sexta-feira, 13 de julho de 2018

Cresce a ameaça de impunidade: Marielle


                    
          Por que a impunidade é tão comum na Justiça brasileira? Nos megacídios como o da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, mais do que espanta, na verdade estarrece que a necessidade de que se faça justiça não se sinta nas investigações e no processo.
           Como não é o primeiro exemplo,  desperta consternação e, particularmente  vergonha que num crime como o que ceifou Marielle e o motorista Anderson, as investigações se arrastem com uma lerdeza que vai chegando ao deboche e, mesmo ao desplante da desmoralização.
            Por isso, os pais da vítima dizem temer que o crime do Estácio, cometido a catorze de março p.p. se encaminhe para a impunidade.
            Marinete e Antonio Francisco da Silva Neto assinalam recear que o crime de catorze de março fique impune: "A gente está chegando a quatro meses com essa incerteza, com essa indefinição. É um projeto que foi ceifado de uma maneira brutal. É bem difícil ainda continuar sem resposta. Me parece estar chegando a um ponto de impunidade - disse Marinete, lembrado que a filha faria trinta e nove anos no próximo dia 27."
              Por sua vez, a companheira de Marielle, Moníca Benício, usou ontem as redes sociais para cobrar o resultado das investigações da polícia, assim como para fazer um desabafo: "120 dias  chorando ao dormir e ao acordar, quando sinto o lado direito da cama vazio".
               A Anístia Internacional defendeu mais uma vez a necessidade de instalar um mecanismo independente e externo de acompanhamento das investigações.
                Grita aos céus que aconteça no Brasil e, em especial no Rio de Janeiro, que uma representante como Marielle Franco seja submetida a esse processo de aparente imersão no rio do Lethes (esquecimento), em que após as usuais tonitruantes promessas de Justiça (a com jota maiúsculo) cessem nas declarações das autoridades competentes, enquanto se orquestra, em salas discretas, o processo de um criminoso olvido, em que se vai implantando, como se nada fora, a tenebrosa conspirata do silêncio.
                   Serão  a cultura carioca , quiçá  a  brasileira  tão cínicas,  capazes  de montar esse circo da hipocrisia e da desfaçatez, que acha mais oportuno encobrir do que escavar na terra ainda solta que recobre esse ato vergonhoso ?
                     Toda vítima que - como Marielle e Anderson - caíram por uma vil conspirata a que não ousam desvelar a horrenda carantonha, pode sentir-se duplamente abatida:  não só pelos torpes assassinos, senão pela malta que hoje os protege, inviabilizando a ânsia de Justiça.
                      Que país é este, e que terra é esta, onde se debocha da Justiça, primeiro ao encená-la, e mais tarde ao enterrá-la, como se fora um monturo a que se tem pressa de ocultar?
                       Terra que não condena os próprios criminosos, e ao encenar as investigações e interrogatórios, a que Poder pensa estar homenageando?
                        Em que nível estamos e aonde vamos, ó gente do Rio de Janeiro?
             
( Fonte:  O  Globo )

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