A amizade entre Vladimir Putin e o
Presidente-eleito Donald Trump avança agora para nova fase. Durante a campanha
presidencial, muito se começou a falar sobre essa relação. Com a inegável
intervenção no processo eleitoral - chegando até o nível do hacking, em ataques direcionados contra
o Comitê democrata - como até o momento não foram mencionados nem a escala
desse ataque cibernético, nem os seus objetivos putativos, assim como os
respectivos resultados concretos (se, como parece provável, existiram), o mundo
ao redor ficará no aguardo quanto à qualidade desta possível ajuda, e se acaso
dela surgiram diferenças qualitativas no que concerne à votação.
Para inserir parêntese que acredito
também mereça atenção particular, caberia referir - nesse estranho campo de
intervenções fora da luta eleitoral propriamente dita - a outra presença
inaudita durante a eleição presidencial americana em 2016 está na estranha
desenvoltura do Diretor do Federal Bureau
of Investigation no que concerne a trazer para o campo da atenção dos
votantes determinados aspectos do suposto inquérito policial acerca do emprego
de terminal privado de computador pela então Secretária do Departamento de
Estado, a candidata democrata Hillary Clinton. Por duas vezes, o diretor James
Brien Comey - teve o Presidente Obama acaso repensamentos sobre esta sua
indicação de um republicano para um posto-chave na segurança, como a direção do
FBI? - tentou intervir na eleição. Por primeira vez, dirigiu carta aos chefes e
secretário de comitê no Congresso, em que vinha à baila a atuação da então
Secretária de Estado; e bem mais tarde, já
na período em que muitos eleitores se servem da votação antecipada para cumprir
com seu dever cívico, para levantar dúvidas sobre a possível existência de
material incriminante no computador da secretária de Hillary, Huma Abedin, e do
afastado marido Anthony Weiner.
Como se sabe, as disposições do
Departamento de Justiça - a que está subordinado o irrequieto James Comey -
desaconselham vivamente que se trate de assuntos políticos, em especial aqueles
envolvendo os eventuais candidatos, durante a fase terminal do período
eleitoral. E vejam só! Foi justamente o que fez o Diretor do FBI. Dada a
audácia desta intervenção, realizada durante um período-chave do pleito - o da
votação antecipada - compreende-se e se dá o merecido crédito à assertiva de
Hillary sobre o inegável pesado prejuízo sofrido por ela, ao levantar tais
graves suspeitas, justamente quando os eleitores acorriam às urnas para votar!
Que consolo terá a candidata
Hillary ao se determinar depois desta nova comunicação ao Congresso que nada
havia no computador de sua secretária que a incriminasse? Agindo de tal
maneira, James Comey criava suspicácias nos eleitores, e dúvidas sobre o
caráter de Hillary, a tal ponto que a candidata democrata avaliou como
determinante para a sua derrota essa inadmissível e descabida intervenção no
processo eleitoral. E é por causa disso que o Diretor James Comey responde a
comissão de inquérito no Departamento de Justiça.
Passemos agora, uma vez determinado o
destino político - pelo menos nesta eleição de 2016 - de Hillary Clinton, para outro objetivo politico do interesse de
Vladimir Putin.
Nesse contexto, parece-me oportuno
recordar o relacionamento econômico-político dentro da amizade mantida pela figura em progressão política Vladimir V.
Putin com o então Chanceler alemão Gerhard Schroder. No livro de Karen
Dawisha - já por mim referido em repetidas vezes no contexto da atuação de
Putin - há uma foto de Junho de 2000, em que se retrata um sorridente Schröder
em Berlin, enquanto o ainda jovem Putin como que principiando a respectiva
avaliação do político social-democrata. Foi especialmente feliz no seu instantâneo
o fotógrafo Fritz Reiss, como consta do crédito da fotografia. Retrata um ainda
desconfiado Putin, mas que já evidencia - sempre em termos de sua conhecida
reserva -alguma simpatia pelo político alemão.
Como assinala no seu livro Putin's Kleptocracy, Karen Dawisha, é
inegável a relação de Putin com a compainha russo-alemã "Holding de
terrenos em São Petersburgo" (SPAG).
Esta companhia estava assaz envolvida na lavagem de dinheiro russo e também
procedente de outras fontes. Somente a 23 de maio de 2000 - a nove de maio
Putin tomara posse como Primeiro Ministro, escolhido por Ieltsin - que o site na internet do SPAG anunciou que ele tinha se retirado da junta (board) do SPAG.
Segundo especula Dawisha seria
bastante razoável supor que Putin desse seu nome ao SPAG para que nele
aumentasse o fluxo de dinheiro, dando assim respeitabilidade ao próprio
exercício em São Petersburgo. Também se registra que os relatórios do BND (serviço de informações da RFA)
circularam amplamente sobre o papel de Putin no SPAG. No entanto, as
investigações principiaram a ratear, por ocasião da posse do novo Chanceler, Gerhard
Schröder.
Alegando a sensibilidade
política da investigação do BND, os alemães agiram lenta e cautelosamente. A imprensa alemã informou que o Chanceler
Schröder pessoalmente manteve informado Putin acerca da investigação. Segundo
Dawisha, três anos após a eleição de Putin a presidente, e quando o seu nome
desaparecera do quadro da companhia, os alemães fizeram raid investigativo de 27 escritórios e bancos associados com o SPAG
na Alemanha. Como o nome de Putin não foi citado, os observadores alemães
concluíram que enquanto Schröder fosse Chanceler - ele chegara ao ponto de
chamar Putin de "democrata sem jaça",
ele não enfrentaria outra investigação hostil.
Poucos meses depois de ser
afastado eleitoralmente do poder, Schröder foi feito presidente do comitê de
acionistas da Nord Stream. Essa
companhia era chefiada por velho amigo de Putin, o ex-official da Stasi (Serviço Secreto da Alemanha
Oriental) Mathias Warnig.
Como assinala Karen Dawisha
neste capítulo de seu livro (Putin em São
Petersburgo, 1990-1996), os únicos líderes do Ocidente com presença
proeminente na posse presidencial de Putin em 2012, foram Schröder e o
ex-Primeiro Ministro italiano, Silvio Berlusconi.
Não foi fácil o
relacionamento de Barack Obama com Vladimir Putin, como tampouco o foram (depois
de começo promissor) as relações entre 43º presidente, George W. Bush e o líder
russo. Com Obama, o percurso não se
caracterizou tampouco pela monotonia. Dentre as medidas mais fortes de Obama
foi o de retirar a Federação Russa do Grupo dos Oito - por conta da invasão e
da anexação da Criméia, dentro do processo iniciado pelo Presidente russo de
atacar a parte oriental da Ucrânia, inculpada pelo Kremlin da aspiração de associar-se à União Europeia, desdenhando a
estólida e apagada União aduaneira preconizada por gospodin Putin.
Agora, com espanto de muitos, o
presidente-eleito Donald Trump considera Vladimir V. Putin seu
amigo pessoal, e anuncia o propósito de trabalhar com ele. Para desconforto de
muitos, desdenha da Nato (Aliança do Atlântico Norte), a que considera
ultrapassada, o que é visto com inquietude
por muitos dos países do estrangeiro-próximo
(designação dada pela Rússia para designar
a muitos de seus países que têm
fronteiras com Moscou).
Trump que passou
temporadas na Rússia e em outros países do Leste, manifesta o desejo de
estreitar relações com o Kremlin.
Por outro lado, em
outra saraivada de declarações hostis, atacou verbalmente a União Europeia, e
os seus dois principais líderes, a Chanceler Angela Merkel e o Presidente
François Hollande.
Quanto ao México, o
nível de relacionamento não parece ter melhorado com a sua estranha visita a
Ciudad de México.
Não há registro - que
eu saiba - de declarações suas sobre a América Latina, no que
concerne ao Continente
do Sul. Dadas as pungentes caracteristicas de suas assertivas, deixo ao leitor
a avaliação de como tal silêncio possa ser avaliado.
Por fim, o Papa Francisco tem em registro forte
declaração a respeito do então candidato Trump, hoje talvez menos lembrada pelo
tempo decorrido (foi feita em dezoito de fevereiro de 2016).
Regressando de visita de
seis dias ao México, na aeronave pontifícia, e na sua costumeira entrevista a
jornalistas credenciados, Sua Santidade afirmou: "Uma pessoa que só pensa acerca da construção de muros, aonde eles
estejam, e não acerca da construção de pontes, não é Cristão."
Quanto a Enrique
Peña Nieto, cuja posição, dadas
as declarações de Trump e a agressiva postura de tentar forçá-lo a custear a
construção do muro, se norteia compreensivelmente pela discrição e a
cautela.
Por fim, voltando a Putin,
e tendo presente o livro de Karen Dawisha, semelha de
grande interesse (no sentido chinês) para acompanhar a evolução de Donald Trump,
que se tenha presente o rumo e as característas de suas relações com o amigo Vladimir Vladimirovich Putin. Como o
leitor terá notado, há bons e maus exemplos.
O futuro, seja por
meio de análises de organismos de planejamento, seja dentro de confeitos, seja
através de bolas de cristal, seja pelo modo sincopado dos órgãos de
comunicação, não tardará a aparecer. E
que Deus salve a América.
( Fontes: Putin's Kleptocracy, de Karen Dawisha; The
New York Times ).
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