quarta-feira, 8 de julho de 2015

Pedro tinha razão

                                             

        Quero crer que os meus leitores se recordarão das Cartas ao Amigo Ausente, homenagem por mim prestada neste blog, a propósito da partida, infelizmente definitiva, do grande amigo e colega Pedro Carlos Neves da Rocha.

        Nessa série em correspondência, que comecei a escrever ainda em Atenas, na qual busco lidar com o luto pela sua saída à francesa da existência – porque se houvesse solicitado licença aos amigos, não a teria recebido – bem me recordo haver assinalado que, em tempos de admiração e quase idolatria ao líder do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva, Pedro nunca aderiu ao então imenso cordão de quem se propunha a nele votar no primeiro pleito do século XXI.

        A grande maioria da Nação achava que Lula merecia-lhe a confiança, após os três pleitos em que fora derrotado por Fernando Collor de Mello (1989) e Fernando Henrique Cardoso (1994 e 1998).  No entender da maioria da Nação, Lula já havia completado o seu duro aprendizado e mereceria a presidência.

       A despeito de nossas instâncias – de Augusto Rezende e minhas – Pedro sempre se negou a engrossar esse cordão, e a sua argumentação era simples, e para nós, na época, parecia demasiado simples. Pedro dizia que para tão alto posto, preferia sufragar quem tivesse curso superior completo. Então, não compreendíamos tal postura. Mais tarde, sem embargo, eu entenderia o alcance da restrição posta por meu velho amigo. E tendo presentes os fastos da Administração petista, acrescida agora de tantas outras ocorrências, para mim, hoje, se me afigura muito difícil  asseverar que Pedro não tinha razão, que era preconceituoso, etc. e tal...

        Por isso, o que na época nos parecia – ao Rezende e a mim – como simples e, no capítulo, descabido preconceito, surge agora de modo muito diferente.

        E estou mais do que certo que o meu grande amigo concordaria comigo, e como era de seu feitio, não tentaria carregar nas tintas, e gabar-se da acertada e fundada previsão. Ele não viveria para presenciar os grandes erros e os crimes do regime petista, embora em 2006 já se entremostrassem alguns.

        O primeiro deles, o Mensalão, já estourara. Quem não se recorda do filmete do diretor corrupto dos correios, embolsando negligente uma propina de três mil reais?  A partida estrepitosa da Casa Civil de José Dirceu e falando em discurso de despedida do seu governo dele! E o pedido de desculpas à Nação do grande líder, de quem a esposa tratara de obter passaporte italiano?

        Nada disso deteve a vaga do PT, como se fora a nave do futuro. A ponto de que em 2010, por inépcia tucana e do próprio candidato José Serra – que, a princípio, julgara até oportuno ligar o seu vagão à locomotiva petista – não é que, com relativa facilidade, o torneiro mecânico, ora estadista, emplacou a sua moça de algibeira, que nunca antes concorrera a pleito algum – e chamada nas imensas plagas do Bolsa Família de A mulher do Lula –ela mesmo, Dilma Rousseff.

        Pela esperteza canhestra de Lula da Silva – o qual apesar de advertido por figurões do PT – achou boa a jogada de elegê-la, de modo a ter maior liberdade (e arbítrio) se desejasse voltar já em 2014. Todos sabemos – até mesmo o personagem da Velhinha de Taubaté – como isso terminou, com o estelionato eleitoral dos últimos comícios, não sem a destruição prévia da reconhecida maior ameaça, que era e é Marina Silva.

          Esta, do primeiro para o segundo turno, foi destruída por mentiras e calúnias que não podiam ser respondidas dado o aparelhamento do sistema. Conseguiram, dessa forma, afastá-la do turno decisivo. Não se tenha qualquer dúvida, de resto, que o PT teme mais  Marina do que Aécio, porque nela reconhece a opositora de caráter, que não nega a própria identidade com o povo, de quem é a imagem verdadeira, sem arrivismos, da militante honesta e sem manchas.

          A sabedoria popular reza que a mentira tem as pernas curtas.  Da dílmica empáfia dos debates de primeiro turno e das escrachadas mentiras do segundo, e na qual os efeitos do Petrolão apenas se entreviam, nunca na história republicana houve um desmoronamento tão óbvio quanto se deparou para o Povão, em que as arrogantes lorotas da propaganda oficial não mais se sustentavam,  e a Verdade vinha cobrar a sua libra de carne, que lhe fora denegada pelas astúcias de curto pavio de mestre João Santana, assim como o portentoso 171 que, com arrogante descaramento,  passara esse conto do vigário ao eleitorado.

            Que a despudorada velhacaria petista iria desabar sobre a candidata já era mais do que provável, com tal amontoado de tretas e mutretas. Contudo, surpreenderia a sua força, que ora se reflete no pífio guincho de nove por cento de aprovação. Se isto não é a antecâmara do impeachment, como semelha crer esse mago que vem às carreiras pensando tudo resolver com mais um filmete para dar o dito por não dito, e tudo ‘explicar’ para  o que pensa crédulo povão.

              A Presidente não é do ramo. Por isso, e de acordo com muitos de seus correligionários, carrega nas tintas, e como o general Figueiredo, tenta ‘recrudescer’. Por outro lado, além de exagerar no tom – como pareceu até a políticos do seu partido – ela tenta inibir a ação dos Tribunais (o TCU, nas pedaladas, e o TSE, nas contas eleitorais mal-explicadas).

              O PT está chamando de ‘golpe’ o discurso do PSDB. Para José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, Aécio seria o “porta-voz do golpe”.

              A principal – e mais pesada – acusação de forças políticas é a de Dilma adotar atitude “imperial” e de tentar “constranger” instituições que estão conduzindo investigações sobre as suas contas (Tribunal Contas da União) e sua campanha à reeleição (Tribunal Superior Eleitoral). Enquanto as pedaladas já são de domínio público, o são menos as contas da eleição.

               Nesse contexto, Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, disse ver a petista fragilizada. Rebateu a sua increpação de que os rivais tem ‘posição golpista’: “Discurso golpista é o do PT, que não reconhece os instrumentos de fiscalização e de representação da sociedade.”

               Se o retrospecto das  duas instituições não assegura o que vá ser produzido, dados os antecedentes e a constituição respectiva, há outros fatores em jogo – dos quais não é dos menores o sentir da sociedade – e, por isso, uma vez mais seria imprudente vaticinar o que vá sair de juízes e tribunais, que decerto julgarão pelos autos. Resta saber o quê, em meio aos clamores da sociedade, lograrão neles ver para fundamentar os respectivos juízos.

( Fontes:  O  Globo, Folha de S. Paulo )

Nenhum comentário: