sábado, 14 de janeiro de 2017

Santa Sé, EUA e Crise Palestina

                           
       O papa Francisco recebeu no Vaticano o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, que veio inaugurar a missão diplomática da Autoridade junto à Santa Sé. Se Barack Obama nunca teve a coragem de enfrentar o Israel de Bibi Netanyahu em termos de melhores relações com a Autoridade Palestina, não carece de ser nenhum Nostradamus para prever que as coisas vão piorar e muito para os palestinos sob o governo de Donald Trump, que nesse ponto seguirá a política pró-Israel que é própria dos governos republicanos americanos (ainda mais à direita do que a dos democratas).

       Nesse ponto, infelizmente, não há mudanças substanciais na política americana para a crise médio-oriental.  Dado o peso da comunidade judaica nos Estados Unidos, Washington costuma seguir em geral posições pró-Israel, embora, dadas as inflexões políticas, a postura do GOP será ainda mais leniente com o governo de Tel Aviv.

        Haveria, no entanto, ulterior sensível deterioração nessas relações com a Autoridade Palestina se Washington aprovasse uma mudança da própria missão diplomática para Jerusalém, que teria resultados ruinosos sobre as relações em geral. Além de ser um desrespeito dos tratados e resoluções internacionais sobre a matéria, não seria nada boa a mensagem que se passaria para a comunidade internacional e os movimentos pró-Palestina.

         O isolamento diplomático de Israel, em face sobretudo de sua perseguição à comunidade palestina constitui um dado da diplomacia internacional que já perdura por bastante tempo. O mais grave seria se o restante do mundo continuasse a afastar-se diplomaticamente de Israel - e tal só tenderá a agravar-se com a eventual transformação do status de Jerusalém. Ora confiantes ainda mais no apoio do governo Trump, a agressiva política de Bibi Netanyahu contra a comunidade palestina e os árabes à sua volta só projetaria imagem desse governo de Tel-Aviv, como um autêntico pária internacional.  Se já atualmente a administração de Benjamin Netanyahu, a um tempo anti-palestina, autoritária e demagógica, com vários escândalos no gerenciamento das finanças tornará as próprias perspectivas - marcadas pela agressiva política anti-palestina - ainda mais incertas e graves com a temerária postura de romper com tratados e resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, ao tentar estabelecer, contra vento e maré, a sede do governo israelense em Jerusalém.  Tal confirmaria em enorme retrocesso nas perspectivas de paz para o Médio Oriente e o estabelecimento de ambiente na antiga Palestina seja conducente à paz e ao entendimento.

               Não há dúvida que o escopo da política de Bibi Netanyahu e da comunidade israelense que o sustenta implicaria em ulterior provocação ao movimento pela paz naquela região. Somado o respectivo  menosprezo, agressivo e militante, por genuíno entendimento com os palestinos, entendimento este que presume o estabelecimento de condições mínimas de convívio, coexistência e respeito mútuo entre as comunidades lá sediadas, tudo isso garantiria muita violência e muito sofrimento, que alguém com a sofisticação e o preparo intelectual de Donald Trump na Casa Branca representaria decerto outro agravante  para o aprofundamento da crise médio-oriental.

            Por conseguinte, dadas as condições prevalentes na região, realmente, como tenho dito e repetido, pode-se dispensar o problemático recurso de buscar algum Nostradamus para antever que com um bronco como Donald Trump na Casa Branca, tal condição só tenderia a agravar-se...       



( Fontes: The New York Times; The New York Review of Books )

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