sexta-feira, 2 de julho de 2010

Luz Amarela na Balança Comercial

Estão disponíveis os dados sobre a balança comercial do Brasil para o primeiro semestre de 2010. As exportações são de US$ 89,1 bilhões (US$ 69,9 bilhões em jan.-jun. 2010), e as importações de US$ 81,3 bilhões (US$ 56,0 bi em jan.-jun. 2009). No período, portanto, houve saldo de US$ 7,8 bi contra US$ 13,9 bi em jan.-jun. 2009.
Como se verifica, houve igualmente aumento em exportações e importações, embora tal elevação tenha sido, em 2010, mais pronunciada nas importações.Consequentemente, a tendência no superavit da balança comercial é para a baixa.
Tendo-se presente a relevância para o Brasil de realizar saldos vultosos nas exportações de bens, o encolhimento do superavit não é um dado auspicioso. Eis que depende da balança comercial a possibilidade de contrabalançar a tendência negativa das transações financeiras.
Atualmente, há uma projeção, para 2010, de déficit no balanço de transações correntes – que se compõe das trocas financeiras e do intercâmbio de mercadorias – no montante de US$ 47,8 bilhões.
Por que a tendência para a acentuação do déficit é negativa ? Por uma série de fatores. Talvez a mais importante seja a apreciação do real – valorização da moeda brasileira – em relação ao dólar estadunidense. O que parece prima facie um dado positivo (o Brasil tem uma moeda forte) tende, na realidade, a operar de modo perverso para os interesses nacionais.
Valorizado o real, há um incentivo para as importações (dado o seu barateamento) e um obstáculo suplementar para as exportações (decorrente do encarecimento de nossas mercadorias). Também no setor de invisíveis (turismo), as viagens de brasileiros para o estrangeiro aumentam (porque o real forte diminue os custos relativos de passagens e custeio), a par de haver desincentivo para as correntes de turismo estrangeiro para o Brasil (pelo encarecimento na estada e nos transportes).
Há outros fatores que contribuem para os deficits na balança de transações correntes, notadamente a desnacionalização da economia em grandes segmentos (como o das montadoras de veículos), o que leva a reforçar a pressão nessa balança na época de transferências de lucros para o exterior. Para tanto, o Governo Lula, através de desonerações fiscais e de facilidades extra nas vendas a prazo, tem sido um suporte considerável para o caixa dessas multinacionais estrangeiras que puderam minorar, por intermédio de suas oportunas remessas cambiais, a crise das respectivas matrizes durante a crise financeira internacional.
Cabe assinalar, por último, que o deficit no balanço de pagamentos - na verdade, o saldo negativo na balança de transações correntes – se for muito negativo, tenderá a influenciar desfavoravelmente a posição do Brasil. E de uma forma dupla: (a) aumentando os custos para o levantamento de empréstimos financeiros destinados a equilibrar as contas (grandes devedores são passíveis de taxas mais altas, eis que o risco para quem empresta supostamente aumenta) e (b) reduzindo o fluxo de investimentos diretos, porque grandes devedores não costumam ter das agências avaliadoras (excetuados, é claro, os grandes clientes de Wall Street) índices muito bons.
Quanto à taxa de juros, a nossa conhecida Selic, a tendência, com a inflação relativamente em alta, será também para o aumento. O que se traduz em efeitos negativos (incremento da pressão na balança de transações correntes, ao inchar a taxa que se deve pagar pelos empréstimos) e positivos (ao contribuir para tornar mais atrativas as inversões de risco, pelos ganhos de capital).
Dependendo da situação – e dos eventuais aumentos da dívida internacional – o quadro se afigura instável, sujeito a chuvas e trovoadas. Os tempos da bonança, com o prestígio do real e da economia brasileira como atrações para o capital estrangeiro podem transmutar-se em douradas lembranças... do passado.
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( Fonte: O Globo

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