A direita
populista está no poder. Por quanto tempo nele ficará, só Deus sabe. A reação
contra as ideias e as proposições de Donald John Trump, ainda que diminuídas de
início pelo imenso espaço que confronta o Capitólio em Washington, teve a repercussão como que reduzida também
pelas características da cobertura oficial do evento.
Até o momento não se fez qualquer
referência à presença da candidata supostamente derrotada nas eleições de
terça-feira, oito de novembro de 2016, dentre os assistentes nos assentos
reservados do Capitólio da cerimônia oficial da posse.
Na verdade, Hillary acompanhou o
próprio marido Bill Clinton, um dos presidentes mais populares dos Estados
Unidos, mas tal não faz desconhecer-lhe o real significado da aceitação pela
candidata democrata das regras do jogo, por mais trucadas que elas tenham sido,
como marca a inusitada intervenção do Diretor do F.B.I. James Brien Comey, no
andamento dos comícios, notadamente durante a votação antecipada que muitos
eleitores americanos costumam utilizar.
Mas as clamorosas injustiças não
sóem guardar silêncio por muito tempo. Muitos choques com a polícia ocorreram
ontem, no imenso mall que circunda o
Capitólio. Houve violência nos confrontos, e mais de duzentas prisões foram
feitas pela polícia. No corrente sábado, a principal marcha de protesto deve
realizar-se nesse espaço nacional acima referido.
Todavia, não se iludam, pois cresce
a indignação das mulheres, não só pelas idéias misóginas do novo Presidente -
como as sinalizou durante a campanha presidencial, com observações sobre Megyn
Kelly, Carly Fiorina (efêmera candidata à nominação no GOP) e a própria Hillary Clinton. Esta última sempre foi detestada
e perseguida pelo estamento republicano, como o sinalizam, às mancheias, as
dezenas de sessões que a Câmara de Representantes, hoje e ontem com a firme
maioria do gerrymander, convocara no
seu esforço de atrapalhar, atenazar e abafar a candidatura democrata de
Hillary, que já se prefigurava no horizonte pós-Obama. Tais republicanos
ganhariam dádiva inesperada, com que singular e tristemente contribuíu, durante
a eleição (em especial, a antecipada) o já amplamente referido diretor do FBI,
máxime para os peculiares anais da história, do vale-tudo e do preconceito.
Tudo indica que o inverno em Washington
terá versão amena neste sábado. Como o sinaliza o New York Times as conquistas a serem defendidas incluem liga
abrangente e extensa, em que se contemplam as reprodutivas, do meio-ambiente, da
equidade nos salários,da justiça racial, as das comunidades L.G.B.T.[1], , e os direitos dos
imigrantes, estes mais ameaçados do que nunca.
Preocupam deveras o estamento liberal as idéias retrógradas do novel
presidente quanto à liberdade sexual e, em especial, contra a sentença Roe v. Wade, que é vista pelas mulheres
como expressivo marco do direito de aborto. Há fundados temores que a idade de
dois membros do Supremo com mais de 75 anos (a aposentadoria nos EUA para tais
juízes depende exclusivamente da vontade dos próprios) já sinalize eventual
brecha para a futura ação de Trump. Por outro lado, o Senado, com maioria do GOP sequer animou-se a considerar a ótima
indicação de Obama do juiz Merrick Garland para preencher a
vaga aberta pela morte de Antonin Scalia em fevereiro de 2016 no Supremo. Tal
inusitada decisão, adotada pelo líder republicano Mitch McConnel, mostra a
suposta primazia no interesse do GOP de manter a maioria na Corte Suprema,
através da jogada de deixar a questão para o próximo governo. A sorte - ou seja
lá o que for - os favoreceu, deixando, no entanto, o pouco honroso rastro de
privilegiar o partido, mesmo sobre o
interesse da Justiça.
( Fonte: The New York Times )
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