sexta-feira, 16 de julho de 2010

Negócios da China ?

Não mais se contesta da República Popular da China a respectiva pujança econômico-financeira, assinalada não só por seu grande e acumulado superavit da balança comercial, como pela consequente posição de grande credora do déficit da superpotência, mas também por sua atual colocação como terceira – às vésperas de se tornar a segunda – grande potência econômica mundial.
A decenal estagnação da economia japonesa facilitará decerto a sua ultrapassagem pelo gigante chinês, cuja presença geopolítica não cessa de avultar-se, como este blog tem indicado em mais de uma oportunidade.
Existem, no entanto, no cenário do antigo Império do Meio fenômenos que vez por outra motivam artigos na imprensa internacional, com visões não tão róseas da progressão chinesa, e das potenciais dúvidas suscitadas por análise mais detida e abrangente da realidade desse país que se prefigura como o principal desafiante da superpotência no século XXI.
Ocupara-me em sete de março de 2010 do mercado imobiliário chinês e dos indícios de desenfreada especulação, configurando o que tem sido descrito, em fenômenos financeiros análogos, como a formação de uma bolha. A esse propósito, bastaria citar as cotações de apartamento duplex na China, orçados em US$ 45 milhões (ou trezentos milhões de renminbi), assim como o preço de US$ 25 mil por metro quadrado em Shangai, superior ao de Manhattan, cotado em US$ 20 mil.
Objeto de estudos críticos – inclusive do Congresso americano – a cotação cambial do renminbi tem sido mantida pelas autoridades cambiais chinesas artificialmente baixa, com vistas a baratear as exportações chinesas e a encarecer as importações. Como o câmbio chinês não flutua livremente, tal depreciação do renminbi constitui fator relevante no acúmulo pela RPC de consideráveis saldos comerciais. O Governo Obama tem demonstrado muita moderação no que tange a esta manipulação cambial, no que não é imitado por inúmeros congressistas estadunidenses, exasperados pela perda de empregos nos EUA ,devida a consideráveis vantagens de preço dos produtos chineses.
Outro aspecto do panorama financeiro chinês diz respeito a um estranho comportamento de bancos chineses, os quais vem mascarando seus empréstimos como se fossem investimentos.
Nesse sentido, de acordo com agência especializada, bancos chineses estariam engajados em complexas transações que dissimulam o tamanho e a natureza de seus financiamentos, ocultando centenas de bilhões de dólares em empréstimos e possivelmente até encobrindo uma onda de empréstimos não-performantes (bad loans) em propriedades imobiliárias e infraestrutura.
Em tal contexto, existiria por parte dos responsáveis chineses uma consistente subdeclaração desses fundos – que montaria a 28% ou US$ 190 bilhões de tais fundos – o que corresponde a um desvio dos livros contábeis e, portanto, a generalizada subdeclaração do crescimento do crédito e de sua eventual exposição à inadimplência.
Não constitui segredo que as autoridades chinesas, por ocasião da crise financeira internacional, fizeram um grande esforço de estimular a atividade econômica nacional, de modo a que ela não sofresse demasiado com os problemas da economia mundial.
Se a economia chinesa continua aparentemente robusta, inquieta os especialistas a circunstância de que a recuperação foi ativada por empréstimos bancários e por uma elevação desmedida dos valores imobiliários. Tendo sido grande a ênfase dada em 2009 pelos bancos estatais a essa forma agressiva de estímulo, aparece o temor de que os bancos incorram em riscos desmedidos de excessos na construção de imóveis e na taxa de inadimplência creditícia.
Conquanto os maiores bancos chineses- v.g., o Banco da China e o Banco Chinês da Construção - estejam em situação que pode ser definida como boa, muitos outros bancos poderiam enfrentar riscos maiores se os devedores deixassem de pagar as prestações dos respectivos empréstimos.
Como há inúmeros exemplos em passado recente e não tão recente, a euforia financeira e o decorrente impulso à formação de ‘bolhas’ ou especulações desenfreadas, costuma basear-se no juízo (ou falta de) que aquela determinada situação é diferente das anteriores. Não obstante a força desta convicção, tais situações tendem a conduzir ao logro e à ruína de muitos. Pode ser que no caso em tela seja realmente diferente, embora, de toda maneira e à vista dos precedentes, uma certa prudência seria sempre recomendável.

( Fonte: International Herald Tribune )

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