Escrever sobre Hillary Clinton agora
que a banda passou, o concurso terminou parece sempre mais difícil.
Achei engraçado, estranho mesmo
que Donald Trump se tenha encasquetado
que a vitória de Hillary na votação popular haja sido o fruto de... fraude
eleitoral.
Essa alegação parece patética demais
para que se pense dar-lhe uma resposta
séria. Sem embargo, ela nos convence de outro fato, que também semelha
inegável.
Pois Donald Trump continua a ser o
menino mimado que está destinado a herdar todo o poder do próprio pai... e quem
sabe, muito mais.
Que Donald John Trump não se contenta
com pouco. E é exatamente por isso que é
difícil para ele conviver com o fato de que a hodierna Hillary, a que a mídia cita sempre menos, e quando o
faz, carrega no aspecto picaresco (Hillary, a estóica) - além de achar bizarro
que a sua obsessão em diminuir - ou melhor reverter - a vantagem obtida pela
adversária em uma potoca da mídia, como se fossem votos de imigrantes
ilegais...
Não sei como Trump vai terminar - a
mega-confusão aprontada pela Ordem
Executiva contra o Islam já mostra que a confusão e o caráter primário de sua
suposta investida contra o terrorismo não poderia ter sido mais cheia de furos
e de inépcias do que a sua campanha - que espalhou sofrimento por tanta gente - de verdadeiro ferrabrás obsessivo está demonstrando.
Nada disso ocorre à toa. Mr Trump desperdiça a boa vontade e o
respeito devido ao presidente iniciante.
Se a sua incapacidade ou falta de visão vai sendo demonstrada sob os
olhares nervosos de seus até aqui fiéis partidários, e se nesse exercício o campeão da direita vai desperdiçando a sua
mágica de invencibilidade, a aliança que o elegeu sente crescer-lhe o
nervosismo que é filho da própria incapacidade.
Entende-se que o discurso dos
republicanos mude se é feito no segredo das câmaras - porque como se traduzirá
o desastre anunciado com o Obamacare?
É fácil destruir uma legislação que beneficia vinte milhões de eleitores? Teoricamente, sim, porque o GOP dispõe da
maioria nas duas casas - a primeira, a da Câmara de Representantes, com o gerrymander; a segunda, no Senado, a
cada dois anos, em pleitos abertos e sem maracutaias. Trocando em miúdos, a primeira
é uma rocha, mas sujeita a chuvas e trovoadas se os ventos mudarem, e a Justiça
começar a determinar a refeitura dos distritos eleitorais, hoje em muitos
estados desenhados na lógica bandida inventada por aquele governador do Massachusetts,
no século dezenove.
Então, se o governo Trump
gastar toda ou quase toda a sua popularidade em canoas furadas, as
consequências não tardarão a sobrevir no Legislativo. Um presidente impopular
não tem coat-tails - aquelas abas de
casacão que ajudam os demais políticos do mesmo partido a se reelegerem.
Mas tudo isso não é pr'a já. É decerto um
processo lento, mas nada como erros garrafais - a exemplo dessa campanha contra
os muçulma-nos - para preparar e amaciar o terreno, e tornar o que parecia
impossível, possível.
E é aí que Hillary Clinton
deve entrar. Primeiro para desmentir a campanha de mentiras que foi feita
contra ela. Segundo, manter vivo o esbulho do canal privado de seu
computador. Terceiro, esquecer
James B. Comey, mas lembrar a ajuda pontual que deu ao adversário, e não
por uma só vez, para duas e meia.
Será acaso necessário ficar longe de amigos como Barack Obama? Não creio que seja o caso. Talvez o maior erro dele tenha sido confirmar o republicano James Comey. O bipartidismo só existe se ambos estão dispostos a reanimá-lo. Não vejo no GOP esse ânimo... Mas não choremos sobre o leite derramado, as
acusações sobre a maneira sloppy de tratar as comunicações, e os
dois patéticos chamados à atenção do Diretor Comey aos amigos do
Congresso, os dois contrários ao
regulamento da Secretaria da Justiça, mas o último, convenhamos, foi uma tacada
daquelas de nocautear a adversária...
Hillary, não esqueça os
seus amigos. Começando pelos afro-americanos. Volte a frequentar as passeatas
de mulheres. Por mais que a atitude de muitas seja de desconfiança, elas têm
diante de si o que representa o erro de apoiar a quem não tem condições de
chegar lá.
Se não deve ter dúvida
de que Donald J.Trump pelo seu primitivismo e pelo horror de sua política
republicana será um de seus grandes eleitores,
não esqueça nunca os negros, os latinos e as mulheres. Queiram ou não, eles são a sua grande base. Há muito ódio, muita inveja, muita
mesquinharia ainda solta, não só contra os Clinton, mas também no Partido
Democrata.
E, sobretudo, não
tenha vergonha de fazer política, de mostrar o quão melhor Você e os democratas
têm condição de ser, nessa grande aliança das mulheres, dos negros, dos latinos
e de toda a comunidade bem-pensante dos Estados Unidos.
Os espertos burros podem ganhar uma eleição
- conquanto aí esteja a votação popular para mostrar quem realmente tem maioria
nesse país. Por isso, os democratas
serão sempre temidos, porque eles não têm medo de eleição, desde que honestas e
abertas a todos. Não é sem razão que o
Partido Republicano tem medo do voto e por isso tudo faz para desencorajar a
aliança das minorias populares - que todas juntas, como eles bem o sabem - formam
a grande e vitoriosa maioria.
Confiança, portanto,
Hillary, que a partida mal começa!
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