Na sua peça oratória, o recém-empossado
Presidente não surpreendeu. Sob
muitos aspectos, pode-se caracterizar o discurso do 45º presidente como um de fogo e enxofre. Além de confirmar diversos pontos polêmicos de seu
programa, em muitos tópicos frisou políticas já enunciadas e combatidas, como o
protecionismo e o princípio de levar vantagem em tudo que for possível. Tudo
sob o mantra de fazer os Estados Unidos grandes de novo. Nada de facilidades
para o estrangeiro. Privilegiar a América em tudo...
A condição atual dos Estados Unidos corrobora
em muitos pontos o decline assinalado
por inúmeros observadores americanos. Além das fábricas e dos galpões derelictos,
fechados e abandonados, Trump descreveu a terra americana como atravessando um
tempo em que o precedente vigor e força econômica não mais são vistos. A
infraestrutura - que constitui um ponto comum de consenso sobre a atual
respectiva precariedade - deve ser, por conseguinte, varrida em suas abaladas
condições do mapa e renovada ou substituída por outra, que corresponda à
tradição americana de pujança.
O ultranacionalismo marca a sua enfática presença,
e os conceitos do novel presidente ecoam a sua pregação da campanha, dirigida
aos segmentos menos favorecidos em indústrias no largo cinturão da ferrugem, em
plantas industriais abandonadas como esqueletos, e, por conseguinte, na sua cogente
descrição, de largos espaços consignados ao abandono e ao atraso. Sem adentrar
o conteúdo, dentre os defeitos do magnata hoteleiro não está a exposição
claudicante e despojada de ênfase.
A alocução de Trump evitou o name-calling (designações específicas e
ofensivas), mas tal não significa que o tom de diatribe presente em boa parte
de seus dezesseis minutos, dentro de elocução forte, por vezes cáustica, e sem
hesitações em discurso pronunciado sem o apoio de textos lidos. Se são
questionáveis as idéias, a oratória não, dentro das características de
políticos americanos.
Foi dito que Trump reevocou os temas de
sua campanha, mas como antecipado acima preferiu falar em termos genéricos,
ainda que muita vez a ausência de designações específicas não retirou de seus
parágrafos a implícita violência retórica.
Se Hobbes estivesse presente, não
deixaria de sorrir e de comprazer-se com as características do novo ambiente
nacional americano, que em muitos traços parece retirado dos cenários duros,
inóspitos e desagradáveis, do agrado do filósofo, e igualmente do mundo
americano que o magnata ora retrata, com a promessa de campanha contra tudo de ruim que está ora na
terra de Washington e Lincoln.
Por vezes, os assistentes terão
procurado os ex-presidentes que compareceram em peso à cerimônia, para tentar
perscrutar-lhes algum esgar ou riso irônico, que espelhasse a velha ironia, reação que não
semelha ser um forte desse distante sucessor
de tantos homens que, dada a pujança ainda visível em terra americana,
poderiam até perguntar se não estavam empossando o primeiro mandatário da
Superpotência.
A discrição da cobertura
televisiva evitou contraposições rápidas para assertivas mais fortes e até
truculentas de Donald Trump. A essa violência verbal - que como motoniveladora
passa por um terrenos que grandes personagens já palmilharam como se fora
quintal aonde se amontoam vestígios de malogradas tentativas na construção de
uma pátria mais inclusiva - surpreende, em contraposição, a fidalguia e a
simpatia que Trump e Melanie dedicaram a Barack Obama e a Michele, com assíduas
atenções até a despedida dos já-ex, em
helicóptero oficial, talvez para bem longe do casal Trump.
Nisso se pode entrever que
Donald John é um animal político que não deve ser subestimado, porque o criador
da subteoria dos birthers[1]
- cujo legado ele e os republicanos ora se empenham em jogar na lata de lixo da
história - e a seguir pela Lei do Tratamento Médico Custeável (ACA), que para continuar
no discurso dos déficits, caro ao GOP, esse partido - que tem maioria nas duas
Câmaras - ora se empenha em arrancar o ventre (gut) do odiado (por eles) Obamacare,
o que lamentavelmente o Partido Republicano conseguirá, com graves danos
econômico-financeiros para cerca de vinte e dois milhões de pessoas, hoje abrigadas
sob o teto da Reforma Sanitária.
Em termos de público, embora
houvesse muita gente, o número não se compara ao da posse de Barack H. Obama.
Faltaram à cerimônia cerca de sessenta representantes do Partido Democrata.
Mas mesmo assim havia multidões nos grandes espaços em torno do Capitólio.
( Fontes: CNN, New
York Times, Hobbes )
[1] O
primeiro "titulo" para a notoriedade, Trump o obteve inventando a teoria
de que Obama nascera no Quênia e não no Havaí. Durante os debates com Hillary,
achou melhor esquecer a tese dos "birthers"...
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