A obra prima
de Jane Austen nos fala de outro gênero de orgulho e preconceito, mas já mostra
o potencial dessas duas atitudes, fundadas na ignorância e na prepotência.
O poder pode ser usado de diversas
maneiras, como a história mostra. O
presidente Trump comprova, por seu
comportamento e atitudes que vem
tomando, que (a) realmente ele não estava pronunciando ameaças vãs quando
erigiu a violência como política e (b) ele está efetivamente convencido de que
todas essas maldades podem amalgamar uma política a ser levada a sério.
Se Donald Trump queria mostrar ao mundo
o poder que detém um presidente americano, ele já o mostrou em termos de fazer
o mal.
Mas o mal não é a essência da política.
Cego e incapaz de fazer qualquer distinção, o mal, pela sua ínsita injustiça,
não pode ser usado como o faria um gorila em uma loja de louças. O objetivo de
toda política digna desse nome é a construção de um arcabouço de medidas que
proteja a pátria americana através de normas em que se distingue o bom do mau
visitante, e para tanto, ao negar acesso a imigrantes que possam constituir
ameaça à superpotência, o faz de modo racional, fundamentado e baseado na
experiência passada.
Tivemos na jornada dos imigrantes
noticiada pela imprensa exatamente o contrário de o que deva ser feito. Não se
pode, da noite para o dia, jogar ao chão toda a normativa e a experiência
anterior, como se fosse algo de absurdo. Todo esse tipo de procedimento -
brusco, sem base, cruel e violento, porque fundamentalmente injusto - não
parece próprio de governante de país com o conhecimento, a experiência e a
abrangência normativa dos Estados Unidos da América.
Se um ditador do Terceiro Mundo
quisesse imitá-lo - porque a sua conduta o aproxima dele pelo caráter de alguém
desenraizado dos processos legais e das normas da Justiça, de que esquece a
sacralidade do seu caráter duplo: proteger a América do Norte, mas respeitar os
direitos de quem vem bater-lhe a porta - até seria fácil entender-lhe os
desatinos.
Mas entender não significa
necessariamente perdoar. Entender, na verdade, é mostrar que o governante não
age para um auditório de militantes do próprio partido, mas sim como se esteja
agindo dentro de um espaço em que tanto a sua capacidade para fazer o bem,
quanto os próprios atributos para a proteção da própria comunidade - e nesse
contexto as defesas que deva assumir para assegurar que a porta de sua casa
esteja protegida, e que por ela só ingressem pessoas que tenham condições de
respeitar o agasalho e a hospitalidade da Pátria americana - sejam condizentes com a política anterior, com a acolhida que seus maiores deram aos imigrantes.
É mais do que sabido que a
capacidade dos Estados Unidos da América de receber o imigrante perseguido por
causa da justiça, assim como aquele que apesar do respectivo saber e conduta
sofre perseguição na sua própria casa, e por isso vem bater na aldrava dos
portões da América, estejam eles nos portos do Leste ou do Oeste, tudo isso
muito contribuíu para o crescimento estadunidense, assim como criou condições
para que esse insumo humano frutificasse no solo americano.
Não é atuando como um ferrabrás,
escorraçando primeiro, para depois dar-se conta pela gritaria e pelos protestos
de todos aqueles unidos pelo ideal da proteção ao próximo - próximo este que já
chega aos Estados Unidos com a documentação e a fé da presença e do próprio
sofrimento em terra estranha - que se
irá criar condições para a garantia das fronteiras americanas. Não é transformando-se em arremedo de país
sem cultura, e cujas determinações são tomadas sem qualquer base - a menos que
negar o passado constitua um fundamento aceitável de conduta - que os Estados
Unidos vai assegurar o controle de suas fronteiras e a proteção da própria
cidadania. Não é barrando a porta para
os refugiados da Síria - tem eles culpa do ditador Bashar al-Assad? - nem
negando farsescamente tudo que um iraquiano tenha feito em prol da potência
americana (aqui me restrinjo a apenas dois exemplos, mas na verdade, eles
abundam, fazendo mais mal à imagem do país do que todas as sandices do passado.)
Mr Donald J. Trump - o senhor já mostrou o poder que tem. Será
melhor, no entanto, que ouça a gente que entende do mister, para que renuncie a
essa violência, que está envergonhando muita gente que não o merece, e
sobretudo parece debochar da Justiça e da Equidade. Um país com a força dos
Estados Unidos e a sua tradição na Cultura e no respeito ao Direito das Gentes
não deve agir como se imitasse a Idi Amin.
( Fontes : Jane Austen e The New York Times )
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