terça-feira, 31 de julho de 2018

Política e nomeações judiciais


                                     
        Embora não devesse aí estar, o título do blog hodierno - que se inspira em editorial do Times - reflete o pensamento segundo a realidade americana. Nesse sentido, o Senado, ao examinar a qualidade dos candidatos partidários aos postos judiciais - seja na Corte Suprema, seja nas cortes inferiores - tem necessariamente presente a sua própria maioria, se democrática, se republicana, e os respectivos fins políticos.
          Dessarte, não é a qualidade do candidato ao posto judicial que interessa aos dois Partidos, embora tal característica esteja mais presente com as indicações de democratas. Sem embargo, o Presidente Obama, ao dispor dessa imprevista vaga na Corte Suprema, em função da súbita morte de um juiz - Antonin Scalia - não pôde ou não quis valer-se  dessa oportunidade que lhe seria acintosamente 'cerrada' pelo Líder republicano da então maioria no Senado, Mitch McConnell.
         Nessa altura, nos vem à lembrança a frase imortal de Georges Buffon no seu discurso de recepção perante a Academia Francesa - o estilo é o próprio homem.                          
         Estarrece ao observador  que  Obama tenha realizado apenas uma parte do dever que tinha pela frente. O então presidente terá ultimado a parte que para muitos seria a mais difícil: escolher alguém que estivesse à altura não de Scalia, expoente ultra-conservador, mas do pensamento liberal que caracteriza um mandatário democrata da linhagem universitária de Barack H. Obama. Reporto-me ao grande nome que indicou em vão,  o juiz Merrick Garland.
          Sem dar-se conta, ele inconscientemente jogou o jogo do medíocre republicano Mitch McConnell. A desfaçatez do líder da maioria republicana deveria ser enfrentada com energia e debate nacional sobre a arrogante postura dos republicanos de decidirem esperar por mais um ano, não porque a proposta de Obama não correspondesse à expectativa, mas pela simples razão de que o GOP queria avocar-se aquela vaga no Supremo, e tanto pior que devessem aguardar um ano para que os republicanos tivessem uma segunda chance de garantir alguém que fosse medíocre bastante para garantir-lhes mais aquele posto na cimeira da escala judicial.
           Obama, o professor em Harvard, que acredita em barretadas aos republicanos - e tenhamos presente a vazia, quase estulta, nomeação de republicano como James Comey, para Diretor do FBI, que, mais tarde, além de agir de forma grosseira com a candidata Hillary Clinton, ainda ao cabo faria a irresponsável comunicação ao Congresso sobre suposta prometida surpresa no computador do marido separado de Huma Abedin, que no seu entender poderia reservar novidades sobre a infeliz questão dos possíveis (mas inexistentes) escândalos que encerraria o tal canal privado de computador público da pobre Hillary !
         O silêncio, às vezes pode ser de ouro, mas em outras, em um Departamento de Justiça que se omitiu, enquanto republicanos se aproveitaram com falsas notícias sobre a candidata democrata, tal silêncio ou tal falta de ação, como no caso de uma estupenda indicação para a Corte Suprema, o Senhor a deixou mirrar na soleira do escritório do Senador pelo Tennessee, Mitch McConnell, mostrando um respeito exagerado a pessoas que descumpriam com arrogância mesmo a atender o dever, na verdade uma obrigação democrática, que nada tem a ver com a ciosa guarda de um poleiro para alguma mediocridade que reserve aos Estados Unidos um eventual presidente republicano.
          Os frutos, sejam verdes, maduros ou podres, dependem das árvores que lhes trazem à luz do sol.
           Aos medíocres, indecisos ou temerosos, o futuro e, por conseguinte, a História costuma ser impiedosa. Mas esse mal não parece haver incomodado a Barack Obama.
           A sorte, que por vezes exagera nas injustiças, nos propicia como dúbia dádiva,  pessoa que hoje paira pateticamente em quase policial planetário.   E logo ele que de tanto repisar - repetindo, no estilo das mil mentiras de Goebbells  a sórdida potoca  de crooked Hillary  -  hoje surge, nos jardins da Casa Branca a nos apresentar o seu pirandellico assim é se  lhe parece, e que tudo vá para o inferno, em mundo de Roberto Carlos que os americanos talvez ainda ignorem... mas, creio eu, não o será por muito.

( Fontes:  The New York Times, The New York Review, Georges Buffon,  Luigi Pirandello, Noah Feldman )

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Comentário de Salvini


                                    
         O ministro do Interior do gabinete italiano, Matteo Salvini, escolheu para o seu tuíte no dia aniversário de il Duce, uma variação sobre o dito famoso do ditador Benito Mussolini  'tanti nemici, tante onore' (tantos inimigos, tantas honras).
        O gabinete italiano é havido como populista, mas a influência da Liga do Norte também pesa, e os neofascistas aí estão muito presentes.

        Seria um retrocesso para os meus quase dez anos de Itália, quando os saudosos de Mussolini estavam consignados aos missini, do MSI neofascista.
          Mas já faz tempo que aí estive, a princípio na Piazza Navona, e mais tarde. em Via della Conciliazione,  na Missão junto à Santa Sé...
          Contudo, a recordação será perene, tanto minha, quanto de meus filhos.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )  

Eleições intermediárias


                                  

          Os prognósticos para as eleições de meio de mandato indicam os democratas como eventuais favoritos, no que concerne às tendências históricas, que favorecem o partido de oposição, no caso o partido do burrinho.  Esse favoritismo aumenta se passarmos às reais condições do Partido Republicano, que espelham a atual impopuaridade  do governo Trump.
          No entanto, existe nessa votação de meio-mandato  uma incógnita, que baralha o resultado final das intermediárias. É que a despeito da impopularidade da Administração Trump, o gerrymander ainda prevalece, o que tende a torcer os resultados contra os democratas.
          É uma vergonha, decerto, que na democracia americana ainda subsistam tais bolsões de fraude eleitoral.
          Seria muito positivo que o Partido Republicano perdesse as intermediárias, porque a par de julgamento sobre a Administração Trump,  tal evolução representaria resultado positivo para a democracia americana, pois demonstraria que o juízo eleitoral conseguiria superar as gritantes falhas da presidência Trump.
           Sem falar no fator do Procurador Robert Mueller, que, malgrado diversos fatores, ainda é uma incógnita.

( Fonte: The New York Times.)

domingo, 29 de julho de 2018

Paes Governador ?


        Ex-prefeito do Rio de Janeiro,  tendo como recomendação o seu trabalho para viabilizar a realização das Olimpíadas no Rio de Janeiro, desmentindo vaticínios  da imprensa de cidades como São Paulo por óbvias razões de pretender elevar-se à condição olímpica, apesar de tudo e das dificul- dades existentes Eduardo Paes tornou possível a candidatura olímpica do Rio de Janeiro, e cuidou  de que a mui leal e heróica  Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro levantasse a tocha olímpica  em boas, senão ótimas,  condições. Também o seu trabalho na recuperação da área do Porto do Rio de Janeiro merece atenção e respeito.

        Ao lançar sua candidatura ao  governo do Estado,  o Rio de Janeiro o encontra em condições difíceis, tanto pela crise financeira, quanto por aquela moral, causada pela débacle ética da governança de Sérgio Cabral,  hoje recolhido às prisões.
 
          Tampouco o ajuda a situação da antiga Cidade Maravilhosa e do respectivo Estado sob intervenção federal, até agora sem grande sinais da antojada recuperação na questão da segurança.

           É bem verdade que o Governo Pezão não é referência, dada a sua aparente incapacidade de superar a crise ética e moral - escusado mencionar a financeira, que é uma decorrência de desgovernos superpostos - que afeta esse Estado em vários aspectos, a começar pelo da segurança que nunca esteve tão mal parada quanto atualmente.

             Também é preocupante o entorno das instâncias parlamentares da governança estadual, que constituem por si só um magno desafio, dado o baixíssimo nível ético de sua representação.

               Em termos de desafio, Eduardo  Paes não poderia ter escolhido um maior.

                À sua volta, o fracasso da  Administração  Pezão.   Também a situação financeira  do Estado, que é uma dúplice decorrência:  da irresponsabilidade  do governador Sérgio Cabral, que trocou um futuro  que luzia promissor  na administração federal  pelos enganos do Ouro e das propinas; e do próprio desfazimento do Governo Pezão, que se afunda na lama anterior,  no pântano do Palácio Tiradentes e na irrelevância de sua política.


( Fonte:  O  Estado de S. Paulo )

O Governo Trump dificulta a reunião dos ilegais com os Filhos


      

          É um acinte à Justiça e aos direitos humanos o sistemático descumprimento de reunir muitos dos imigrantes ilegais aos próprios filhos. Na fascistóide política de tolerância zero, 2551 crianças - segundo a Justiça, entre abril e junho últimos -foram enviadas para abrigos sem os pais.  Dentre as crianças brasileiras, pelo menos cinco continuavam isoladas dos pais até a quinta-feira desta semana.
           Como é óbvio, o não-cumprimento do prazo tende a multiplicar ações judi-ciais e pedidos de indenização contra o Governo americano. Nesse sentido, a União Americana pelas liberdades civis (ACLU) já ajuizou algumas delas.
            O problema da separação das famílias parece longe de ser resolvido, uma vez que 711 delas não se encaixam no critério de elegibilidade do Governo e não há um novo prazo para as reuniões.
              Uma das situações mais dramáticas é a das 463 crianças cujos pais foram deportados. Vê-se que a perversidade no governo Trump não é gratuita, mas sistemática. Aqui se têm presentes métodos cruéis, que beiram aqueles do nazi-fascismo. O ambiente kafkiano comparece em outros casos, onde os pais não foram autorizados a recuperar seus filhos, pois não conseguiram provar que não têm antecedentes penais ou são realmente pais das crianças. O futuro dessas crianças é, por conseguinte, incerto. É incrível, mas por má-fé a Administração Trump não utiliza métodos de DNA...
               É verdade que o Juiz federal Dana Sabraw, da Califórnia, ordenou a reunificação. Contudo, Sua Senhoria não estabeleceu nenhuma sanção em caso de descumprimento. É provável que peça à ACLU que proponha uma punição ao Governo Trump - a entidade já processa o governo em outros casos de separação de famílias. Com o fim do prazo, ainda havia pelo menos   5  crianças brasileiras retidas em abrigos nos Estados Unidos - 4 em Chicago e 1 em Houston.
                 Tem-se acaso presente o(s)  trauma(s) que tal procedimento brutal e es-túpido causará em crianças e mesmo jovens?  Os quatro casos de Chicago atingiam 2 crianças com menos de cinco anos, uma de nove e outra, adolescente, de 16. Em todos os casos, as mães foram separadas dos filhos na fronteira, no Texas ou no Arizona, e as crianças foram enviadas a abrigos em outros estados. Dois desses casos, com crianças de 9 e 5 anos, foram os mais difíceis de resolver, afirma a Sra. Natalícia Tracy, diretora do Centro do Imigrante Brasileiro (CIB) em Boston. Mesmo com a determinação da Justiça, os centros não queriam liberar as crianças.
                  Segundo o New York Times, em um dos centros onde as famílias estão detidas, em Port Isabel, no Texas, o governo considerou que alguns pais estavam soltos, mas ainda estavam sob custódia (!). Nos quase dez anos que trabalha no CIB, Natalícia disse nunca ter visto algo parecido em termos de burocracia e falta de transparência sobre como devem ser os processos: "Antes, se sabia como as coisas, as leis funcionavam. Agora, não.  É um sistema de quase ditadura, caos.  Não é por acidente, é para oprimir, destruir as pessoas e desencorajar outras a vir", disse ela.
                   Natalícia afirma ter ouvido de imigrantes brasileiras que em abrigos do Arizona cerca de noventa mães foram mantidas em uma sala com capacidade para trinta pessoas, separadas por um corredor de vidro de seus filhos. Mães e filhos batiam no vidro, mas eram impedidos de ficar juntos. No meio da noite, conta ela, algumas crianças eram escolhidas e levadas para abrigos em outros Estados.
                   A Sra. Natalicia Tracy afirma que mães e crianças ficaram traumatizadas. Em alguns casos, as crianças ficam com medo de sair de perto da mãe e sentir fome ou sede novamente. A brasileira explicou que seu centro fornecerá  serviços de  assistência social e de psicólogos para essas famílias.
                    Em outro caso, testemunhado por sua organização, Natalícia disse que uma brasileira presa havia 11 dias antes do início da aplicação da política de tolerância zero teve seu filho separado dela assim que a medida passou a valer. Ela teve o pedido de fiança negado duas vezes porque o governo alegou que ela representava um risco à segurança. Ela agora está acionando o governo por danos morais.
                     É impressionante como um demagogo do nível de Donald Trump possa causar tanto mal a pessoas inocentes, como demonstrado pelas linhas acima. A chamada política de tolerância zero dá engulhos não só pela própria hipocrisia e pelo mal que causa a criaturas inocentes como crianças e menores, sem esquecer o desrespeito pelas mães e pais. E tudo isso por sórdida demagogia! Tolerância zero é o que deverá merecer essa corrupta Administração Trump quando o Procurador Robert Mueller chegar ao fim de sua investigação, com as consequentes medidas de impeachment do cruel demagogo Donald Trump.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

O fenômeno Imran Khan


                                    
          Tudo indica que Imran Khan vencerá as eleições no Paquistão.  Voltou da Inglaterra à sua pátria com um objetivo bem determinado.  Como se refere, Imran é mais do que uma celebridade na sua pátria natal - ele é um mito.
            Considerado um dos oito melhores jogadores de cricket da história, multimilionário, retornou à sua pátria depois de vencer todos os torneios e ser um bon vivant por 20 anos na Inglaterra. A sua caminhada política se estende aos últimos 22 anos.
             Apesar da resistência adversária - acirrada em especial pela sua condição de homo novus na política - Imran Khan reivindica a vitória de seu partido nas eleições legislativas, mas o resultado tarda a ser confirmado pela Justiça Eleitoral e os adversários.  Como seria de esperar, a contagem de votos segue com grande atraso. Encerrada a votação,  havia sido apurada apenas menos da metade dos votos.
              O partido governista, Liga muçulmana do Paquistão (PMLN) rejeitou os resultados das urnas e afirmou  que a votação fora "manipulada". Não obstante, milhares foram às ruas comemorar.
             Imran Khan transformou-se em mito a partir de 1992, quando ele liderou a seleção paquistani de cricket ao único título de campeã mundial de sua história, em triunfo incontestável  sobre a ex-metrópole. 
              Nascido em 25 de novembro de 1952, Imran Ahmad Khan Niazi  é  um pashtun de Lahore, no Punjab.  Sua família fazia parte da elite educada e altamente anglicizada.  Com vinte anos, foi estudar na Inglaterra e jogou pela equipe de Universidade de Oxford até se formar, com honras, em filosofia, política e economia, em 1975.  Transcorreu os seguintes dezessete anos jogando e residindo na Inglaterra.
              Tornou-se celebridade. Acostumado à vida boêmia, frequentava os clubes noturnos de Londres, sempre na companhia de belas mulheres e de outras celebridades.  Em 1995 casou-se com Jemina Marcelle Goldsmith, filha de um financista multimilionário e de uma lady britânica.
               No ano seguinte, Khan retornou ao Paquistão e fundou o próprio partido, o Movimento para a Justiça (PTI). Seu objetivo era travar guerra contra a corrupção, que é endêmica no Paquistão, e instituir um Estado social muçulmano.
                Em sua autobiografia, Pakistan: a Personal History, Khan fala muito de religião, ligando a crise de valores à decadência do Paquistão. Aos críticos que o chamam de hipócrita, Khan responde que fez um regresso à terra pobre onde nasceu.
                 Muitos não duvidam de suas intenções, mas desconfiam de seus métodos. As doses de populismo, a religiosidade exacerbada e o conservadorismo latente não seriam sinais de pendores republicanos. A esses detratores, a resposta de Khan será sempre a mesma: "Sou acusado pelos liberais de ser um extremista. E sou acusado pelos extremistas de ser marionete dos americanos. Deve ser um bom sinal."

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

Dois Poderes se Encontram


                                   
         O New  York Times  de hoje, domingo 29 de julho, noticia sobre o encontro, na Sala Oval da Casa Branca, do Presidente Donald Trump com o novo Publisher do Times, a 20 de julho.

        Segundo o relato do Times, a reunião foi cordial, embora Mr Sulzberger haja referido a própria preocupação com o discurso presidencial, e  assinalado a sua linguagem não apenas como divisória, mas também perigosa.

         Reportando-se à sua referência a  Fake News, caracterização que  o novo Publisher do New York Times via com preocupação (concern),  Mr Sulzberger assinalou, porém, que  o aspecto que mais lhe inquietava estivesse  no aparente intento de Mr Trump de caracterizar a imprensa e os jornalistas como  "inimigos do Povo".

         Não obstante,  a reunião terminou de forma cordial, consoante referido pela nota editorial.

( Fonte: The New York Times )

Humberto Ortega culpa Estado por violência


                          
          Humberto Ortega, ex-comandante do Exército nicaraguense, passa a defender o fim das forças paramilitares.  Nesse sentido, ele ora declara que seu irmão, Daniel Ortega, deve por fim às forças paramilitares.
            Segundo Humberto, o presidente e irmão precisa por fim às forças paramilitares por que promovem a violência no país, em meio aos protestos contra o governo.
             O inglês tem uma resposta para isto: 'mais fácil de dizer, de o que fazer'.
             Tudo indica que a morte da brasileira Raynéia se deva aos ditos paramilitares a que o governo sandinista recorre, por força do avanço da oposição armada. Diante do crescimento da reação pela população, o sandinismo apela para métodos ditatoriais.
                          Humberto, por óbvios motivos, prefere singrar entre abstrações e por isso evita apontar o irmão como culpado pela situação. Segundo ele, as forças paramilitares são responsáveis por muitas mortes, e não se pode permitir que "se consolidem". Nesse sentido, o ex-comandante do Exército responsabiliza o governo pela crise que abala o país devido à "repressão indiscriminada" contra os protestos deflagrados em dezoito de abril, sempre evitando apontar o irmão como responsável objetivo pela situação.
                           Trilhando um caminho tortuoso, disse Humberto: "Para mim, o principal responsável pela situação que estamos vivendo é o Estado da Nicarágua, que tem um governo que não adotou  as medidas necessárias para impedir este nível de violência."
                             Humberto Ortega apoia a retomada do diálogo entre Governo e Oposição, sob a mediação dos bispos da Igreja Católica (a quem o seu irmão, no poder, chamou de "golpistas" e "terroristas") - e defende a antecipação das eleições.
                              Por sua vez, o presidente Daniel Ortega, de 72 anos, se recusa a renunciar e culpa a oposição pela violência que deixou 295 mortos em três meses de protestos, de acordo com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
                              Entre essas vítimas, está a estudante brasileira Raynéia Gabrielle Lima, assassinada a tiros quando voltava de carro do hospital em que trabalhava, no sudoeste de Manágua.
                             Como ela foi abatida por rajadas repetitivas de supostos milicianos, armados com fuzis que são privativos das Forças Armadas, aí está com toda a probabilidade o 'x' do problema, quando se recorre a milícias.
                               Para o noivo e a família de Raynéia, abstrações não resolvem o problema. Sobretudo quando estão armadas, e atiram primeiro, antes de fazer perguntas.
         
         ( Fonte: O Globo)

sábado, 28 de julho de 2018

Preso vigia suspeito de matar brasileira


                     

        A polícia da Nicarágua prendeu a 27 do corrente o vigia particular Pierson Gutierrez Solis, acusado de ser o autor dos tiros que mataram a brasileira  Raynéia Gabrielle Lima.
          No entanto, colegas da universitária morta, e ONGs de defesa de direitos humanos sustentam que ela foi assassinada com vários tiros por páramilitares a serviço do presidente Daniel Ortega. A suspeita do grupo aumenta pelo tipo de arma empregado no crime, de uso exclusivo do Exército.
           Até ontem, era desconhecido o paradeiro do carro que Raynéia dirigia quando foi assassinada. Até o presente, o namorado da estudante - e talvez a única testemunha do crime - não foi localizado.
             Raynéia terminava o curso de medicina - estava prevista a sua formatura em inícios do próximo ano. Ela morava no país havia cinco anos; e o seu diploma de forma-tura foi emitido dois dias depois de seu falecimento.
             O plantão médico atrasara a sua volta para casa. O crime ocorreu no bairro de Lomas de Montserrat, em área em que paramilitares vigiam a casa  de Francisco López, tesoureiro e alta figura da Frente  Sandinista de  Libertação Nacional (FLSN).
              De acordo com o jornal digital www.articulo66.com, crítico do governo, Solis, o suspeito apresentado  pela polícia, trabalhava como instrutor de artes marciais na escola Lion Force. Há muitas dúvidas sobre os antecedentes de Solis.
              Como sinaliza o Estado, ontem à tarde, antes de a prisão de Solis ser anunciada, o chanceler brasileiro, Aloysio Nunes  considerou "extremamente insuficientes" as informações dadas pela Nicarágua sobre o assassinato da estudante brasileira.
              Depois da morte de Raynéia, o Itamaraty convocara a embaixadora nicaraguense para prestar informações sobre o caso. Em seguida, chamou a consultas o embaixador brasileiro em Manágua, Luis Cláudio Villafañe.
              Nesta quinta-feira, o presidente Temer  afirmou que o Brasil não pode admitir a morte da estudante sem tomar providências. A Nicarágua, em resposta, também chamou a embaixadora, que deixou Brasília nesta quinta-feira.
               Por sua vez, na sexta-feira 27 de julho, o chanceler disse, outrossim :  "O governo  da Nicarágua diz que foi um guarda de segurança particular. Mas quem foi ? Qual é o calibre da arma ? Em que circunstância isso ocorreu ?". E acrescentou: "Não houve até agora um esclarecimento e nós vamos insistir porque isso nos parece absolutamente inaceitável."
                Consoante o Ministro Nunes, o governo continua insistindo para obter informações e que, em caso de resposta negativa, estudará enviar  a questão a instâncias internacionais como a O.E.A.          

( Fontes:  O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo )

O inglório fim da tolerância zero na Imigração


                         

          Apesar de seu jeito fanfarrão, a chamada "tolerância zero" que a Administração Trump tentara aplicar para os imigrantes ilegais - prevendo de início a brutal separação de filhos e pais - começou a desmoronar com a reação do povo americano que surpreendeu Trump e o Secretário de Justiça Jeff Sessions.

           Essa violenta e inumana medida teve de submeter-se à sentença do juiz federal Dana Sabraw, de San Diego (Calif.), que determinou prazo de um mês para que os filhos fossem reunidos aos pais. Vigente desde abril - o que mostra a que ponto de desumanidade a demagogia da chamada 'tolerância zero',  levara o governo republicano de Trump.

            Como um castelo de cartas desmoronou a jogada que o presidente americano julgara fosse popular, e capaz de render-lhe votos para os republicanos na próxima eleição intermediária. Mas o tiro saíu pela culatra, forçado que foi ele a recuar, de modo a tornar menos inumana a demagógica medida, diante da opinião pública mundial e mesmo americana, que não imaginavam fossem capazes Trump e Sessions de serem tão insensíveis a ponto de julgar possível recorrer a medida de tal repugnância na brutalidade de seus traços impositivos e violentos.

             De qualquer forma, a política da separação forçada de filhos e pais se caracteriza pela crueldade - diante do trauma de um afastamento entre mãe e filho -, além de poder trazer igualmente reações sobremodo negativas para a criança, por uma série de circunstâncias nos asilos que me pareceria desnecessário explicitar. Dentre os inúmeros aspectos negativos dessa política mesquinha, condenada em todo o mundo, há um positivo: pôr a nu a falta de sensibilidade das instâncias republicanas - leia-se Trump e Jeff Sessions - capazes de conjuminar politica tão cruel e estúpida quanto a da denominada tolerância zero para separar tenras crianças dos próprios genitores...


( Fonte: O Estado de S. Paulo )

Ainda a Crise de Gaza


                                         

          Manifestações palestinas voltaram a provocar violenta reação de parte do exército israelense.  Com efeito, recorrendo aos próprios fuzis,  a força armada de Israel matou estupidamente a dois seres humanos - um menor palestino de catorze anos, além de um outro manifestante adulto, também palestino. Mais trinta e cinco palestinos ficaram feridos por essa estranha política do governo de Netanyahu, que reprime os protestos no enclave de Gaza com armas de fogo.
          A repressão israelense, por estúpida e abusiva que seja - pois um  país que se diz civilizado não recorre a esse tipo brutal e fascista de reação - deve ser condenada nas instâncias internacionais competentes, pois, pasmem senhores, a gente palestina é humana e faz jus ao tratamento condizente.
          Estranha sobremaneira mais do que o modo cruel e impróprio - só aplicável a animais ferozes - que as instâncias israelenses emprestam a esse peculiar e violento diálogo com um Povo, a que  submete a condições infra-humanas, e é ainda mais objeto de indignada surpresa e revolta que os altos foros dos órgãos competentes na área multilateral dos Direitos Humanos nada façam a respeito, outorgando na prática a Benjamin Netanyahu e à sua tropa espúria virtual licença para matar os próprios semelhantes, sobre quem recai a má sorte de serem seus vizinhos.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

Ditadura médica na Venezuela


                                   
         
           A situação falimentar da saúde na Venezuela provocou a fuga daquele país do médico e parlamentar José Manuel Olivares.
           A decadência da área sanitária na Venezuela obrigou o parlamentar e médico oncologista a fugir para a Colômbia, diante da ameaça de que seus parentes seriam presos,  se Olivares não desistisse do intento de dar relevo à prevalente situação crítica na saúde pública venezuelana.
           O Sebin (Serviço bolivariano de inteligência) se tornara, segundo Olivares, cada vez mais agressivo após as denúncias de irmão seu quanto à catastrófica situação da saúde pública na Venezuela. Como se verifica, dizer a verdade na terra de Maduro sobre as precárias condições médicas no país é ulterior  motivo de acosso policial e até mesmo de prisão.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

sexta-feira, 27 de julho de 2018

É séria a tentativa de impeach Rosenstein ?


                          
      
         Nunca o abuso do instrumento do impeachment aparece tão claramente quão mostrado pela cínica manobra do presidente e do ex-presidente dos círculos de liberdade da Casa de Representantes, os Deputados Mark Meadows e Jim Jordan, da Carolina do Norte e de Ohio, respectivamente,  acusando o Subprocurador-geral Rod Rosenstein com base em cinco artigos de impeachment (crimes e faltas graves). 
        O objetivo da manobra, como assinalado pelo editorial do Times, não é, na reali-dade, acerca da recusa de Rosenstein de apresentar este ou aquele  documento relativo à investigação sobre os delitos da Rússia no que tange à campanha de Hillary Clinton, mas sim em jogar algo suculento para os eleitores, por mais falso e absurdo que seja.
       Primo, o editorial faz um breve resumo das estripolias de Meadows e companhia: em 2015, Mr Meadows se tornou uma celebridade da noite para o dia, quando entrou com resolução para derrubar John Boehner, o então Speaker.  A tentativa colou e Mr Boehner caíu.   As duas seguintes não tiveram o êxito da primeira: em 2016, os membros do Círculo da Liberdade entraram com moção para forçar o impeachment do comissário do Imposto de Renda, John Koskinen; e no último verão, entraram com peti-ção para que Obamacare (a reforma da saúde, de Obama) fosse rejeitada.
         O intento de derrubar Rosenstein não aparenta ter chance de sucesso.  A par de Mr Jordan e Mr Meadows, já citados, esse projeto  tem apenas o co-patrocínio de nove representantes. O próprio Trey Gowdy, o chefe do comitê de supervisão, não evidenciou entusiasmo algum pela proposta.
         Essa tentativa tem tão pouca probabilidade de prosperar, que  o Procurador-Geral Jeff Sessions houve por bem não só defender o seu substituto, mas também sugerir que os legisladores procurem utilizar melhor o tempo respectivo.E a democrata Sally Yates,  que exerceu as funções de Procurador-Geral substituta, e que, para a sua honra,  foi exonerada por se recusar a defender a proposta de Trump que cerrava o ingresso nos States de visitantes árabes, adverte pelo twitter acerca do prejuízo a longo prazo "de servir-se do Departamento de Justiça como instrumento de teatro político".
           É de esperar-se que Sally Yates seja candidata na próxima eleição para uma cadeira na Câmara - e até mesmo no Senado. Nesse contexto, é importante recordar que Ms. Yates pôs para correr o Senador republicano pelo Texas, Ted Cruz, que pensara humilhar a democrata em sessão de subcomitê judiciário do Senado, ao perguntar-lhe sobre se conhecia a 8.USC Seção 1182.  Ms. Yates a princípio disse que não, mas então o Senador pensando dar-lhe lição, leu um trecho do estatuto. Nessa ocasião, ela surpreenderia  Ted Cruz, no momento em que o Senador pensava humilhá-la, ao recordar-lhe o instrumento legal que ela se recusara  a implementar, o que determinou a sua exoneração.  Nesse momento, Ms. Yates surpreenderia Cruz ao dizer-lhe que ela também conhecia o estatuto legal.  E acrescentou, para sua honra e renome: "e estou também familiarizada com uma determinação adicional da Lei sobre a Imigração  e a Nacionalidade, que reza  que nenhuma pessoa receberá tratamento preferencial ou será discriminada, na expedição do visto, por causa de sua raça, nacionalidade ou lugar de nascimento, que, segundo creio, foi promulgado depois do estatuto que o senhor acaba de citar". 
          Ms. Yates acrescentou que, além do texto da Lei, ela tinha de julgar se o Decreto executivo de Trump violava a Constituição dos Estados Unidos.
          Escusado dizer que o video da resposta de Ms. Sally Yates se tornou uma sensação na internet. Também será interessante assinalar que o Senador Ted Cruz, republicano do Texas,  não mais foi visto naquela sessão do  subcomitê...
            Mas voltemos, ainda que por breve instante, ao nível atual do Grand Old Party. Parece importante sublinhar que Trump não inventou a mensagem apocalíptica com que ganhou a base republicana. Ele simplesmente a distilou até a própria essência.  Assim não surpreende que a turma do Freedom Caucus procure deslegitimizar o governo, que seria sempre o problema, e que todos os experts são idiotas (sic).
         Tudo leva, portanto, a supor, que, dado o nível dos membros do Freedom Caucus, o seu esforço em afastar Mr Rosenstein não possa ser levado a sério. Dominado por gente tão intelectualmente limitada, esse estranho objetivo  do "Círculo da Liberdade" mostra o baixo nível que tem caracterizado o GOP nos últimos anos. A podridão do partido já existia antes que Mr Trump aparecesse para dela servir-se, e tudo leva a crer que tal condição permanecerá mesmo depois que o presidente desça pelo Sunset Boulevard que o espera...


(Fontes: Transcrição da  Junta editorial do New York Times; quanto a Sally Yates, vide The New Yorker, May 29, 2017)

quinta-feira, 26 de julho de 2018

O Apelo dos Campos Santos



                                   

          A situação da segurança em Manágua se deteriora bastante. Com cem dias de protestos e violência política, o cotidiano do terror toma conta das ruas.
           Há dois toques de recolher: quando principia a cair a noite,  passa a existir um informal. O fato de estar na rua, além de representar perigo para o transeunte,  cria situação nova, em que todos os que circulam em logradouros públicos se tornam suspeitos.
           É a hora da geral suspeição. Basta estar na rua, não importa causa ou motivo, para que o transeunte seja questionado e de forma intrusiva, como se a sua própria situação já o incriminasse.
           Uma atmosfera kafkiana prevalece por toda a parte.  Para aumentar o medo,  em termos de que o poder paralelo da suposta segurança passe a dominá-lo, com as revistas abusivas, além da ritual retirada dos celulares, em verdade arrancados das pessoas - seria como espécie de anúncio de o que surge como a manifestação de outra ordem, que nada tem a ver com o cotidiano dos centros citadinos. Será a orgia do terceiro-mundismo?
             Compõem a atmosfera de um poder mais alto, em que os cidadãos viram, na prática, objetos de suspeição e, por conseguinte, passam à virtual dependência do poder policiesco. Aqui, igualmente comparecem  as cores do subdesenvolvimento da ínsita violência.  Assim, caravanas de dez  picapes sem placa cruzam em alta velocidade as ruas de Manágua. Parecem ter pressa na sua peculiar transgressão em difundir o terror vazio e, ao mesmo tempo, ameaçador: levam policiais (com rostos cobertos, mas uniformizados ) e paramilitares, com fuzis AK-47,  metralhadoras e granadas.    
              Que as ruas fiquem ermas, não há de surpreender.

           A estúpida morte  da brasileira  Raynéia Gabrielle Lima faz parte desse sádico ritual do horror nessa lúrida atmosfera.  Em tal ambiente, em que transeuntes e carros não conhecidos nos arredores são alvo - e aqui não se trata de gentil metáfora - da paranóia profissional dos seguranças de plantão pode, se não explicar,  pelo menos jogar alguma luz num lugar em que toda a gente de fora torna-se suspeita, e, por conseguinte, alvo de reações em que a realidade vira a apropriada  imagem distorcida para espicaçar os piores instintos nos indivíduos a que a "segurança" é confiada. Pois será essa  gente preparada para tudo, tangida por tosco aprendizado, que mais parece a oportunidade - por estranha ironia - de servir-se do poder que lhe vem da sua situação e da arma nas mãos, para apagar com a esponja daquela pistola, as pequenas humilhações a que se sentira imposto por um cotidiano brutal e miserável.
              Sobre quem recai a responsabilidade dos crimes cometidos nesse rodopio sem sentido, enquanto as caminhonetes, com a sua carga de celerados, rodam as ruas ao longo das frestas que, dessas janelas, espiam temerosas aquela súbita, antecipada invasão? No frenesi da pressa que não tem sentido, senão no medo que inflige aos pedestres  de ter seu  cotidiano nas mãos, esse tenebroso cortejo se inebria no rudimentarismo selvagem  que a velha pistola traz, que um voyeur intelectual definiria como  poderes  taumatúrgicos.

              Na Nicarágua, um velho ditador resiste à ideia de abandonar o poder. Para infelicidade de muitos,  o esquemão sandinista está ainda implantado, e tem o apoio de grupo decerto movido por ideias ultrapassadas, e cuja chefia se recusa a reconhecer que a grande maioria da sociedade nicaraguense o repudia.  Por isso, contra os estudantes, a Igreja e outros segmentos que já lhe condenam a violência enquanto sistema, o ditador  Daniel Ortega e sua vice-presidente Rosario Murillo se encarniçam.
               A pobre Raynéia, que já estava próxima de completar os estudos médicos, cai vítima de tiroteio que a ditadura sequer admite possa vir de seu exército de capangas, seguranças e soldados.

               Muita gente está morrendo na Nicarágua. Uma violência fora do tempo pensa poder ir em frente, movida por ideologia que em outros cantos já foi consignada ao silêncio de tantos cenotáfios  que abarrotam  os seus brancos, alvos campos, que só prometem da morte o silêncio.    


( Fontes: Carlos Drummond de Andrade, despachos da Nicarágua).

Apoio a Ortega vem ... dos sandinistas


             
          Segundo  um diplomata, provavelmente americano, que se reporta a relatório de inteligência dos Estados Unidos, "no momento está sendo treinada  nova geração de radicais para dar sustentação a Ortega".
         Nesses termos, seria talvez válida a inferência de que a ação que matou a brasileira Raynéia Gabrielle de Lima poderia estar ligada a um plano das organizações clandestinas destinado a intimidar pela violência os manifestantes contrários ao governo, principalmente os de Manágua, segundo a Coordenadora Universitária, organização que reúne alunos de oito universidades nicaraguenses. A entidade crê que haja "algumas centenas" de brasileiros voluntários, alunos de vários cursos ou "apenas de pessoas que escolheram viver no país". A crer nessa teoria, tal movimento teria pelo menos quatro décadas.
          Sob o domínio da incerteza e da crescente presença dos para-militares, formações ilegais que dão apoio à ditadura de Ortega, parece fazer mais sentido atribuir os tiros que mataram a pobre brasileira a algum capanga mais nervoso do graúdo apoiador da ditadura, que terá por isso abatido a ainda-estudante Raynéia.
            Será também por igual motivo que o regime sandinista se vem negando a dar qualquer informação digna desse nome às solicitações de fontes do Itamaraty.
              Diante das negativas, cresce a irritação do governo brasileiro, pela falta de cooperação ou mesmo de apego à verdade das fontes das estruturas locais.
               É complicada a postura dessas  supostas "fontes", que muita vez pouco representam a par do desejo de cobrir-se.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Incêndios do Verão


                              
         O verão helênico é comumente associado a paradisíacas ilhas espalhadas no mar jônico, em especial naquelas maiores, mas também ao sul, nas florestas de Ática e  Peloponeso.
           Mas há um detalhe nesse período estival, que costuma irromper levando destruição e morte aos esgarçados bosques nas montanhas e junto das pedreiras de travertino, de que tanto se serviram para gravar textos que se sobrepunham ao tempo ou à fragilidade do papiro.
           Por isso os turistas na Hellas, sejam os que se servem de carros alugados, sejam os caminhantes que se orientam pelos textos de Pausanias, buscam conviver com as montanhas que ainda ostentam templos das  épocas arcaica e pré-clássica, como aqueles do Peloponeso, alguns nas faldas  de montes sagrados. Ali Eolos sopra com raiva e força, a ponto de que cercaram o antigo templo com patéticas cortinas de lona, que lá estão para proteger as frágeis estruturas da antiguidade clássica e mesmo pré-classica dos ventos inconstantes.
             Lá os piores inimigos costumam ser guimbas de cigarro tolamente lançadas ao capricho dos ventos.  São florestas ralas e, por vezes, desgrenhadas pelas anônimas, irresponsáveis intempéries dos milênios.
              Diante das alvas fachadas dos prédios nas avenidas de Atenas, se o olhar passasse pelo Liceu até enfurnar-se nas desgrenhadas montanhas aonde se refugiam os galhos escassos de antigas, despojadas florestas, poderá por vezes surpreender às vistas indiferentes os caprichosos rolos de fumaça que se espreguiçam e alçam das profun-dezas da rocha travertina para espalharem na longínqua vizinhança estranhos contornos que,  como maldito corredor de esquecidas maratonas, se espoja no chão duro, gretado e pedregoso, e nos restos da piromania do último verão.
                 À distância, mas com o aparente sádico cuidado de acenar com o maldito próprio poder de arrastar-se por pedras tão àsperas quão pontiagudas, e pelas espalhadas cinzas,  o fogo, essa divindade indolente, que ora se arrasta pelo chão, ora se lança aos pinheiros e àquela casinhola que escapou de vulcano, para anunciar mais um espetáculo de fogo e luzes, que os bombeiros exaustos intentem circunscrever, que frágeis aviões teco-teco e cessnas lançam patéticos, mas sinceros bolsões de água que semelham evaporar-se ao misturar-se às chamas que irrompem aqui e ali, lá e acolá, na hedionda brincadeira estival das piromanias dos deuses cruéis, cuja visita será sempre inesperada por mais que se repita nas pedras, nas ameaças e nos perversos acenos de uma luta maldita, que, como sacrifício a divindade infernal, jamais acena a extinguir-se.

( Fontes: Atenas, Suddenly last summer.)