A despeito dos desmentidos rituais, o Partido dos Trabalhadores continua a reincidir em propósitos que têm mais a ver com o autoritarismo e o neopopulismo já anteriormente demonstrado, seja em arreganhos do primeiro mandato de Lula, seja na trapalhada do programa nacional de direitos humanos, seja no próprio programa de governo de Dilma. Tal característica marcante ressalta claramente da apresentação ao Tribunal Superior Eleitoral, na segunda-feira, do programa de Dilma Rousseff, e a sua apressada modificação no dia seguinte, diante das reações desfavoráveis (a candidata disse que assinara sem ler, o que se me afigura desde já um mau precedente).
Dessarte, e à reboque do chavismo e da sucursal peronista, persiste o desígnio de interferir com a liberdade de imprensa. Não obstante haver sido declarada como cláusula pétrea pelo Supremo Tribunal Federal, o P.T. não se conforma com a suposta existência de ‘cadeias de rádio e televisão em geral pouco afeitas à qualidade, ao pluralismo e ao debate democrático’. Nesse aspecto, sem embargo de tê-la modificado na proposta emendada, tal não significa que o novo venha desmentir o menos novo. Através da ampliação e do detalhamento, o objetivo mais parece dissimular do que corrigir os intúitos autoritários de interferir com a liberdade de informação e discussão, do que propriamente de conviver com o debate democrático.
Sob o pretexto de, em país onde a carga tributária cresce de forma proposital e vegetativa, já tocando os 40% e quiçá mais, sem que o contribuinte distinga válidas contrapartidas em saúde, educação, segurança e infraestrutura de transportes, para nos quedarmos nos fundamentos, o programa de Dilma nos fala de mais um imposto, que visaria às grandes fortunas. Sem discutir da justificação ou não de tal meta tributária, diante da derramada corrupção, do desperdício e da iniquidade na determinação dos salários, em que ascensoristas recebem mais do que professores, na plataforma partidária se entrevê mais demagogia do que seriedade. Em outras palavras, através de tais propostas não há intuito de erigir um sistema fiscal e tributário que ambicione ser base de um Brasil mais justo e egualitário. Aí se vêem apenas empreguismo e clientelismo fantasiados de programa governamental.
Quanto à alegada seara da reforma agrária, se se recua na proposição que criminaliza invasões de terra pelos movimentos sociais (leia-se MST), e do intentado modelo que estipula audiência pública prévia ao julgamento da liminar de reintegração de posse (no que se reexumou a disposição do PNDH-3), continua a proposta de “intensificar e aprimorar a reforma agrária, de modo a dar centralidade ao programa na estratégia de desenvolvimento sustentável do país, com a garantia do cumprimento integral da função social da propriedade”. Pelo visto, o documento ganha em habilidade discursiva e se torna menos explícito nas medidas de implementação, sem que tal implique na revogação do recurso a tais meios.
Por fim, a redução da jornada de trabalho para quarenta horas, sem redução de salários, uma reivindicação do peleguismo de frentes sindicais engordadas com as benesses públicas, ela não aparece no programa revisto.
Se o eleitor não deve desconhecer o pouco apreço que os partidos evidenciam pelas respectivas plataformas de governo, e tal fenômeno decerto não se circunscreve ao Brasil, inquieta deveras que as metas do PT e da candidata que lhe foi imposta por Lula tratem mais de aumento de impostos e de tentativas de interferir com direitos garantidos por cláusulas pétreas da Constituição, como o direito à liberdade de informação.
Não se pensa em tornar a vida do brasileiro mais saudável e segura ? Em privilegiar a educação e, dessa maneira, assegurar-nos um desenvolvimento econômico em padrões da China e da Índia, e não patinarmos na estagnação de quarto mundo ? Em conceder ao brasileiro, pobre ou rico, melhores condições de transporte, seja urbano, seja interurbano, seja por via terreste, aérea ou aquática ?
( Fonte: O Globo )
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Uma análise cristalina de mais esse imbróglio. O que dizer de uma agremiação que não controla/se importa sequer o que vai em suas plataformas mais básicas apresentadas à sociedade? Na verdade temos aqui uma nova Rosinha Garotinho, agora federal, com programa tão "sólido" (e ao mesmo tempo claro em suas inconfessáveis intenções) quanto a outra. Enquanto uma pilhou o presente do Rio a nova visa sequestrar o futuro do país.
Postar um comentário