segunda-feira, 2 de julho de 2018

Na Crimeia anexada


                              

         A insolente punição de Vladimir Putin, por causa da derrubada pela revolta popular da praça Maidan do regime corrupto pró-Rússia do presidente Viktor Yanukovich, da Ucrânia, em janeiro de 2015, foi a anexação da península da Criméia.
         Coordenadas pelo presidente Obama foram aplicadas sanções pontuais contra a Rússia, em especial em tudo que se reporte ao território da província da Crimeia, que integrava o território da Ucrânia, e que foi insolente e provocativamente anexado manu militari por  destacamento do exército russo, ajambrado com  uniforme apátrida, e contando com a fraca, quase invisível, reação da pobre Ucrânia, mesmo diante de uma invasão de fancaria, com um exército que sequer teve a ombridade de vestir o uniforme da imperialista Rússia.
         Por disposição da Assembleia Geral, de que vergonhosamente  se dissociou a diplomacia de Dilma Rousseff que teve a ignara e estúpida ideia de manchar toda a nossa tradição diplomática de respeito aos tratados, máxime no que tange ao cumprimento do traço das fronteiras entre os Estados, ao ponto de recomendar aos representantes diplomáticos que indicara como nossos representantes nessa Conferência das Nações a triste, vergonhosa instrução de abster-se sobre a Recomendação da AGNU - pela presença da Rússia no Conselho de Segurança a decisão no caso só poderia ir para a Assembléia Geral, onde não há resoluções mandatórias, mas fracas, suasórias recomendações.  E mesmo em tais condições - por ignorância, ou por menosprezo da tradição de Rio Branco - nossa delegação manchou o próprio nome assentindo a uma vexaminosa abstenção. Nenhuma nação com a tradição do Brasil de respeito aos tratados e às fronteiras consequentes pode conspurcar o nome dos próprios delegados e de sua tradição juridico-diplomática, omitindo-se dessa forma diante de um crime imperialista como o praticado então pelo ditador Vladimir V. Putin.  Não terá sido decerto por ignorância, mas sim por abjeta vontade de agradar  a ditadura moscovita essa mancha na nossa diplomacia, determinada por uma presidente que dissociou-se de uma tradição multissecular de respeito às fronteiras e à terminante renúncia à rapacidade das anexações de territórios de países vizinhos. A esse propósito, há também uma página a que prestamos a devida homenagem, de professores da Fundação Getúlio Vargas que escreveram sobre a verdade e o respeito ao direito internacional público, quando a presidente e o  ministro desrespeitavam os nossos maiores, a começar pelo Barão de Rio Branco, o paradigma imortal de nossa diplomacia.
             A propósito da Crimeia anexada, o Estado de S. Paulo fez reportagem que confrange, pela tibieza dos habitantes daquela península, mais preocupados em nada dizer, do que expressar qualquer reação contra a invasão pela Rússia. A esse respeito, se entenderá melhor o temor que o domínio russo inspira, se tivermos presente  o que reserva aos países que com a dita Nação tem delicados confins, a ponto de que faça legislação que, coberta apenas por um leve véu de frágil respeito à independência alheia dos países que têm  a má sorte de ombrear com o urso russo, tal legislação se veste de somente  sombra de suavíssimo respeito à suposta soberania do país limítrofe através da aparentemente anódina expressão "estrangeiro próximo".
                Dada a repressão a que os habitantes da Crimeia estão hoje submetidos, ninguém quer falar de Ucrânia. Todos nessa grotesca versão do medo mais do que inspirado, possivelmente infligido pelo poder colonial russo, todos os crimeanos sempre torceram "desde garotinhos" pela Rússia, e sequer se lembram de qualquer coisa que recorde a presença ucraniana entre eles...

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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