domingo, 12 de julho de 2015

Relatório do Senado sobre CIA e Tortura

                         

          O relatório do Senado Federal sobre a CIA (Central Intelligence Agency) e a Tortura, aos cuidados do Comitê Senatorial de Inteligência, então sob a presidência de Diane Feinstein (Dem/Cal), foi ultimado poucos dias antes de que o Partido Republicano assumisse a direção do Senado, pela sua vitória nas eleições intermediárias de novembro de 2014.

          Havia a consciência na bancada democrata de que, se não fosse agilizada a sua publicação ainda sob a direção de Senador Harry Reid (Dem/Ariz), em futuro previsível não viria a público esse importante trabalho que expõe o papel da CIA na viabilização da tortura, explicitados os inúmeros episódios da aplicação das enhanced sessions[1] of interrogation.

          Com justiça, a Senadora Feinstein considera a sua realização e publicação, como uma de suas principais – senão a principal – contribuições para que seja conhecida, em todos os seus principais detalhes, a responsabilidade da CIA e de muitos de seus agentes na implementação desse sinistro propósito.

          Feitas – e negociadas – as modificações necessárias nesse relatório do Comitê de Inteligência do Senado, sob a direção da Senadora Diane Feinstein, pode ser publicado um relato completo sobre a utilização da tortura durante a Administração de George Bush Jr. (2001-2009).

           Havia um grande número de pessoas – sobretudo agentes e analistas da CIA –interessadas em que a maior parte do relatório não viesse a lume. Feinstein e seu staff tiveram um árduo trabalho em preservar a maior parte possível da transcrição das ações da CIA.

            O próprio novo Diretor da CIA, John Brennan, nomeado pelo Presidente Barack Obama, a 8 de março de 2013,  representou um sério obstáculo para o desígnio da Senadora Presidente do Comitê de Inteligência do Senado de que se publicasse tudo o que fosse pertinente ao tema e não apresentasse risco para a segurança nacional. Tinha uma postura bastante corporativista quanto à atuação, na Administração Bush Jr., da CIA no que tange ao capítulo das famigeradas enhanced sessions (sessões incrementadas) de interrogatório, o que na verdade representava tortura.

             Vários procedimentos que no tempo de Bush se fizeram passar como interrogatórios mais intensos, não passavam, na realidade, de exercícios de tortura. Houve prisioneiros, em especial aqueles acreditados enquanto de maior relevância estratégica, como, v.g., aquele que fora o estrategista do ataque às Torres Gêmeas do World Trade Center (Centro de Comércio Mundial), a que foram aplicadas várias centenas de sessões das ditas enhanced (incrementadas), o que não passava da mais deslavada tortura (tal incluía o confinamento em lugares muito acanhados, em que se recorria à claustrofobia; a privação do sono e o chamado waterboarding, que é uma simulação de afogamento).

             O Chefe da CIA tentou redact (na prática, apagar) muitas das menções à tortura feita pela CIA, com o que a presidente do Comitê de Inteligência do Senado não poderia por certo concordar. Foi graças à persistência, competência, diplomacia, habilidade e firmeza que a Senadora pela Califórnia logrou levar o cabo a própria missão. Como o Senado é uma instituição em que para esse gênero de trabalho a regra do consenso constitui a orientação básica, entende-se o esforço, a habilidade, mas também a firmeza indispensável para a implementação da norma de disponibilizar para o público todo o contexto que deva ser disponibilizado em versão  a ser impressa para conhecimento público.

                 A missão da Senadora Feinstein se orientava pela ampla publicação do relatório, sob a premissa de que tal seria adequado publicar para o conhecimento do Povo Americano. Por isso trabalhou para preservar o texto das inúmeras tentativas de redacting de partidários da CIA. Por força dessa luta, que teve de lidar com intervenções até da Administração Obama e emendas de iniciativa de John Brennan, o já referido novo chefe da CIA, logrou-se disponibilizar para o Povo Americano, com intuito de que tais práticas jamais se repetissem,   texto com milhares de páginas.

                  Foi sob esse fanal – publicar o antes impublicável, para melhor informar o Povo Americano, com o intuito  sobretudo de contribuir pelo conhecimento para que tais práticas jamais se repetissem nos Estados Unidos da América.

                 Além dos prazos de vencimento – na prática, a vitória do Partido Republicano nas eleições parlamentares de novembro de 2014, que devolvia a maioria para o GOP no Senado, colocava inabalável limite para o âmbito de ação da Senadora Feinstein. No começo de janeiro, no carrossel político, era a vez do Senador pelo Kentucky, o republicano Mitch McConnell ser o lider da Maioria, e o Senador Richard Burr, da Carolina do Norte, ser o novo presidente do Comitê de Inteligência, com Diane Feinstein, a vice-presidente.

                  Dentre os republicanos, o Senador John McCain – que experimentou a tortura quando prisioneiro do Viet-Nam do Norte – esteve entre os mais válidos apoiadores do relatório Feinstein, combatendo inclusive as tentativas corporativistas da CIA de apagar ou dar a  versão mais sumária possível de sua pró-ativa participação nas denominadas enhanced interrogation sessions durante a Administração George W. Bush.

 

( Fonte:  The New Yorker )



[1] Sessões incrementadas, o eufemismo na Administração Bush para apresentar como interrogatório mais intenso, o que na verdade não passava de tortura.

Nenhum comentário: