quarta-feira, 21 de julho de 2010

Chávez, outra vez

As tentativas de manipulação antidemocrática do Presidente Hugo Chávez poderiam ser interpretadas, em uma leitura psicológica das motivações de sua atuação política, como efeitos indiretos de seu (des)governo na Venezuela.
Dentro de um óbvio propósito de fechar o acesso ao grande público da informação não-alinhada com aquela oficialista, Chávez está intentando controlar a Globovisión, única rede de televisão que mantém uma atitude crítica no que respeita à sua administração.
A ação chavista tem dois escopos. O primeiro, de curto prazo, visa a retirar da oposição qualquer veículo de comunicação de massa que possa prejudicá-lo nas próximas eleições legislativas de 26 de setembro. Já o segundo, complementaria na prática o controle governamental dos principais órgãos de comunicação, reduzindo ainda mais o acesso da oposição à informação pública.
A Globovisión de Guillermo Zuloaga – foragido por causa do acosso exercido pelo esquema chavista – é o diabo da vez. Como o foi no passado a RCTV. O turbulento relacionamento com a oposição é a face habitual do regime do coronel Chávez.
Se as suas estripulias desmoralizam a OEA e sua Carta Democrática, todos aqueles que ousarem contestar-lhe – ou, pior ainda, expor-lhe o comportamento em matéria de direitos humanos – deverão sofrer as consequências. Exemplo disso são os dois representantes da Human Rights Watch, cuja intenção de divulgar in loco o retrospecto chavista de direitos humanos lhes valeu sumária expulsão do território venezuelano, expedidos manu militari no primeiro voo para fora do país.
No entanto, como acima referido, todo esse ativismo antidemocrático, todas essas tropelias promovidas pelo coronel-presidente, correspondem a uma confissão de fraqueza do regime chavista. O seu temor diante de uma oposição demonizada equivale, na verdade, à confissão de incompetência governamental.
Na sua desenfreada prestidigitação (manipulação de factóides – DNA de Bolívar,de bichos papões internos (Globovisión et al.) e externos (Colômbia, o Império do Mal, etc.) – perseguição e intimidação da oposição (através dos canais judiciário e policial) – todo esse ativismo, midiático ou não, visa a obscurecer ou entorpecer qualquer visão crítica de um desgoverno calamitoso para a pátria venezuelana.
Aos ditadores e candidatos a esse exclusivo politburo – e especialmente àqueles com sólida incompetência administrativa – inquieta sobremaneira a eventual conscientização popular de sua incapacidade governamental.
Todos os males que ora infernizam a vida da população – inflação, desabastecimento, apagões, etc. – são a outra face da medalha das prioridades chavistas. Com efeito, as vacas gordas dos petrodólares – na virtual monocultura petrolífera venezuelana – foram imoladas nos altares do prestígio personalista do projetado líder da América bolivariana. Assim, através de fornecimentos de petróleo subsidiado a Cuba, Nicarágua, Equador, Bolívia et al., de ajudas eleitoreiras a regimes amigos, e um vastíssimo etc., ao povo venezuelano não foram destinados, entre outros, os investimentos em usinas energéticas, cuja falta se faria sentir nos racionamentos que ora lhe atazanam – e que não mais podem ser imputados à desídia de administrações anteriores.
Como todos os mágicos, o coronel Chávez logrará enganar boa parte da gente por algum tempo. Sem embargo, diante da própria colossal ineficiência, os truques têm necessariamente a vida curta. Daí o nervosismo do caudilho.

( Fonte: O Globo )

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