sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Trump x Kim Jong-un ?

                              

        As primeiras tentativas do Secretário da Defesa, James Mattis, e alguns outros militares americanos de alta hierarquia, de tentar controlar o Presidente Donald Trump quanto à confrontação com o déspota norte-coreano, obviamente não estão funcionando.
         Cresce - e de forma desproporcional - a ameaça para a Humanidade de um hiperdesastre termonuclear. E não vai por acaso o grifo ao termo, dada a recente resposta do ditador Kim Jong-un, com explosão de mini-bomba de hidrogênio no subsolo da península coreana.
         Dadas as características da personalidade e da psicologia do atual Presidente americano, tudo o que ora está acontecendo - e não carece dispor-se de diploma de psicólogo (para ficarmos apenas no lado light da questão subjetiva) ao  observar e analisar o comportamento dos dois chefes de estado para que cresça a inquietação de quem tente  prever as perspectivas dessa grave e estranha crise.
          Há vários elementos nesta crise político-militar do século XXI que gritam quanto à disfuncionalidade de seus respectivos protagonistas.
           O primitivismo não é só apanágio de Kim Jong-un, mas também do próprio presidente Trump. Ao invés de valer-se da considerável experiência de suas lideranças, tanto políticas quanto militares, em lidarem com esse tipo de desafio, Trump resolveu ignorar ou, na melhor das hipóteses, dar aos expertos na matéria um distante assento longe dele próprio, que, por limitações pessoais, seja psíquicas, seja psicológicas, não acha oportuno valer-se da considerável experiência que a liderança civil americana tem na matéria, através das décadas de lidar com o desafio nuclear, assim como tampouco daqueles agentes do Estado de que uma das principais razões da respectiva atividade estar em tratar com o jogo das ameaças, assim como da melhor maneira de controlá-las e/ou neutralizá-las.
           Tudo leva a crer que, por um conjunto de vaidade e de limitações psicológicas, ele parece acreditar que deva tratar o desafio (no sentido toynbeeano) de Kim Jong-un como se fosse um confronto normal entre chefes de governo. Talvez o seu maior erro na matéria seja ignorar (ou na prática dispensar) o aporte que os altos funcionários do Estado, incluindo especialistas na matéria quanto ao uso da arma nuclear, poderiam  trazer-lhe para que o próprio entendimento desse desafio cresça na medida em que ele Presidente pareça afastar-se da questão, quando na verdade ao cortar o presente imediatismo - e aí está uma vantagem enorme que ele Trump, sem dar-se conta, concedeu ao adversário, na medida em que o trata  em condições de igualdade, quando dispunha de todas as vantagens para ter mais perspectiva na matéria. Se dela ganhasse um certo afastamento - a presença como autoridade tutelar, que não teme valer-se de subordinados, de forma que, de uma distância hierárquica, e portanto reverencial, tenderia a  infundir maior respeito ao adversário, e disporia do benefício suplementar de ganhar algum afastamento da matéria, benefício esse de que seu adversário não poderá jamais valer-se.
                 Outro erro concomitante e garrafal de Trump está em descer na prática à arena e, dessarte, igualar-se a seu contendor. Na verdade, ao agir como fez no discurso na Assembléia Geral das Nações Unidas,  Trump tornou a própria posição ainda mais fraca, ao colocar-se não só no mesmo nível, mas, na verdade, em unilateralmente baixar o próprio nível, tanto no aspecto simbólico, quanto em dispensar opinião e parecer de os que construíram a própria trajetória nas forças armadas americanas com a base mais sofisticada que se possa atingir, seja através do poderio em si, seja pela teoria dos jogos, com o estudo em grau de sofisticação e apuro técnico que é o oposto do comportamento de Donald J. Trump. Tudo isso, por nescidade e a decorrente vanglória, o atual presidente achou oportuno jogar literalmente pela janela. Dado o próprio caráter, Trump põe em risco a própria Humanidade pelo modo irresponsável não só com que trata a Kim Jong-un, mas também pelo lamentável exercício de despreparo para levar nos ombros cargo de tal importância.
                Sem sequer medir as consequências, ele se pôs - sem dar-se conta é lógico - no mesmo plano de seu suposto contendor.  É difícil, quase impossível, mensurar a magnitude do erro, não só diplomático, mas também político, além de cognitivo - i.e., dispor de tal arsenal de experiência, conhecimento e técnica, e não utilizá-lo! 
                    Nem os Estados Unidos, nem o Ocidente, nem o mundo civilizado ou não, merecem ficar entregues a personalidade que manifestamente não está à altura do cargo que o colégio eleitoral americano lhe outorgou na última eleição.           


( Fontes:  The New York Times; A Study of History, de Arnold Toynbee )

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