A nova ruptura de relações diplomáticas entre a Venezuela e a Colômbia, por iniciativa de Hugo Chávez, não surpreende deveras, sobretudo por ser recurso a que o presidente venezuelano recorre com preocupante presteza.
Para dois países com intercâmbio tão extenso, e com tantos laços comuns, esta reação do caudilho de Caracas pode ser maneira fácil de atalhar acusações comprometedoras, mas causa óbvios e largos prejuízos às duas economias.
Depois da acusação formal, pelo representante do Presidente Álvaro Uribe, na sede da Organização dos Estados Americanos, quanto à localização de acampamentos das FARC e do ELN em território venezuelano, com cerca de mil e quinhentos guerrilheiros lá arranchados, a resposta de Chávez representa peculiar forma de lidar com o problema.
Depara-se aí o velho recurso do rompimento das relações diplomáticas. Sem como contestar objetivamente a incriminação, escolheu a escalada, em tentativa de desviar as atenções e com isso julga retomar a iniciativa na refrega.
No contexto da reunião da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), o Presidente Lula – de quem se alvitrou a possibilidade de mediar o contencioso – afirmou: ‘ainda não vi conflito. Eu vi conflito verbal, que é o que ouvimos mais aqui na América Latina. O que temos de ter primeiro é paciência, de que o Presidente Santos tome posse.’
Ontem, assim se manifestou em nota o presidente Uribe: “O Presidente da República deplora que o presidente Lula se refira à nossa situação com a Venezuela como se fosse um caso de assuntos pessoais, ignorando a ameaça que para a Colômbia e o continente representa a presença dos terroristas das Farc nesse país. Lula desconhece nosso esforço para buscar soluções através do diálogo. Repetimos que a única solução que a Colômbia aceita é que não se permita a presença dos terroristas das Farc e do ELN em território venezuelano.”
A dureza da reação colombiana, segundo consta, surpreendeu o governo brasileiro. Por isso, evitou retrucar, posto que o Assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, haja dito: “O presidente (Lula) tem outra percepção do problema. Não é o momento de ficar trocando declarações públicas”.
Para ter condições de mediar situação conflituosa, a autoridade governamental, além da necessária discrição, deve ter a própria isenção reconhecida por ambas as partes.
Dada a proximidade da posse como Presidente da Colômbia, de Juan Manuel Santos, há o consenso de que o litígio deva ser negociado por ele e o Presidente Chávez. Ainda que seja cômodo atribuir a razões pessoais com Uribe a permanência da questão, qualquer análise mais detida mostrará que existem causas concretas para o contencioso.
No capítulo das relações bilaterais, há diferença sensível no trato da diplomacia do presidente Lula no que concerne a Caracas e Bogotá. Enquanto o relacionamento com Uribe, depois de encontro inicial em Brasília, se caracterizou por certa frieza, não será esta a definição que se possa dar aos repetidos contatos entre Lula e Chávez. Aquele que será o sucessor de Uribe tem evidenciado maior disposição ao diálogo.
Pelo menos, este é o conceito que se lhe atribui ao aprestar-se a suceder ao antigo chefe e principal eleitor. Como todo novel presidente, pode se dar ao luxo de virar a página. No entanto, não se deve confundir – nem é bom que Santos o faça – disposição para o diálogo com aceitação de situações que configuram estranhas distorções no conceito da boa vizinhança.
( Fonte: O Globo )
sexta-feira, 30 de julho de 2010
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