sexta-feira, 30 de julho de 2010

CIDADE NUA IV

Um bom Partido (04)

Lá pelas sete, a campaínha toca.
Não demora para que Zeni venha abrir-lhe a porta.
Viu que ele está mais apresentável, embora não pareça muito satisfeito.
“ Como vão as coisas ?”
“ Mais ou menos, dona Zeni...”
“ Pois acho que tenho boa notícia pra você.”
“ Acha, minha amiga ? A senhora me quebrou aquele galho ?...”
“ Pois é...”, disse a velha, sorrindo. “Quem vai me dizer isso, é você...”
“ Como assim?”, perguntou, com a testa franzida. “Isso tá ficando muito misterioso...”
“ Não tem mistério nenhum, Álvaro ! Só que é você quem me dirá se a moça serve ou não...”
“ Moça ?”
“ Sim ! Ela se chama Eudóxia e é minha afilhada.”
“ Não há recomendação melhor...”
“ Amanhã, à tardinha, ela me prometeu estar aqui. Será que dá pra você chegar um pouquinho mais cedo ?”
“ Nenhum problema !”, exclamou ele, já entremostrando um certo alívio.
*
O esquema da jornada fora complicado. Por isso, não pôde antecipar a hora, como dona Zeni lhe pedira.
“ Desculpe...”
“ Quase que você não a encontra...”
Zeni explica que a moça tem aula à noite. A conversa terá de ser rápida.
“ Tudo bem... onde é que ela está ?”, perguntou Álvaro.
“ Calma ! Primeiro, vejamos se tá de acordo com as condições”, disse a velha.
Álvaro achou meio estranho que fosse Zeni, e não a moça, quem combinasse os termos. Mas preferiu não se manifestar.
Na prática, Eudóxia chegaria às nove e ficaria o dia inteiro no apartamento. Tinha de sair o mais tardar às seis e meia. Isso significava que teria direito a almoço e a um lanche. Seria de segunda a sexta, inclusive. Quanto ao salário, o que Álvaro ouviu lhe pareceu algo salgado.
“ Como vai ser com carteira assinada, preciso ter um mês de experiência”, disse ele.
“ Tá bem”, concorda dona Zeni.
“ Mais uma coisinha. O salário tá me parecendo um pouquinho alto...”
“ Tudo bem,” observou a velha. “ No final do primeiro mês, você bate o martelo...”
“ Ok, então.”
Com a anuência de Álvaro, dona Zeni manda a empregada avisar Eudóxia.
*

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