Superficialmente, o domínio do GOP
sobre os poderes executivo, legislativo e judiciário semelha indiscutível. A
Suprema Corte continua com um membro a menos, por causa da recusa do GOP - e especificamente de Mitch
McConnell, o líder da maioria republicana no Senado - de sequer conceder ao
Juiz Merrick B. Garland (a proposta de
Obama para preencher a vaga no Supremo) o benefício de ter a chance de contar
com a própria candidatura examinada pelo plenário.
É a chamada
tática republicana, que escarnece das idéias, e prefere apelar para a negação
nua e crua, do que correr qualquer risco, muito menos elevar a qualidade de um
Supremo envelhecido e com grande necessidade de renovação.
Em
consequência da quebra da regra do fair-play pelas hostes do implacável mas não
excessivamente brilhante Mitch McConnell
(aquele que prometera fazer de Obama presidente de um só mandato...), os
republicanos tem pela frente o exame diligente, por vezes sardônico, outras no
limite da hostilidade pela bancada minoritária democrata, e sempre
não-apressado das indicações de Donald Trump para o gabinete. Depois de muitas
aprontarem, os coleguinhas republicanos terão de aguentar poucas e boas, no
exame pelos senadores democratas de um ministério que concorre pra valer para
ser um dos mais fracos da República estadunidense...
Os
republicanos já salivam a oportunidade de tentar destruir o legado de Barack Obama. O ataque inicial se voltará contra a maior conquista democrata - a lei do
tratamento médico custeável -, a que o GOP
sempre chamou de Obamacare, tentando
menosprezar uma grande conquista democrata, que barateou a assistência médica para
o povo americano em geral e a tornou igualmente acessível às classes mais
pobres em particular.
A Câmara de Representantes - apesar do nome, a representatividade deixa
muito a desejar, por ser o resultado do gerrymander,
isto é a manipulação dos distritos eleitorais - feita quando da derrota do shellacking (tunda), causada pelo inepto
primeiro biênio ( em termos de política menor) de Barack Obama.
A
embaraçosa circunstância de que essa Câmara esteja sob domínio republicano
(nos seis anos dos oito que completará em breve o 45º presidente americano), o
que além de privar a política estadunidense de uma real disputa entre a direita
(republicanos) e a esquerda (democratas), constituíu barreira intransponível
para a aprovação de legislação mais aberta e progressista. Tais são alguns dos
efeitos da fraude que a Câmara representa: isso não está decerto no que se
desejara fosse o seu papel dentro do jogo político americano. Transformou-se em
mais do que um feudo do Partido Republicano, mas também em um atoleiro para
qualquer legislação progressista. Morreram ali uma política racial mais equânime
e justa, a par de uma política migratória mais aberta e democrática. É um lugar sem brilho, a par de clamar contra a Constituição, sendo uma chaga aberta
no que tange à democracia e às votações não-falseadas. Por quanto tempo isso há de perdurar vai depender
do próximo censo e das maiorias nas assembléias estaduais que foram objeto do
gerrymander . O que é mais do que
lamentável é o seu congelamento como fruto de uma enorme fraude, cuja
continuidade é de certa forma coonestada pela grande imprensa - que não menciona
o que está por trás do domínio do GOP nesta Câmara. Somente em revistas como The New York Review este desvio e esta fraude são discutidas
sem rebuços.
Infelizmente, por outro lado, o
impensável - como o chamara Michael Tomasky - ocorreu e o fraquíssimo Donald
Trump, sabe-se lá como (as recontagens em Michigan, Pennsylvania e Wisconsin
não contaram com apoio pró-ativo do Partido Democrata), logrou o impossível,
i.e., arrebatar a presidência. Como esse blog
já o comentou, não foi sem um empurrão do diretor do F.B.I. James Comey (que tradução
de artigo publicado neste blog o revelou
de forma indubitável). O mais penoso nisso tudo é a circunstância de que foi Obama
quem nomeou este senhor republicano para tal lugar-chave.
Não se carece ser dotado de qualidades de Nostradamus para prever que o
quadriênio de Trump - imaginá-lo reeleito será talvez quase impossível...- há
de contribuir de forma bastante eficaz para o tão apregoado declínio de Tio Sam, a ver-se tanto pela
qualidade de seu gabinete, quanto pela
militante filosofia desse milionário
do Grand Old Party...
Sem embargo, até mesmo o mal pode trazer o bem e, por conseguinte, boas
consequências para os Estados Unidos. Se Donald Trump não desmentir o passado
retrospecto, é de prever-se que, já nas
eleições intermediárias de 2018, o Congresso pode balançar, e se Trump meter os
pés pelas mãos, como é seu hábito, não se pode excluir que o Senado volte ao
regaço democrata, e no biênio seguinte se opere o milagre na Câmara baixa,
afinal levando de volta à presidência, como Madam
Speaker a Nancy Pelosi, a corajosa e
hábil representante democrata. E se tal acontecer, terá o burrinho democrata
sobejos motivos para agradecer a ajuda recebida do 46º presidente...
( Fontes: Michael Tomasky, Elizabeth Drew, e outros articulistas em
The New York Review; e The New York
Times )
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