terça-feira, 3 de janeiro de 2017

O alto preço das fobias de Erdogan

                            
         Por envolver-se em todo tipo de conflito possível no Oriente Médio, como assinala Ibrahim Sirkeci, professor na Regent's University em Londres,  o governo turco de Recep Tayyip Erdogan, na análise desse intelectual turco-britânico, poderia estar agravando a própria situação.

        São três os principais problemas enfrentados pelo governo turco. Algumas dessas questões decerto não foram criadas artificialmente pela administração de Ankara. De início, é o caso da guerra civil na Síria (com que a Turquia colinda ao sul). Dura há cinco anos, e o conflito tem afetado o sul da Turquia.  Nesse contexto, o governo Erdogan defende os rebeldes e quer afastar das negociações o presidente Bashar al-Assad, que teve, por sua vez,  a própria posição reforçada, logrando virar o jogo quase nas prorrogações,  ao ir a Canossa e colocar-se sob as ordens do presidente Putin.

          Por outro lado - e neste caso a fobia do presidente turco teria alguma base - o movimento do clérigo muçulmano, Fethulah Gülen, que está exilado nos Estados Unidos, é inculpado pelo putsch de 15 de julho.

         No entanto, o governo de Erdogan não logrou obter nenhuma prova concludente da participação de seguidores de Gülen naquele intento,  que foi caracterizado por muitos como um pretexto do presidente para livrar-se de numerosos opositores nas Forças Armadas, além de proceder a uma razzia de intelectuais alegadamente suspeitos no serviço público turco.

          Além disso,  Erdogan persegue os curdos, que são uma grande minoria, presente em muitas áreas da Anatólia, e a quem o presidente turco  enfrenta através de tenaz perseguição e de sistemática contraposição política.

            Escolher os próprios inimigos pode parecer atitude no limite sensata, mas tal postura perderá sentido se se resolver enfrentá-los conjuntamente. Tal parece ser a estranha estratégia  de Erdogan, que, além de antagonizar os curdos, persegue os adeptos (de resto, numerosos) do clérigo Fethulah Güllen, a quem costuma responsabilizar por tudo que de errado grasse em seu país.

            Com mão demasiada pesada, o autoritário Erdogan também contribui e bastante para agravar a própria situação securitária da Turquia. Dada a sua aparente paranóia em relação à suposta diabólica capacidade do clérigo Fethullah Güllen  de desestabilizar-lhe o governo,  Recep Erdogan procedeu a brutal expurgo tanto no serviço secreto, quanto nas forças armadas. De resto, muitos inocentes foram demitidos sem outra razão que as fobias persecutórias do autoritário presidente.

             Em função disso, o E.I. agradece e tem penetrado com relativa facilidade através das barreiras de segurança do estado turco, dado o número de agentes capacitados que foram afastados de suas funções pelas excessivas suspicácias de Erdogan.



( Fonte: Folha de S. Paulo )

Nenhum comentário: