sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

A economia paralela de Cabral

                              

        A húbris, esta atitude ou paixão, em que mortais se comparavam aos deuses, não é só característica da velha Grécia, mestra dos homens.
       Aqui, em Pindorama, até pensaram poder criar reinos de mentirinha,  como Sérgio Cabral e Eike Baptista.
        Filho de empresário, surpreende que Eike não estivesse vacinado contra as ilusões da riqueza fácil, assim como de sua suposta imunidade aos castigos da Lei, que perseguiriam apenas a gente miúda.
       Por sua vez, o político Sérgio Cabral, filho de jornalista, terá pensado que cadeia e a deusa da vingança, seriam sina de pobre, e mais rápido ascendesse na escala do ouro, mais se distanciaria da pesada mão de dona Justa.

       Via-se nos jornais, a relação das obras para as Olimpíadas e antes para a Copa do Mundo. E apenas um folhear distraído já assinalaria luzes vermelhas a piscar, falando de sobrepreços aqui, e de propinas acolá. A coisa se tornara tão corriqueira que chegara a aparecer, como  anotação descuidada, sobre obras de reparação e quejandas, todas com a participação de Sérgio Cabral.
       O outro, atacado por um juiz voraz, tinha ganho sobras de simpatia, dadas as farsescas peripécias, desse magistrado que sequer resistira a dirigir o carrão de que decretara a penhora, e que pertencia ao mega-empresário Eike Batista.

       Nem os magnatas da gilded age[1], quando a riqueza irrompia na terra de Tio Sam, e já se lhe anunciava a pujança - a que, em geral, acompanha no seu trem dona corrupção - terão ousado exibir-se tanto.
      Sem embargo, como mostra Miriam Cabral na  coluna hodierna, os dois poderiam ter sido a renovação do Rio.  Na sua descrição, e como muitos outros, Sérgio Cabral chega ao poder no Rio aos 43 anos, com discurso de moralidade na política. Como descreve a colunista, poderia ter sido assim. Pena é que não foi. Em 2007, a sua nova política de segurança ocupa favelas, enfrenta o tráfico e derruba muros na velha cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro. Na educação, logra um grande salto no Ideb: de 26º para 4º lugar. Poderia, dessarte, tornar-se a própria inventada máscara. Mas ao invés do político jovem e de grande capacidade administrativa, outras ambições já nele se tinham aninhado.
            A conta no exterior ele a entrega a um operador. Dessarte, a carreira na ilegalidade antecede a própria chegada ao Palácio Guanabara.

            Por sua vez, Eike Baptista, que surge como o empresário com espírito de liderança, na descrição de Miriam Leitão, sempre aparenta ser  o grande empreendedor, com espírito agressivo, e que adentra áreas em busca da liderança.  Havia, no entanto, desconfiança quanto aos próprios métodos, e dúvidas quanto a seu papel na modernização  do capitalismo nacional.
             Miriam relata a esperteza de Eike, que se adianta ao M.P.F.. Ao invés de negar, confidencia o que o Ministério Público sequer sabia: pagamento de contas de campanha de Dilma (pedido do Ministro Mântega), e transferência ilegal para os marqueteiros da Presidenta. 
             Por outro lado, e mais tarde, a Operação Eficiência desvendaria aquilo que escondera, i.e., suas relações perigosas com o governador Cabral.

             Muito se esconde ou se desconhece do sofrimento da gente que depende dos cofres do Estado, tanto pessoal miúdo quanto até graúdos. Mais uma vez, o Rio de Janeiro assinou termo de compromisso com o governo federal para lograr alívio  de três anos no pagamento de suas (muitas) dívidas. E nesse mesmo dia, segundo relata Miriam, foi exposto  pela tríade (MP, P.F. e Receita Federal) o esquemão que levou  US$ 100 milhões para as contas de Sérgio Cabral  e dois de seus assessores mais próximos.
               Esse acordo, para que tenha validade, carece que o Congresso aprove lei suspendendo temporariamente a validade da Lei de Responsabilidade Fiscal; e a Assembléia do Rio (a notória Alerj) vota as medidas do ajuste para que, e só então, o acordo tenha validade.

               É melhor pensar logo e depressa nos muitos aposentados cariocas que dependem do Erário de Pezão. São mofinas injustiças que somadas, produzem  grande,  mas até hoje sopitada, revolta.
                  Muito se atribui à "maldição do petróleo".  É chover no molhado dizer que a renda do petróleo caíu de repente. Não há nada mais lábil do que os rendimentos dos barris de petróleo. Que o digam os países que dele dependem, como a Rússia de Vladimir Putin. Não me reporto aos que nadam no ouro negro, como Arábia Saudita, por que esses se acham em outra dimensão.
                  Assim o que afirma o Governador Pezão, sobre a dita maldição, deve ser tomado com reserva.  Como diz Miriam Leitão, a boa administração está aí para isso.

                  Outra coisa a controlar está no excesso de subsídios fiscais, que salivam a boca insaciável de muitas empresas, mas cortam os fundos do Estado, o que no final se traduz em déficits. Dessa farra fiscal já se falou em páginas deste blog. E, como na fábula, quanto mais comem, mais  querem as supostas beneficiárias desses agrados fiscais, que ao cabo se traduzem em menores receitas para o Estado e as consequentes inadimplências...

( Fontes: Coluna de Miriam Leitão e páginas deste blog.)



[1] Idade pintada a ouro, assim denominada por Mark Twain no período de explosão do crescimento industrial (puxado pelas ferrovias e siderúrgicas) nos Estados Unidos (1870-1900)

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