sexta-feira, 10 de julho de 2015

Batalhões islâmicos ajudam Ucrânia

                          

         O Ocidente parece muito temer os militantes tchechenos que ora ajudam os ucranianos. Ambos dizem apoiar a causa da Ucrânia contra a invasão imperialista da Rússia de Vladimir Putin.  

        No entanto, há diferenças fundamentais nesse apoio. Assim, para nos determos nos atores mais importantes deste lado da trincheira, seja no que tange ao Presidente Barack Obama e à Chanceler Frau Angela Merkel, sua ajuda utiliza as luvas de estranha moderação. Nesse sentido, valem as sanções tópicas e a assistência humanitária, mas para Kiev está terminantemente excluída artilharia pesada e equipamentos militares de maior porte, mesmo que sejam para dar meios de defesa contra o maciço armamento disponibilizado por gospodin Vladimir Putin aos chamados rebeldes pró-Rússia.

        Quanto à OTAN, que é a expressão do engajamento ocidental em conter a Federação Russa, como o adversário da vez, não há de despertar maior surpresa que venha a seguir essa estranha e farisaica atitude no que tange à qualquer auxílio ao governo de Kiev. Para carregar nas tintas, vem a ser quase cômico que essa Organização do Pacto do Atlântico Norte tenha concedido há pouco ajuda bélica aos pequenos países bálticos e a boa parte do entorno do estrangeiro-próximo, que é o termo empregado pelos russos para designarem àqueles estados que tem o destino de serem fronteiriços com o vasto território moscovita.  Esse auxílio da OTAN consta de tanques e armamento, além de destacamentos militares.

        Dessarte, ficamos entendidos assim: para ameaças não-concretizadas, Washington, através da OTAN, manda demonstrações materiais de postura inequívoca.

        Sem embargo, a mesma firmeza política não é evidenciada para um país que já demonstrou a sua escolha pela aliança com Bruxelas e hoje, sem a menor dúvida, está pagando por tal opção soberana.

        A própria Chanceler Merkel e seu aliado François Hollande não hesitaram em comparecer a Minsk para mais uma renegociação de cessar-fogo que os fatos têm comprovado de apenas  servir ao agressor para efêmera interrupção das hostilidades no auge dos rigores do inverno.

        Seria, na verdade, comovente este apoio ocidental e, em particular,  do maior poder da Comunidade Europeia, se Frau Merkel não dele excluísse qualquer fornecimento de material militar com equipamentos de defesa. Enquanto o Kremlin despeja nas formações de rebeldes separatistas pró-Rússia o próprio equipamento pesado, assim como destacamentos de ‘voluntários russos’ para intervirem quando as forças ucranianas ameaçarem levar de roldão os adversários,  as desfalcadas forças da Ucrânia só devem contar com a ‘simpatia’ da aliança ocidental. Isso recorda a expressão – com ‘amigos’ desse jaez, na verdade o desfalcado exército ucraniano tem de se valer sozinho...

        Se a política ocidental parecer contraditória sendo a Organização da Aliança do Atlântico Norte instrumento do poder da Superpotência, na verdade os fatos têm demonstrado que ela não o é. Enquanto a ameaça não se concretiza, ela ruge como um leão. Contudo, se o inimigo ataca, como no caso da Ucrânia, tal política se limitará a sanções tópicas  e a assinaturas de documentos tão vazios quanto os antes firmados por líderes ocidentais para encobrir o apaziguamento do nazi-fascismo.

           Nesse contexto, a oferta dos Tchechenos deve  ser saudada com a boa-vontade    evidenciada quando um país assediado recebe o apoio não formal mas efetivo de forças que vem lutar contra o inimigo comum.

           É decerto imoral esta hipocrisia ocidental de virar a cara para o outro lado, e fingir que se trata apenas de  questão a ser resolvida pelo ‘corrupto exército ucraniano’.            

           Mariupol, um porto estratégico e um centro industrial de relevância, é a batalha da vez. Na escandalosa disparidade de forças e sobretudo de aliados, enquanto a rede ferroviária trabalha à noite para o fornecimento de material bélico russo para as ‘forças separatistas’ – e imagens de um drone ucraniano escancaram  a concentração de equipamento pesado (tanques e morteiros), tudo se faz para apoderar-se dessa cidade.

           Assinale-se que a Chanceler alemã terá mostrado a sua preocupação e mesmo irritação com o propósito dos tais rebeldes separatistas (essa folha de figueira para o invasor russo), a ponto de haver supostamente declarado: ‘Mariupol, não!’

           O futuro dirá se com a ajuda solitária dos três batalhões islâmicos, com os temidos tchechenos, e do exército ucraniano, desfalcado e desmerecido como corrupto, será possível conter essa invasão descarada de um regime autoritário como o é o presidido por Vladimir Putin e sua camarilha. Segundo consta do artigo de Andrew E. Kramer, do New York Times, esses três batalhões são o Dzhokhar Dudayev e o Xeque Mansur, da Tchetchênia, e o Crimeia, formado por tártaros da Crimeia. Eles acorrem a essa anunciada batalha tangidos pelo velho princípio ‘o inimigo do meu inimigo é meu amigo’.

          

     ( Fonte: The New York Times )

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