Ao contrário dos outros dois candidatos, que lideram as pesquisas na disputa pela Presidência da República, a Senadora Marina Silva vem observando na campanha atitude de correção e equanimidade que a distinguem. Sua negativa em envolver-se na controvérsia levantada pelo candidato a vice na chapa de José Serra é a expressão de seu norte nesta travessia, que se pauta pela ênfase nas grandes questões e na recusa a tratar de ‘baixarias’.
Marina Silva, a candidata do Partido Verde,embora registre, nas consultas do Datafolha, a constância de índices que apenas superam a barreira dos dois dígitos, recebe, no entanto, a atenção crescente e sobretudo a simpatia de um eleitorado a que não satisfaz de todo o discurso de seus dois rivais mais aquinhoados em termos de apoio político-partidário.
A tarimba política de Marina - sua própria serenidade e segurança – se a diferenciam da candidata da algibeira de Lula, também lhe são de valia na sua participação em debates, por ela encarados como oportunidades de discussão e aprofundamento de tópicos, e não como potenciais ameaças de gafes e outros deslizes, reveladores de curta experiência.
Enfrentando as limitações oriundas da legislação eleitoral que, sob certos aspectos, favorecem essas avantajadas constelações de legendas partidárias que mais refletem o oportunismo do poder do que a coerência programática, a candidata Marina terá de lidar, visando ao primeiro turno, com a escassez do tempo na propaganda eleitoral.
É um sério desafio, mas se a mensagem da Senadora repercutir além dos presentes segmentos que lhe são mais sensíveis, as perspectivas de crescimento não podem ser ignoradas. A história política brasileira assinala inúmeros exemplos em que, seja o mandonismo dos grandes cabos eleitorais, seja os intentos de maciças transferências de prestígio, se viram derrotados pela recusa da opinião pública em aceitar sucessores sob encomenda.
O discurso de Marina Silva em Nova York para investidores fornece pletora de indicações quanto às causas do interesse e do respeito de muitos, assim como das mostras de tendência à progressão na simpatia e eventual apoio à sua candidatura presidencial.
Em sua alocução, a par de reportar os avanços econômicos e sociais nos últimos dezesseis anos, bem como a estabilização da economia, Marina sublinhou igualmente as políticas de redistribuição de renda do governo Lula. Nesse sentido, ao invés da compulsão de tudo atribuir à administração petista, a senadora do PV evidencia o bom senso e a honestidade de reconhecer que nem tudo é obra do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Alertou, por isso, contra os perigos da complacência. “Não devemos, é claro, ser pessimistas, mas também não podemos nos deixar embalar pela crença em atalhos que nos distraiam e façam perder de vista os importantes desafios que temos à frente.”
Outro tópico relevante, referido pela candidata, é o chamado “dreno fiscal”, ou o exagero em gastos correntes. A esse respeito, defendeu reforma tributária que permita ao Estado recuperar sua capacidade de investimento.
Na sessão de perguntas, Marina Silva recebeu forte aplauso quando condenou a proposta para novo Código florestal, ora em tramitação no Congresso.
Contra a espúria aliança do oportunismo eleitoreiro de uns e a contramão da história nas pretensões ruralistas, observou: “Não posso sair do lugar onde sempre estive nos últimos 52 anos: na defesa da Amazônia. Mas aqueles que cumpriram as leis e acreditaram que o governo estava falando sério não merecem ver seus concorrentes que desmataram ilegalmente serem premiados com o perdão das multas”.
Pronunciando-se em favor de investimentos na educação de qualidade – de que nos ressentimos -, na redução dos desperdícios de governo e no compromisso inegociável da estabilidade macroeconômica, é de esperar-se que a candidata do Partido Verde não tenha sido apenas oportunista na escolha dos temas do próprio discurso, tendo presente o público a que se dirigia.
Se a pregressa conduta e o exemplo até hoje demonstrados servem de orientação, as palavras de Marina Silva merecem não só o benefício da atenção, mas também o do respeito.
( Fonte: O Globo )
sexta-feira, 23 de julho de 2010
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Um comentário:
Marina tem desmonstrado muito equilíbrio, coerência e simplicidade, característica que lhe é peculiar.
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