A surpreendente
vitória de Donald Trump sobre Hillary Clinton, além de suas
repercussões americanas, terá lançado um vento frio sobre aqueles países que a
linguagem do Kremlin chama de uma
forma um tanto ominosa, de estrangeiro
próximo.
Os leitores deste blog já estão familiarizados com tal
expressão, que se refere àqueles países que se acham próximos das fronteiras do
grande urso russo. Como referi oportunamente, tendo presente a obra da
professora Karen Dawisha, "Putin's Kleptocracy", que é um estudo
respeitável da Federação Russa e do papel exercido na atualidade recente pelo
Presidente Vladimir Putin, as autoridades desse país têm presente as
condições prevalentes no chamado estrangeiro
próximo, ao ponto de que até medidas são tomadas com relação àqueles países
que colindam com a Rússia.
A proteção americana e aquela da
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) nem sempre podem ajudar esses
países situados na vizinhança do grande urso russo a prevenirem eventuais
ameaças à própria soberania - como se verificou sobretudo no tempo de George W. Bush, mas também na invasão pelo exército de Putin que levou à
anexação ilegal da Criméia (e de Recomendação da Assembléia Geral das Nações
Unidas, com a aplicação de sanções pelos Estados Unidos e outros governos
ocidentais, de condenação da agressão da Rússia).
Sem embargo, a presença americana
e a da NATO é valorizada pelos países,
pequenos e grandes, que se acham demasiado próximos da Federação
Russa, que é o presente avatar de o que foi a União Soviética,
desaparecida em 1993, sob o governo de Gorbachev.
Com a administração Vladimir
Putin, notadamente no novo período, após a presidência de Dmitriy Medvedev, aumentou a pressão sobre a Ucrânia. Afastado pela
revolta da Praça Maidan, e a opção
popular por acordo com a Comunidade Europeia, o presidente pró-Rússia Viktor Yanukovych cairia em seguida, o que ensejaria a tomada da Crimeia
por forças russas, em ação que não encontrou maior resistência.
Desde então, sob instigação russa, várias áreas na parte oriental se tem
levantado, com a aparente intenção de retirar parcelas dessa área, para
formarem eventuais protetorados russos, vizinhos à Crimeia, já anexada à
Federação Russa. Por isso, a Rússia tem sofrido sanções do Ocidente, mas há a
expectativa de que com a vitória de Trump, todo o sistema de sanções
instituídas pela anexação da Crimeia deverá desmoronar. A situação do atual presidente ucraniano, Petro Poroshenko, que participou das
negociações dos dois acordos de cessar-fogo,
com a presença de Putin e da Chanceler alemã, Angela Merkel, e do Presidente francês, François Hollande, não é decerto cômoda diante das interrogações
sobre a organização do Atlântico Norte. Mas com toda a oposição de Trump,
semelha assaz problemático que se abandonem os demais aliados da NATO, sob a
influência do amigo Putin.
De qualquer forma, mesmo se a
resistência à Rússia sob Obama, não foi completa, as forças ucranianas, mesmo
que mal-armadas, não estavam de todo
abandonadas. Como se sentirão agora, com a amizade de Trump por Putin, e todas
as suas declarações favoráveis ao regime russo?
Igualmente, deve prevalecer
algum pessimismo nesses países do estrangeiro próximo quanto as possibilidades
de manterem a própria sobe-rania, ou mesmo autonomia, em atmosfera agora
substancialmente modificada em favor de Vladimir Putin?
( Fontes: Prof. Karen
Dawisha, The New York Review )
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