quarta-feira, 1 de julho de 2015

Dilma e a Idade Média


                                        

         A espontaneidade pode ser uma qualidade, mas – se as instruções viessem no rótulo – as declarações de D. Dilma nos Estados Unidos podem constituir alimento para reflexão.

         Nem tudo é para ser respondido de bate-pronto, pois nem todas as questões são tão simples quanto parecem, e a palavra de uma presidente é acompanhada por muita gente.

         Eleita por 54,5 milhões (51,64%) de brasileiros e em segundo mandato, contra o antagonista Aécio Neves (51,041 milhões e 48,36%) por um conjunto infeliz de circunstâncias, os píncaros em que foi colocada pelo eleitorado no segundo turno iriam desaparecer do quadro, eis que agora o seu maior temor veio a concretizar-se.

          Não se trata de que haja sido aberto processo de impeachment contra a candidata petista. Apesar de falar-se muito dele, essa projeção resta por ora apenas uma possibilidade. Não faltam questões pendentes, mas nenhuma delas por ora configura o que é o pesadelo de todo presidente em exercício.

          Sem embargo, a popularidade de Dilma Rousseff, no seu por ora infeliz segundo mandato, continua a cair. A propósito da mais recente pesquisa do Datafolha se expressara que grande temor do entorno do Palácio do Planalto seria de que a sua popularidade caísse abaixo de dez %. Foi, por isso, ouvido metaforicamente o alívio de sua entourage que a avaliação positiva batesse em dez por cento no citado Datafolha.

          Mas o velho IBOPE, cuja pesquisa vem atrás alguns dias do Datafolha, veio mostrar o que a turma da Presidenta já temia.  Agora, nem 10% do eleitorado a avalia positivamente. A sua popularidade (quem acha bom o seu desempenho no cargo) mergulha nos baixios de nove por cento, o que para presidente que apenas inicia o segundo semestre do primeiro ano pós-reeleição não é decerto uma boa nova.

           Talvez o seu encontro com o Presidente americano, Barack Obama, e a corrente positiva que dessa viagem possa resultar venha aumentar-lhe um pouco a popularidade, mas visitas presidenciais, com poucas exceções, não costumam realizar tais influxos, excluídas as exceções cabíveis.

            Entrementes, as assertivas de Dilma continuam pipocando. Comentando a situação de Aloizio Mercadante e Edinho Silva, ambos ministros da Casa, citados por Ricardo Pessoa em delação premiada, a Presidenta afirmou: acusar sem provas “é um tanto de Idade Média”.

            Dilma deveria atualizar suas leituras. Já foi o tempo em que a Idade Média era considerada como um longo período de trevas entre a Antiguidade Tardia e a Renascença.

             Hoje e não só nas Europas pululam os medievalistas. Foi um longo período em que a cultura da Humanidade ficou não só por conta da Igreja, mas também das confrarias. As primeiras universidades aparecem (Paris e Oxford) enquanto nos mosteiros se preservam através dos copistas as principais obras da Idade de Ouro.

             A principal instituição na Idade Média foi o Papado. Nesse período a ascendência dos Sumos Pontífices chega a seu ápice quando do embate entre Gregório VII e o Imperador Henrique IV, do Sacro Romano Império, em que este último teve de fazer penitência em Canossa, para ser readmitido e perdoado pelo Papa, e assim recuperar as suas reais funções. Ao desrespeitar as determinações pontifícias na querela das investiduras, Henrique IV tivera negado os sacramentos e o acesso às igrejas. Somente indo até Canossa, na Itália, e envergando as roupas de penitente, é que o Imperador foi readmitido no seio da Igreja. Esse episódio célebre reflete o então poder teocrático, e a submissão respectiva do soberano temporal.

               Mas a Idade Média, que se estende do século V d.C., após a queda do Império Romano do Ocidente, e vai até 1453, a data da conquista pelo poder muçulmano de Constantinopla, capital do Império Romano/bizantino, não é o longo domínio das trevas e da ignorância dos bárbaros. É período assaz alentado em que o legado do Império romano do Ocidente não só é mantido, mas também desenvolvido. Indicações várias dos desafios enfrentados pelo Medievo e a cultura desta época estão no livro de Umberto Eco, Il nome de la Rosa, que além de best-seller internacional, pode servir de relato descritivo da cultura medieval e dos seus desvãos.

                Entre as grandes personalidades da Idade Média, as maiores são (Poesia) Dante Alighieri (Florença), Petrarca (Arezzo) e Chaucer, na Inglaterra; Bocácio, italiano, Decameron (Prosa);  (Pintura) Giotto (Florença); (Filosofia), S. Tomás de Aquino , frei Roger Bacon (Inglaterra); Marco Polo (Veneza) viagens a China; S. Francisco de Assis (Religião); Arquitetura gótica (Catedral de Chartres).

                Por conseguinte, a idéia que, pelo visto até hoje persiste, de que a Idade Média tenha sido uma longa noite caída sobre a Europa, não passa de uma falácia.

 

(Fontes: O Globo; Enciclopédia Britânica (1973); Nouveau Larousse Illustré (1952) )

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