Apesar das
frágeis bases do chamado 'brexit', -
o referendo malconcebido pelo então primeiro ministro David Cameron -que em
janeiro de 2013, pensando inserir tal proposta - que não estava em seus planos
- como parte de esquema de governo, acabou sendo por ela arrastado, forçado que
foi a pedir demissão. A incompetência e a irresponsabilidade de misturar
questões vitais para o Reino Unido com jogadas políticas só poderia dar no que
deu.
Pois David
Cameron não acreditou na probabilidade de que a mudança viesse a ser aceita.
Por isso, e de forma pouco responsável, pensou utilizá-la em jogada menor de
política interna. Como em tantas coisas na história, por mais incrível que
pareça, há que computar a falta de seriedade nas causas de grandes reviravoltas.
Se Cameron
tivesse ainda que uma parcela da séria motivação que levara os dirigentes
ingleses do passado a lutar e, enfim, lograr a entrada na União Européia, que
de resto só se tornara possível com a saída de cena do general de Gaulle, o divórcio com a U.E. não
seria o prato que aguçou a cobiça dos
demagogos da vez. Na verdade, a
questão já fora submetida a referendo , quando
Tony Blair, então Primeiro Ministro, lograra superá-lo, que, em sendo favorável ao governo, então
confirmou a permanência do Reino Unido
na União Européia.
O assassínio
da jovem deputada inglesa Jo Cox por energúmeno, pelo fato de que apoiava a
permanência de Londres na organização de
Bruxelas, já deveria ter sinalizado que tal questão não estava sendo examinada
com a frieza e o apego à razão que ela exige.
Oportunistas
e demagogos pensavam basear as próprias motivações mais consultando os próprios
interesses imediatistas, do que a proceder exame sério da questão que tanto consumira de
esforço dos políticos do século XX.
Mais tarde
se determinaria que um dos proponentes do Brexit,
o conservador Boris Johnson, evidenciara
a própria incerteza - ou certa leviandade - ao ponto de redigir dois
documentos: um a favor e o outro contra o Brexit. Sendo de alguém de realce no
campo favorável à separação, coloca-se a pergunta se questão desta relevância poderia ser tratada de forma
tão brejeira. Seria acaso irrelevante para a velha Albion que tal problema
fosse resolvido de uma ou de outra maneira?
Associar-se ao brexit, como o
fez o líder da extrema direita Nigel Farage (Ukip- partido da independência do
Reino Unido) não tem aproveitado em demasia ao próprio partido.
Depois
que alta Corte do Reino Unido se manifestara favorável a que a Justiça
determinasse da validade ou não do brexit, as dúvidas aumentaram.
Agora, em
seu discurso, a que foi conferida a pompa e circunstância que Theresa May julga ser do caso, a Primeira
Ministra afirmou que "o Reino Unido está saindo da União Européia e minha
missão é obter o ajuste correto para o
nosso país."
Se confirmado o projeto, dá-se início a processo que põe fim a quatro
décadas de firme integração, e que definirá as próprias futuras relações com os
vizinhos.
Londres
deseja recuperar o controle da migração da União Europeia, e rejeita a
supremacia da Corte Europeia de Justiça.
Tais reivindicações - cujo descumprimento é anátema para Bruxelas - já
anunciam, se confirmadas, a irreversibilidade da saída do Reino Unido.
A
Senhora May, em seu discurso, pode presumir que as tratativas correrão rápidas
e favoráveis, mas isso não é a opinião dos analistas do mercado. Nesse sentido, Mark Boleat, o presidente da
City of London Corporation encareceu à Senhora Primeira Ministra que
garanta um ajuste de transição que
ensejaria a segurança que o comércio (britânico) deseja.
Nesse
tipo de negociação, já se falou muito de escolher cerejas (cherry picking). Esse tipo de processo, que privilegia o melhor,
tende a irritar o antigo parceiro, e a dificultar a negociação. É o mesmo que
dizer em português: sair-se sempre com o melhor e esquecer o resto. Não é a
melhor maneira de construir nova relação.
Não
são poucos os problemas desta Inglaterra que decide sair um tanto abruptamente
da U.E. May apela para os antigos
membros da Grã-Bretanha, a quem pede compreensão. A longa supremacia sobre os povos da Escócia,
Gales e Irlanda do Norte resistirá à separação?
Ou julgará preferível a associação com Bruxelas, mantida a mesma relação
de hoje?
Não
há aparentemente uma reação comum desses países, embora a Irlanda do Norte,
pelo que depende de Londres, dificilmente abandonará o barco. Quanto aos outros
dois, sobretudo a Escócia, os
prognósticos não semelham tão favoráveis assim.
Tampouco será fácil a relação dos Tories com os Trabalhistas e os Liberais-Democratas. Assim, Tim Farron, o líder dos
liberais-democratas, afirmou: "Ela (a May) alegou que o povo votou para abandonar o mercado
único. Não é verdade. Ela fez a escolha de causar muito prejuízo à economia
britânica." Tampouco o líder trabalhista, Jeremy Corbyn apoiou as táticas
dos conservadores na questão.
( Fonte:
The New York Times )
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