sábado, 28 de janeiro de 2017

Orgulho e Preconceito

                               

        A obra prima de Jane Austen nos fala de outro gênero de orgulho e preconceito, mas já mostra o potencial dessas duas atitudes, fundadas na ignorância e na prepotência.
        O poder pode ser usado de diversas maneiras, como a história  mostra. O presidente Trump comprova, por seu comportamento e  atitudes que vem tomando, que (a) realmente ele não estava pronunciando ameaças vãs quando erigiu a violência como política e (b) ele está efetivamente convencido de que todas essas maldades podem amalgamar uma política a ser levada a sério.
        Se Donald Trump queria mostrar ao mundo o poder que detém um presidente americano, ele já o mostrou em termos de fazer o mal.
        Mas o mal não é a essência da política. Cego e incapaz de fazer qualquer distinção, o mal, pela sua ínsita injustiça, não pode ser usado como o faria um gorila em uma loja de louças. O objetivo de toda política digna desse nome é a construção de um arcabouço de medidas que proteja a pátria americana através de normas em que se distingue o bom do mau visitante, e para tanto, ao negar acesso a imigrantes que possam constituir ameaça à superpotência, o faz de modo racional, fundamentado e baseado na experiência passada.

          Tivemos na jornada dos imigrantes noticiada pela imprensa exatamente o contrário de o que deva ser feito. Não se pode, da noite para o dia, jogar ao chão toda a normativa e a experiência anterior, como se fosse algo de absurdo. Todo esse tipo de procedimento - brusco, sem base, cruel e violento, porque fundamentalmente injusto - não parece próprio de governante de país com o conhecimento, a experiência e a abrangência normativa dos Estados Unidos da América.
           Se um ditador do Terceiro Mundo quisesse imitá-lo - porque a sua conduta o aproxima dele pelo caráter de alguém desenraizado dos processos legais e das normas da Justiça, de que esquece a sacralidade do seu caráter duplo: proteger a América do Norte, mas respeitar os direitos de quem vem bater-lhe a porta - até seria fácil entender-lhe os desatinos.
              Mas entender não significa necessariamente perdoar. Entender, na verdade, é mostrar que o governante não age para um auditório de militantes do próprio partido, mas sim como se esteja agindo dentro de um espaço em que tanto a sua capacidade para fazer o bem, quanto os próprios atributos para a proteção da própria comunidade - e nesse contexto as defesas que deva assumir para assegurar que a porta de sua casa esteja protegida, e que por ela só ingressem pessoas que tenham condições de respeitar o agasalho e a hospitalidade da Pátria americana - sejam condizentes com a política anterior, com a acolhida que seus maiores deram aos imigrantes.
               É mais do que sabido que a capacidade dos Estados Unidos da América de receber o imigrante perseguido por causa da justiça, assim como aquele que apesar do respectivo saber e conduta sofre perseguição na sua própria casa, e por isso vem bater na aldrava dos portões da América, estejam eles nos portos do Leste ou do Oeste, tudo isso muito contribuíu para o crescimento estadunidense, assim como criou condições para que esse insumo humano frutificasse no solo americano.
                Não é atuando como um ferrabrás, escorraçando primeiro, para depois dar-se conta pela gritaria e pelos protestos de todos aqueles unidos pelo ideal da proteção ao próximo - próximo este que já chega aos Estados Unidos com a documentação e a fé da presença e do próprio sofrimento em terra estranha  - que se irá criar condições para a garantia das fronteiras americanas.  Não é transformando-se em arremedo de país sem cultura, e cujas determinações são tomadas sem qualquer base - a menos que negar o passado constitua um fundamento aceitável de conduta - que os Estados Unidos vai assegurar o controle de suas fronteiras e a proteção da própria cidadania.  Não é barrando a porta para os refugiados da Síria - tem eles culpa do ditador Bashar al-Assad? - nem negando farsescamente tudo que um iraquiano tenha feito em prol da potência americana (aqui me restrinjo a apenas dois exemplos, mas na verdade, eles abundam, fazendo mais mal à imagem do país do que todas as sandices do passado.)
                  Mr Donald J. Trump  - o senhor já mostrou o poder que tem. Será melhor, no entanto, que ouça a gente que entende do mister, para que renuncie a essa violência, que está envergonhando muita gente que não o merece, e sobretudo parece debochar da Justiça e da Equidade. Um país com a força dos Estados Unidos e a sua tradição na Cultura e no respeito ao Direito das Gentes não deve agir como se imitasse a Idi Amin.


( Fontes :  Jane Austen e The New York Times

Nenhum comentário: