domingo, 29 de janeiro de 2017

Justiça reage ao decreto de Trump

                      
       A juíza Ann M. Donnelly, da Corte Federal Distrital, de Brooklyn, nomeada pelo Presidente Barack H. Obama, veio em ajuda de dezenas de refugiados e outros estrangeiros que se acham detidos em aeroportos nos Estados Unidos, por força da Ordem Executiva do Presidente Donald Trump.
         A determinação judicial bloqueou em parte o decreto do Presidente Trump, ao suspender a ação governamental de deportação de estrangeiros recém-chegados, que haviam sido colhidos pela Ordem Executiva.
         No entanto, a juíza Donnelly optou por deixá-los, por assim dizer, no limbo, eis que os estrangeiros ficaram detidos nos compartimentos especiais do aeroporto, reservados àqueles que não tenham determinada a destinação final. Tampouco a juíza emitiu na sentença qualquer consideração sobre a constitucionalidade da ação presidencial.
         Sem embargo, uma multidão se aglomerou na cercania da Corte Distrital, gritando "Liberte-os". Apressou consideravelmente a emissão da  sentença judicial, quando os advogados da ACLU (União Americana em defesa das liberdades civis) testemunharam na Corte  que uma das pessoas detidas no aeroporto estava sendo colocada naquele momento em avião com destino à Síria para ser deportada.
         De acordo com a supra-referida Ordem presidencial, fica suspensa a entrada de todos os refugiados nos Estados Unidos - a partir da tarde de sexta, 27 de janeiro corrente - por cento e vinte dias. Para os refugiados da Síria, a ordem vale por tempo indefinido, assim como bloqueou o ingresso de passageiros muçulmanos  nos EUA a sete países  dentro de prazo de noventa dias  (Irã, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iemen).

           O Departamento de Segurança Interna também barrou a reingresso de cidadãos desses países  que são portadores de cartas-verde (green-card)  de reentrarem nos Estados Unidos. De início, tais cidadãos que gozam de residência permanente em território americano teriam que decidir a obtenção do waiver (autorização especial) caso por caso.  Não obstante, segundo consta, esta determinação já foi rescindida, e os portadores de green-card podem regressar a qualquer tempo.
               A reação jurídica, defendendo os estrangeiros residentes nos Estados Unidos, subitamente atingidos pela inesperada ordem presidencial, a princípio incerta e hesitante, pelo próprio caráter caótico da determinação do Olimpo, não tardou muito em organizar-se para defender os estrangeiros do voluntarismo e da imprevisibilidade da Ordem Executiva do governo Trump.
                O empenho legal da ACLU começou com o caso de dois iraquianos detidos no Aeroporto Kennedy. Um deles viajava para reunir-se com sua mulher e filho no Texas. O outro trabalhara com o Exército americano durante uma década.
                Quando Hamid Khaled Darweesh, assistente-intérprete do Exército americano no Iraque, depois de dezenove horas de detenção, se viu afinal solto, pôs as mãos para trás, imitando o porte das algemas que até aquele momento lhe tinham sido impostas.
                A família Darweesh - viajara como imigrante especial, com mulher e três filhos - foi separada no aeroporto, com a sua detenção. Como um raio, a ordem de Trump o deixou atônito.  Como explicar tal reação americana depois de dez anos de serviço, trabalhando de intérprete, engenheiro  e encarregado contractual? Daí o pranto, antes de reunir-se com a família. A sua liberdade seria conseguida na base do habeas corpus.

                  Como se vê, a democracia americana muito depende do aporte de organismos civis de defesa dos cidadãos e não-cidadãos americanos.  A ação desses últimos está muito centrada na perpétua vigilância na implementação de tais fins, como no trabalho da União Americana em defesa das liberdades civis (ACLU), diante dos inúmeros casos criados pela irresponsável Ordem Executiva do Governo Trump.
                   Não sei se há fábula sobre algum soberano em que a maldade residia sobretudo na falta de lógica, e portanto na própria cruel imprevisibilidade. Se não existe, Donald J. Trump acabou de inventá-la.
                

( Fonte:  The New York Times )

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