A paciência, talvez excessiva, da Mesa
de Unidade Democrática chega ao fim.
A negociação, mediada pelo Vaticano, era conduzida pelos ex-dirigentes Luis
Rodriguez Zapatero (Espanha), Martin Torrijos (Panamá) e Leonel Fernández
(República Dominicana).
Em nota, a coalizão opositora MUD disse que a tentativa de diálogo
"é um capítulo encerrado que não voltará a se abrir". Outrossim,
chamou seus seguidores a reforçarem os protestos contra Nicolás Maduro. Aduziu
o comunicado que "o descumprimento dos acordos e, sobretudo, a resposta
grosseira e soberba do regime às demandas do Vaticano revelaram o que o Povo
venezuelano já sabe por demais: que esse regime não tem palavra".
Em sua carta, o Secretário de Estado da
Santa Sé, Pietro Parolin, pedira ao chavismo que acelerasse a liberação dos
opositores presos, a entrada de ajuda humanitária e o fim da declaração de
desacato da Assembléia, em que a oposição goza de ampla maioria.
Tais condições, colocadas a 1º de
dezembro de 2016, irritaram Nicolás Maduro, que chamou o Vaticano de
"sabotador" e "cúmplice na tentativa de implodir o
diálogo". A esse respeito, Brasil, Argentina e Colômbia apoiaram a posição
de Parolin.
Com a virtual ruptura no diálogo,
cresceu a convicção para a oposição que
somente através da mobilização popular é
que será possível levar Maduro a convocar eleições que abreviem o seu mandato,
cujo encerramento formal está previsto para 2019.
Diante da manifesta má-fé do regime -
Maduro se serve do diálogo para protelar a crise no país até a próxima eleição - a ruptura entre
Governo chavista e a MUD se agrava cada vez mais.
Estão presentes todos os elementos que
mostram ser a situação irreversível em termos sócio-políticos. Espanta mais não
o agravamento da crise, mas a persistência do chavismo em aferrar-se a slogans,
como se fora possível sustentar tal estado de coisas até 2019: desabastecimento
de remédios e alimentos, hiper-inflação
(500% em 2016), e a patente incapacidade do chavismo de reverter a crise e encaminhá-la
para solução, tudo isso dá um sentido dramático às demandas da Oposição,
enquanto persiste e se agrava a profunda insatisfação popular, como dado
permanente.
O estado de coisas na Venezuela lembra uma
barreira com muitas fissuras, que à luz do bom senso e da capacidade física de
resistência a tais situações, vai
romper-se apesar das declarações do Governo, de sua fuga da realidade, sem
embargo das hesitações da Oposição.
Esta última, em meio à revolta do
Povo e a incrível arrogância do chavismo, sabe que o regime tem o seu tempo já
marcado. O trágico da situação está na circunstância de que a Oposição não
parece ter líderes até agora, pelo menos os que crescem diante do desafio
colocado pela crise..
O problema em tais situações é que
acaba por surgir, em meio à massa popular, alguém que reflita a exasperação
crescente diante da má-fé e estúpida arrogância do chavismo.
É uma situação física. A barragem
do governo Maduro não mais existe, embora o chavismo aja com a insolência de
quem se crê protegido por massa de concreto. Se e quando descobrir que não mais
é assim, para muitos será tarde demais.
( Fonte: Folha de S. Paulo )
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