkel como decorrente da expectativa de muitos líderes europeus de  que a votação referendária poderá ser interpretada como uma censura ao Premier Tsipras.

          As primeiras reações à inesperada mudança de atitude do governo grego se afiguram tentativas e  ultra-cautelosas. No entanto,  por menor que seja o peso da economia helênica, a ruptura sinalizada sempre retira dos baús duendes e atrozes dúvidas, que um acordo tenderia a acalmar. O problema em tais diferendos está sempre nas condições atingidas e nos eventuais ganhos de parte a parte, com os membros mais ricos e poderosos da Comunidade Européia espiando para ver se no caso da pequena República Helênica não estariam urdindo armadilhas em que possíveis acordos poderiam involuir para problemaços, como v.g. a muito endividada Itália. Por isso, a postura da Chanceler de Ferro (título que já foi de Otto von Bismark) tem de ser analisada no largo contexto de quem não pode permitir que a portinha da Grécia possa ser usada por membros de muito maior peso (e consequentes dívidas).

           A dura resposta de Frau Merkel – que foi ecoada pelo seu alter-ego Wolfgang Schäuble (e ministro das Finanças da RFA) – visa a blindar a parte negociadora da U.E.

            A dupla – dentro de postura na aparência inflexível – declara que conversas adicionais serão necessárias antes que um novo programa de assistência possa ser considerado para a Grécia.

              Querendo impor ordem no galinheiro, Merkel-Schäuble assevera:  ‘Não se trata só da Grécia. Precisamos assegurar que a base da confiança do povo na Europa não está completamente destruída. Nós estamos defendendo a Europa’.       

 

( Fonte:  The New York Times )



[1] Seria o primeiro calote sofrido pelo FMI de parte de país desenvolvido. No entanto, a questão se complica um tanto, se perguntarmo-nos se realmente a República Helênica pode ser classificada como ‘país desenvolvido’.

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