Por
envolver-se em todo tipo de conflito possível no Oriente Médio, como assinala
Ibrahim Sirkeci, professor na Regent's University em Londres, o governo turco de Recep Tayyip Erdogan, na
análise desse intelectual turco-britânico, poderia estar agravando a própria
situação.
São três os
principais problemas enfrentados pelo governo turco. Algumas dessas questões decerto
não foram criadas artificialmente pela administração de Ankara. De início, é o
caso da guerra civil na Síria (com que a Turquia colinda ao sul). Dura há cinco
anos, e o conflito tem afetado o sul da Turquia. Nesse contexto, o governo Erdogan defende os
rebeldes e quer afastar das negociações o presidente Bashar al-Assad, que teve,
por sua vez, a própria posição reforçada,
logrando virar o jogo quase nas prorrogações, ao ir a Canossa e colocar-se sob as ordens do
presidente Putin.
Por outro
lado - e neste caso a fobia do presidente turco teria alguma base - o movimento
do clérigo muçulmano, Fethulah Gülen, que está exilado nos Estados Unidos, é
inculpado pelo putsch de 15 de julho.
No entanto,
o governo de Erdogan não logrou obter nenhuma prova concludente da participação
de seguidores de Gülen naquele intento,
que foi caracterizado por muitos como um pretexto do presidente para
livrar-se de numerosos opositores nas Forças Armadas, além de proceder a uma razzia de intelectuais alegadamente suspeitos
no serviço público turco.
Além disso,
Erdogan persegue os curdos, que são uma
grande minoria, presente em muitas áreas da Anatólia, e a quem o presidente
turco enfrenta através de tenaz perseguição e de sistemática contraposição política.
Escolher
os próprios inimigos pode parecer atitude no limite sensata, mas tal postura
perderá sentido se se resolver enfrentá-los conjuntamente. Tal parece ser a estranha estratégia de Erdogan, que, além de antagonizar os
curdos, persegue os adeptos (de resto, numerosos) do clérigo Fethulah Güllen, a
quem costuma responsabilizar por tudo que de errado grasse em seu país.
Com mão
demasiada pesada, o autoritário Erdogan também contribui e bastante para
agravar a própria situação securitária da Turquia. Dada a sua aparente paranóia
em relação à suposta diabólica capacidade do clérigo Fethullah Güllen de desestabilizar-lhe o governo, Recep Erdogan procedeu a brutal expurgo tanto no serviço secreto,
quanto nas forças armadas. De resto, muitos inocentes foram demitidos sem outra
razão que as fobias persecutórias do autoritário presidente.
Em função
disso, o E.I. agradece e tem penetrado com relativa facilidade através das barreiras de
segurança do estado turco, dado o número de agentes capacitados que foram
afastados de suas funções pelas excessivas suspicácias de Erdogan.
( Fonte: Folha de S.
Paulo )
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