Um bom Partido (03)
Ao saber da situação, dona Zeni piscou o olho para João.
“ Em quê a senhora tá pensando, tia ?”
Era uma velha conhecida da família. Por causa de Ema, viera morar no mesmo prédio, em apartamento pequeno.
“ O Álvaro tá muito largado. Isso não é bom pra ele.”
“ Que é que a senhora pretende fazer ?”
“ Deixa comigo, menino !”
*
No sábado, pediu a Álvaro que antes de sair para o mercado viesse tomar um cafezinho.
Lá pelas dez, ele veio.
Zeni notou a aparência desleixada, com a barba por fazer.
“ Como estão as coisas?”
“ Assim, assim, minha amiga.”
“ Tá difícil, não é ?”
“ Se tá !...”, respondeu, enquanto se sentava.
Como um fardo, ele se deixara cair sobre a poltrona. Nada a ver com o Álvaro que conhecia.
Enquanto a empregada servia a xicrinha de café, observava o seu ar distante, cabisbaixo.
“ Você tá tomando a medicação ?”
“ Não posso viver à base de calmante.”
Ainda que contido, o tom irritadiço não lhe escapou. Logo ele, a quem se admirava pelo temperamento afável, controlado.
“ Pelo que soube, a Raquel não deu conta do recado, né ?”
“ É... uma boa menina, mas não leva jeito pra isso...”
“ Álvaro, me dá um tempo... Acho que posso resolver esse assunto.”
A sua frase pareceu sacudi-lo do torpor.
“ Ah, dona Zeni, se a senhora me quebrasse este galho...”
“ Calma, meu filho, que a gente chega lá...”
Minutos depois, ao se despedir, ela já o viu mais animado.
“ Podia lhe pedir um favorzinho, Álvaro ?”
“ É lógico...”
“ Então, toma mais uns dias a medicação...”
*
Na quarta da semana seguinte, dona Zeni deixou recado no celular de Álvaro.
“Quando voltar hoje à noite pra casa, passe no meu apartamento. Preciso falar com você.”
*
quinta-feira, 29 de julho de 2010
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