Agita atualmente os Estados Unidos,
nesses dias que precedem a inauguração da nova Administração, a ser presidida
por Donald Trump, a divulgação de misterioso dossier sobre os laços do presidente-eleito com a Rússia.
Conhece-se o responsável pelo resumo de
tais atividades, que é experiente espião britânico. Com efeito, Christopher Steele, assaz respeitado nos
círculos da discreta e, para muitos, perigosa atividade, foi engajado para
coletar dados negativos de Trump, como festinhas com prostitutas, negócios de
suborno com propriedades imobiliárias, assim como a coordenação com os serviços
de inteligência russos acerca do hacking
dos comitês do Partido Democrata.
Que os leitores me perdoem, mas falar
de dossier para mim é um tanto relembrar a grande novela de Dias Gomes, Roque Santeiro, interpretada por Lima Duarte, o Sinhozinho Malta a girar nervoso as suas
inúmeras pulseiras, sempre pensando no misterioso dozier que os seus inimigos urdiam contra ele, sem falar de
possíveis suspicácias sobre a fidelidade da Viúva Porcina, Regina Duarte.
A esse propósito, a Censura, se ainda existisse, decerto
proibiria com o próprio carrancudo semblante qualquer reedição das grandes
novelas da Globo no passado, por não aguentarem o cotejo com as atuais,
excetuadas talvez as sob a magistral direção de Luiz Fernando Carvalho, como Meu Pedacinho de Chão e Velho Chico, tão tragicamente
entrecortado. E não é de esquecer a clássica de Benedito Ruy Barbosa, Pantanal, a novela imortal da Tevê Manchete,
que com o seu fulgor de cometa infelizmente desapareceu.
Mas voltemos a este novel dossier, com os sólitos lúridos detalhes
desse tipo de documento, que tantaliza a muitos com menções salazes de sexo, suborno e outras palavras menos publicáveis.
Por respeitável que seja na sua
profissão, não era de esperar que chovessem encômios para Chrs. Steele. Para o objeto, Mr Donald Trump, as alegações
não passariam de fabricações de estilo nazista, e urdidas por gente malsã. Não
obstante, esta coleção minou a relação da nova Administração com as agências de
inteligência. Terá igualmente lançado, na opinião do New York Times, uma sombra sobre o novo governo.
Para James Clapper Jr., diretor da
inteligência nacional, além de deplorar-lhe
os vazamentos, acrescentou que as agências de inteligência "não
fizeram nenhum juízo quanto à confiabilidade do documento."
Não diferindo de exemplos
anteriores, os detalhes mais importantes - como o que é verdade - são por um tempo
retirados de circulação. Assim, ficam na sombra os laços da equipe Trump com a
Federação Russa e Putin, em particular.
Esse dossier sobre Trump semelha
ser documento feito por muitas mãos. Nesse contexto, Fusion GPS, dirigido por Glenn Simpson, antigo
jornalista especializado em Wall Street, juntou material relativo a negócios e
entretenimento.
Quando Trump tornou-se o
favorito para a nomination,
desapareceu o interesse do GOP em financiar qualquer esforço desestabilizante
do candidato, mas essa turma foi substituída pelos partidários de Hillary
Clinton.
Agora que a candidatura
democrata de Hillary virou nota bibliográfica, embora corram ainda pesadas
dúvidas sobre como acabará o post-mortem
dessa estranhíssima derrota, mais uma vez abatida sobre quem tem mais votos no
pleito, como também foi o caso de Albert Gore. Não será acaso tempo de acabar
com essas velharias do século XVIII, e ao invés de caprichos geográficos,
deixar que a voz majoritária da gente americana seja ouvida claro e bom som sem
mais intermediários do que o computo dos votos indiretos que tantos absurdos
podem engendrar, como v.g. os governos de George W. Bush (que abriu as portas
para o decline) e agora, para Donald
Trump, cujas qualidades bem cedo
pesarão sobre o povo americano?
( Fonte: The New York
Times )
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