sexta-feira, 24 de julho de 2015

Cenário Econômico Ruim

                                    

         Para bem entender o que está ocorrendo com a economia brasileira, precisamos ter em mente uma série de fatos incômodos, negativos, mas infelizmente verazes.

         O erro primitivo - e o que se acha na base de tudo - está na escolha por Lula da Silva de sua chefa de gabinete Dilma Rousseff para sucedê-lo. Infelizmente, o nível do eleitorado brasileiro, sobretudo aquele ao norte, não tem o discernimento e a liberdade de escolha própria dos países mais desenvolvidos.

         Foi tendo presente essa precondição, que chamei o Presidente Lula de Coronelão, eis que agiu com a mesma desenvoltura de os Chefes políticos do Nordeste. Como no antigo ritual mexicano – hoje superado porque lá não mais existe o predomínio absoluto do antigo Partido Revolucionário Institucional (PRI) – Lula ‘destapou’ a sua preferida, que, dentre os quadros do Partido dos Trabalhadores, não era decerto a mais preparada. A sua decisão se deveu exclusivamente a interesse pessoal, eis que contava com isso assegurar a própria volta já na eleição de 2010.

         Lula terá sido advertido de que poderia melhor escolher, mas optou por ir em frente, sob a premissa de que voltaria ao poder em 2011. Se as objeções tinham peso, ele não computou devidamente a influência de Presidente em exercício. Assim, a força do cargo, apesar de dados negativos já existentes (os quais, junto com o escândalo do Petrolão, viriam à tona com mais força depois da reeleição de Dilma), afastou, com surpreendente facilidade, a pretensão da maior figura do Partido.

         O estelionato eleitoral  funcionou primo para afastar Marina,  a candidata que o PT mais teme, e, em seguida, para vencer, ainda que por pequena margem o adversário Aécio Neves, no segundo turno e seria descoberto pós-pleito, com a consequente desestabilização da reeleita Presidenta, e a sua vertiginosa queda nas preferências de ulteriores pesquisas, até chegar à casa de um dígito.

         Essa casa, pela fraqueza de seus alicerces, está exposta a toda espécie de intempérie, a fortiori pela compreensível revolta do Povão em ter sido iludido  por dona Dilma e o feiticeiro João Santana.

         A quadra atravessada pelo Brasil seria ruim sem circunstâncias mitigantes, se o cenário atual se confinasse ao Dilma II e ao incrível Congresso eleito nos últimos comícios. Por outro lado, o Supremo Tribunal Federal, com a partida infelizmente antecipada de Joaquim Barbosa, e de suas últimas aquisições, não inspira grandes esperanças, com a Presidência de Ricardo Lewandowski, e a inflacionária proposta de aumento dos vencimentos da Magistratura.

         Nesse quadro, a presença do Ministro Joaquim Levy na Fazenda, se depara com enormes obstáculos que para resumir se cingem ao Dilma I (ou a herança maldita de péssima gestão sobretudo nas finanças públicas) e ao Congresso atual, com chefias que têm suas próprias agendas (que não são decerto as da Nação).

          O Ajuste Fiscal tem sido a vítima da vez. As causas do descalabro são demasiado evidentes: a incrível fraqueza do Poder da Presidente, incapaz de controlar a maioria que foi eleita junto com ela, mas que pelo seu interveniente enfraquecimento e a singular incompetência do principal auxiliar dela para coordenar as bancadas que nominalmente deveriam apoiá-la, está produzindo criaturas com um misto de demagogia e de irrealismo econômico financeiro. Assim, o Ministro Levy assiste, impotente, ao Ajuste Fiscal ser quase transformado pelo Congresso em bebê de Rosemary.

            Dilma foi buscar um bom quadro, que em ambiente de sanidade político-econômica principiaria a consertar as loucuras do Dilma I, que, infelizmente, estão na raiz de todo o drama (que pode transformar-se em tragédia).

             Defronte de uma realidade adversa, o Ministro da Fazenda tem feito o seu papel, com a habitual dignidade e eficiência. Mas ele não pode fazer milagres.

             Com a recessão a pleno vapor, as notícias são ruins e prometem assim continuar. Dessarte, o rendimento real do brasileiro,  descontada a inflação, caíu de 2,1% de janeiro a junho em relação ao mesmo período de 2014 (pior semestre desde 2004!); o número de desempregados cresceu 45%, involuindo para 1,7 milhão. Este maior desemprego, com a renda encerrando o ano  em baixa de 4%.

             Como sói ocorrer em tais circunstâncias, o desemprego será sempre maior entre os mais jovens (de 18 a 24 anos). Essa faixa menos experiente deu um salto em um ano de 12,3% para 17,1%. Além disso, o número total de desocupados subiu 44,9% para 1,7 milhão. São as crias da irresponsabilidade fiscal de Dilma Rousseff em seu primeiro mandato, com os erros na energia (o ‘presente’ de subsídio na conta elétrica) e na economia em geral, com as renúncias fiscais nos impostos dos carros (favorecendo as ‘feitorias’, na verdade as sucursais estrangeiras da empresa automobilística infelizmente desnacionalizada há muito tempo atrás). Tampouco a inflação – que dona Dilma também trouxe de volta – anima, com 10% no Rio de Janeiro, o que é uma volta aos dois dígitos que nos relembra um tempo que pensávamos vencido com o Plano Real.

              A decisão do Governo Dilma de redimensionar o ajuste fiscal, com a  renúncia na prática deste ano de realizar  qualquer superávit fiscal representa um senhor balde de água fria. O mercado, como de hábito, reagiu com o incremento da cotação do dólar tanto de turismo (R$ 3,76), quanto o comercial  (R$ 3,296).

              E em tempos maus,  os mouros na costa aumentam. A agência Fitch, de classificação de risco, indica que a nova meta fiscal terá influência negativa na nota de crédito do Brasil (se a divida bruta aumenta, e o superávit fiscal é baixo ou inexistente, a conclusão da Fitch semelha previsível).

             Como se tal não bastasse, encaminha-se o julgamento pelo Tribunal de Contas da União, das contas do ano passado do Dilma I. Ao contrário de o que noticia O Globo, o TCU nunca rejeitou contas de Presidente em funções. Há portanto uma tradição que sinaliza para a aprovação, com observações eventualmente negativas.

             Sem embargo, o relator do processo das chamadas ‘Pedaladas Fiscais’, o Ministro Augusto Nardes, tem dado algumas sinalizações negativas, o que poderia significar recomendação de rejeição. Mas aí entram os demais ministros, com uns votando a favor de Dilma, e outros, contra.  Esse cômputo só se saberá, uma vez concluído.  Dada a realidade política, os diversos fatores em jogo – de uma parte os ministros governistas, de outra os que se alinhariam ao voto contrário – nos levam à conclusão de que tudo pode acontecer...

 

( Fontes:  O  Globo; Folha de S.Paulo )

     

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