Em termos de promessas, os governantes no Brasil estão acima da média. Sabem preparar as propostas e apresentações respectivas, como são expertos em arregimentar apoios e angariar simpatias. Nesse aspecto, tem de se tirar o chapéu para o Presidente Lula não só pelo empenho em criar a atmosfera indispensável para atrair e motivar os votos necessários, senão pelo carisma e convicção manifestados na hora da decisão, para contra-arrestar resistências eventuais e empolgar os eternos indecisos do derradeiro instante.
Generosos no comprometimento, e não negligenciando os esforços imprescindíveis para a fase determinante na conquista do objetivo, uma vez vencida a concorrência, e apagadas as luzes e cessadas as externalizações de júbilo nacionalista, caem as obrigações solenemente assumidas no nebuloso limbo de tantas outras promessas.
Passada a excitação da conquista, inda que virtual e provisória, presume-se que acometa ao governante a conscientização de que o evento jaz em um futuro algo distante, e ainda mais, que se acha muito além do respectivo mandato. Com efeito, o magno certame estará sob a responsabilidade de outro governante.
Dessarte, na cabeça desses senhores, não é que estejam sendo temerários, ao firmarem promessas que em seguida esquecem. Dirão, com a ênfase costumeira, que o compromisso foi honrado, na medida em que a perspectiva do prêmio foi assegurada. Quanto ao mais – o que inclui detalhes como cronograma de obras, etc. – isto caberá aos sucessores. A lógica pode parecer capenga, mas se nos ativermos às conveniências e aos interesses do governante, a explicação será tristemente convincente.
Essa irresponsabilidade nacional, tão hábil nos recursos suasórios, tão deficiente na fase material de atendimento, pode atingir excessos incríveis, como no episódio dos Jogos Pan-Americanos, em que uma exacerbada tendência ao descumprimento dos prazos criou situações emergenciais que só a custo foram mais ou menos superadas.
Passados três anos de inação em matéria das obras para o Mundial – estádios, aeroportos, estradas, metrô, etc. – Lula escolhe a negação agressiva como a ‘solução’ para os problemas apontados pela Fifa. Nesse aspecto, a sua frase, embora inconsequente, atende a seu escopo precípuo, que é o de desvencilhar-se – enquanto durar o tempo da atenção que provocar – de qualquer responsabilidade. Nesse sentido, ela é irretocável: “Vocês viram que terminou a Copa do Mundo na África do Sul, e já começam aqueles a dizer: ‘Cadê os aeroportos brasileiros ? Cadê os estádios brasileiros ? (...) Como se nós fôssemos um bando de idiotas que não soubéssemos fazer as coisas e nem definir as nossas prioridades.”
Desculpe-me, senhor Presidente, mas não será no grito que nós brasileiros cumpriremos com o que livremente assumimos. Todos sabemos que os aeroportos nacionais são desatualizados, desconfortáveis, espécimes terceiro-mundistas que nos envergonham. Enquanto perdurar a Infraero, esse rico cabideiro de empregos, gritaria irrelevante à parte, a situação permanecerá a mesma.
Quando é que o Brasil resolverá jogar fora o ‘jeitinho’e virar um país sério ?
( Fonte: O Globo )
quarta-feira, 14 de julho de 2010
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