quarta-feira, 8 de julho de 2015

Que fazer do 7x1 ?

                                

         O caderno esporte da Folha de hoje nos traz três opiniões sobre a semifinal Brasil x Alemanha, jogada na tarde de terça-feira, oito de julho de 2014, no novo estádio do Mineirão, em Belo Horizonte. Além de mestre Tostão, comparecem Juca Kfouri e Paulo Vinicius Coelho.

         Para Tostão, de lá para cá, um ano perdido. ‘Passado um ano do vexame, o futebol brasileiro está no mesmo lugar, sem identidade, perdido’. Juca Kfouri escreve: ‘Parece que foi ontem e jamais será esquecido. Não como o luto de 1950, mas como o vexame de 2014’. E a palavra vexame, colada ao evento, volta com Paulo Vinícius Coelho: ‘Há um ano, o Brasil passou o maior vexame de sua história e até hoje busca a explicação.(...) ‘Está com todo mundo com medo de ser Barbosa’, disse o zagueiro campeão mundial Márcio Santos, logo depois de o Brasil passar raspando pelo Chile, nas oitavas de final. Era visível o abalo emocional da seleção, que jogava em casa 64 anos depois do Maracanazo.’(...) Melhorou contra a Colômbia, fez 60 minutos de bom futebol e, então, perdeu Neymar, seu craque e seu capitão, contra a Alemanha.’

         Com Brasil 1 x 7 Alemanha, a seleção canarinho recuou aos anos vinte do século passado. Quando perdia de goleada e não  deixava rastro. Éramos ainda carne de canhão para Uruguai e Argentina.  Começamos a brilhar nos anos trinta, com Domingos da Guia e Leônidas, que inventou a bicicleta no futebol. Em 1938, tiramos o terceiro lugar, com a cabeça erguida.

         Depois da pausa da II Guerra Mundial, organizamos o mundial de 1950. Assisti com meu tio Brasil 2x0 Yugoslávia, em um Maracanã oficialmente inaugurado mas ainda com andaimes, e etc. Já o menino teve a alegria de ver o gol de sem-pulo de Ademir.

         Entramos no turno final, quatro equipes (Suécia, Espanha, Uruguai e Brasil).  Começamos com duas goleadas – 7x1 na Suécia, 6x1 na Espanha. Aí veio a final com o Uruguai em que podíamos até empatar. Ah, a falsa vantagem do empate... Primeiro tempo, 0x0.  Segundo tempo,  Friaça, o ponta-direita que substituía o titular contundido Tesourinha, fez 1x0, aos cinco minutos. Aos dezesseis, no entanto, o meia Schiaffino empatou: 1x1.

         O Maracanã nunca estaria tão hiper-lotado, quanto naquela jornada. Pelo menos 220 mil torcedores, alegres, felizes, certos de que o caneco era nosso. Aos 36, o ponta-direita Ghiggia passa pelo seu marcador (o lateral-esquerdo Bigode, do Flamengo) e chuta de forma despretensiosa. E não é que para nossa eterna infelicidade, a pelota passa por baixo da barriga de Barbosa, o goleiro titular da seleção? Tecnicamente talvez não dava para considerar ‘frango’, mas a impressão que se tem é que Barbosa poderia ter defendido. E para sua vitalícia infelicidade, esse grande goal-keeper ficaria com essa mancha, ter ‘aceitado’ o chute do ponta, e com isso surgiu depois a palavra feia – Maracanazo.

         Depois, os campeonatos mundiais vieram: Suécia (1958),  Chile (1962), México (1970) com talvez a nossa melhor seleção de todos os tempos, Estados Unidos (1994), quiçá o desempenho menos brilhante, mas a vitória, mercê da cortesia de Baggio, nos penaltis, e, por fim, o penta!, com o qual estamos engasgados até hoje, conquistado no Japão, e logo para cima da Alemanha, por 2x0!, com louvores para Ronaldo fenômeno e Rivaldo.

         Desde então, colecionamos fracassos, com a derrota para a França, por 3x0, com o mal-estar de Ronaldo-fenômeno. Voltando a Copa do Mundo ao Brasil, em 2014, com toda a gastança determinada por Herr Blatter. (que resolveu aferrar-se à presidência da FIFA, a despeito de todos os escândalos).

         Com os 7x1, o panache se foi. O scratch canarinho precisa de muitos grandes jogos e campeonatos para jogar esse fiasco na lata de lixo da história.  O diabo que, por muito tempo, lá estará com muita gente pronta a recordar-nos desta vergonha nacional.

          Esse 7x1 pesa. A seleção de Felipão tinha como craque só o Neymar. Dos tempos do Santos, o Ganso era considerado em nível  próximo do Neymar. E, no entanto, recuperado das contusões e distensões, Felipão nunca sequer considerou o Ganso. E era o que nos faltava: tínhamos volantes, tanques como o Hulk, mas não tínhamos um meia-armador clássico.  Recordam-se da perene dificuldade então presente em todos os jogos em passar a bola da defesa para o ataque?

           A Alemanha penou para ganhar da limitada Argélia. O que o time argelino possuía era disposição, coragem e unidade tática, pois eles tinham um bom técnico. Que em minutos sacudiu a arrogância teutônica, com ataques pelas pontas que levavam perigo. E o placar de Alemanha x Argélia ficou em 2x1...

            Como o Brasileirão tem mostrado,  os bons técnicos estão fazendo falta no Brasil. Vocês se lembram da cara do Felipão, quando os alemães fizeram 4x0 em poucos minutos? Recordem-se quem não estava nesse dia: além do Neymar, machucado por um golpe desleal, também o Tiago Silva, capitão do time e um grande beque, fora suspenso por um cartão amarelo aplicado de forma bastante duvidosa. Para o Brucutu que quase aleija o Neymar, Sua Senhoria sequer  fez advertência...

          O Brasil precisa de muitas coisas para virar essa página.  Primeiro, uma refundação dos órgãos de futebol em nossa terra. Não dá para ficar tendo gente como Marco Polo   Del Nero, cria de José  Maria Marin e Ricardo Teixeira.  O futebol é importante demais para o Brasil, para que ele fique como está hoje ao deus dará.  E o nosso potencial continua se não ótimo, pelo menos muito bom. É preciso, no entanto, controlar melhor a saída do Brasil de jogadores muito tenros ainda, jovens demais para dependerem dos empresários. Carecemos também de bons técnicos, de gente mais atualizada e que acredite em organização e planejamento. Tipos como Felipão e sobretudo Dunga devem ceder  o lugar a gente mais jovem, que acredite em um futebol que concilie o estro, a classe do jogador brasileiro, com uma programação séria. Chega de improviso!

           Não faltaram avisos para a seleção quanto à equipe time germânica. Será que o Felipão não viu a maneira com que o ataque alemão triturou Portugal, também com quatro gols em poucos minutos? Viram como ficou a nossa defesa, depois do primeiro gol? Pobres, perdidas moscas tontas, que sequer defendiam, como se estivessem atordoados.

           E ao olhar para o banco e enxergar a cara do Felipão era ver o espelho do atarantamento dos jogadores.  Que mais pareciam um time de várzea levando boa tunda de atletas profissionais  que faziam os gols quando e como bem queriam...

           O oito de julho de 2014 não é um dia para esquecer.  Carecemos de recordá-lo, para que nunca mais um adversário tenha pena de nós, e resolva baixar um tantinho o nível, para nos poupar por piedade a fim de não agravar  ainda mais o VEXAME.

 

( Fonte: Folha de S. Paulo )        

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