quarta-feira, 25 de julho de 2018

Brasileira é morta por paramilitares


            

         Em um país   dominado pela guerra civil,  a Nicarágua não é decerto o local ideal para estudos médicos. É mister, no entanto, compreender que a brasileira Raynéia Gabrielle Lima, de 31 anos,  que já estava no sexto ano da Faculdade de Medicina de Manágua pensava terminar aí seus estudos e retornar ao Brasil após colar grau.
           Segundo o reitor da Universidade em que ela cursava o sexto ano de Medicina, Raynéia, e colegas que participam desde abril do ano corrente de protestos contra o governo, ela foi morta por esses mesmos milicianos. Nesse contexto, a polícia local sustenta que o autor dos disparos foi um segurança privado.
            Agremiação de estudantes de oito universidades nicaraguenses, a Coordinadora Universitaria, disse pelo Twitter que Raynéia voltava para casa sozinha quando seu veículo foi atingido perto do Colegio Americano por tiros disparados por paramilitares. Os estudantes suspeitam que ela tenha sido morta por milicianos que vigiavam a casa de Francisco López, tesoureiro da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), que dá suporte ao governo de Ortega.
             O  Reitor da Universidade Americana (UAM) Ernesto Medina, reforçou que os disparos ocorreram quando ela ía para casa em seu automóvel. A residência dela fica em bairro nobre de Manágua,  o Lomas de Montserrat, onde é comum a presença de paramilitares.
             "Nesta zona vivem vários funcionários do Governo e há testemunhos da presença de paramilitares na região. Não pode ser que estejam matando gente impunemente. Vamos exigir que se investigue porque sabemos onde ocorreu. Pelo menos eles (a polícia) devem investigar e  interrogar este senhor (Francisco López)", afirmou Medina.
               Rayneia estava perto de terminar o curso e já fazia residência, disse ao Estado seu Pai, Ridevando Pereira. Ele afirmou que soube da morte da filha por meio de uma ligação da embaixada brasileira. Segundo ele, a família tinha poucas informações e obtinha atualização pelas redes sociais e pela imprensa.
                A brasileira trabalhava como médica do Hospital Carlos Roberto Huembes, da polícia nicaraguense.  Segundo a embaixada do Brasil em Manágua, ela tinha saído do trabalho, onde era plantonista, quando foi vítima dos disparos. Raynéia era acompanhada à distância por seu namorado, o nicaraguense Harnet Lara, que dirigia outro veículo atrás da brasileira. Foi ele quem a levou para a emergência do Hospital Militar.  Lara foi internado em estado de choque.
                  A Nicarágua enfrenta uma guerra civil que matou até onze de julho  264 pessoas, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). A ONG Associação Nicaraguense pelos Direitos Humanos afirma que já houve 351 mortos até o dia dez.
                   Rayneia ingressou ainda com vida no Hospital Militar Escuela Doctor Alejandro Dávila Bolaños  às 23:30hs de segunda feira. O disparo tinha comprometido  o fígado, o pulmão direito e o coração, segundo o governo.  A versão de que um segurança privado a matou foi reforçada pela vicepresidente, Rosario Murillo, em sua participação diária  no canal 4, usado como porta-voz do governo. Mulher de Ortega, Rosario Murillo mandou um abraço à família e assumiu o compromisso de esclarecer os fatos.
                   Segundo informações da embaixada brasileira, o reconhecimento do corpo  já foi realizado e os resultados da autópsia são esperados para os próximos 45 dias. Ainda não havia prazo para que o corpo da estudante seja liberado pelas autoridades e possa ser trazido para o  Brasil.
                     Durante a tarde de ontem, alguns estudantes se concentraram em uma rotatória e se manifestaram pedindo justiça pela morte da brasileira. Eles atribuem o crime diretamente à repressão governamental.  O protesto foi pequeno  e reuniu cerca de trinta  estudantes e médicos.

( Fonte: O Estado de S. Paulo  )

Nenhum comentário: