terça-feira, 5 de setembro de 2017

Crimes Gravíssimos ! Mas de quem ?

                              

         É deveras estranho que, a essa altura do campeonato, o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, agora, em fim de mandato, com a aposentadoria às portas, determine a abertura de investigação que possa levar à rescisão do acordo de delação premiada de Joesley Batista e mais delatores  do grupo J&F, v.g., os executivos Ricardo Saud e Francisco Assis Silva.
             Essa decisão foi tomada com base no áudio de conversa entre Joesley e Saud, entregue à Procuradoria-Geral em 31 de agosto. Segundo assinala O Estado de S. Paulo, a conversa em apreço revela o que Janot chamou de indícios de "crimes gravíssimos" , que envolvem Marcello Miller, ex-procurador, e que foi seu auxiliar.
         "Além disso, há trechos no áudio que indicam a omissão dolosa de crimes praticados pelos colaboradores, terceiros e outras autoridades, envolvendo inclusive o STF", assevera, na vigésima-quinta hora, o pedido entregue por Rodrigo Janot ao Supremo Tribunal Federal.
            Não obstante a ameaça de revisão do acordo de delação,o Procurador- Geral não hesita em afirmar que as provas já apresentadas  pelos executivos da J&F continuam válidas.
              A expectativa é de que Janot envie à Suprema Corte, ainda nesta semana - pois esvai-se o tempo disponível do mandato do Procurador-Geral - uma segunda acusação contra o Presidente Michel Temer, por organização criminosa.
           Sem embargo, para auxiliares do Presidente, o pronunciamento de Joesley "destrói" a delação de Joesley, que atingiu o Presidente, e tenderia a enfraquecer a provável segunda denúncia.     

          Na avaliação de duas colunistas do Estadão, Eliane Cantanhêde (Delação por um Fio) e Vera Magalhães (Pressa em lançar flechas pode fazer Janot virar alvo), que sem desdouro dos demais, parecem-me as mais relevantes,  se colhe o que já se intuía antes: a suposta 'obsessão' do PGR  Rodrigo Janot  pode metê-lo em situações delicadas.
            Dessarte, "se Janot tinha 'obsessão' por Temer, agora está às voltas com a rescisão total ou parcial do acordo com os irmãos Joesley e Wesley Batista e com o envolvimento de seu antigo braço direito, Marcello Miller, em 'crimes gravíssimos'.  A PGR entrou no próprio foco, Temer ganhou algum refresco, os irmãos Batista conquistaram um inimigo implacável.

           "O ex-procurador Miller saíu da PGR  direto para o escritório de advocacia  que atendia justamente a JBS. Significa, na prática,  que ele colheu  todas as informações privilegiadas  na PGR e foi negociá-las com o investigado. Ou seja, foi usá-las para ganhar dinheiro com a defesa de quem ele antes acusava. É grave e deixa Janot numa situação no mínimo constrangedora. (...) As quatro horas de gravação, porém, não complicam apenas a vida de Marcello Miller, mas também a de um ministro do Supremo Tribunal Federal e a de um parlamentar com mandato."  (as citações são de Eliane Cantanhêde).

             " Eis que a saideira que Rodrigo Janot preparava para ser épica pode se tornar melancólica para o procurador-geral da República, que de arqueiro se transforma  em alvo."  "O diálogo pilhado no áudio é posterior, portanto, à visita noturna de Joesley a Michel Temer no Palácio do Alvorada (sic), em que o ex-açougueiro gravou o presidente e tentou extrair dele o "aval" ao suposto pagamento a Eduardo Cunha. Portanto, a suspeita 'gravíssima' admitida pelo próprio Janot é de que o áudio que ensejou a colaboração, não só de Joesley como de vários integrantes do grupo, em condições inéditas pelos benefícios concedidos, e que deflagrou a primeira ação controlada da Lava Jato foi obtido sob orientação de um procurador ainda no exercício das (respectivas) funções. A exoneração de Miller é de 5 de abril. Logo depois ele foi atuar no escritório responsável  pela leniência da JBS, o que já havia provocado enorme controvérsia, a ponto de o escritório deixar a causa.

                "Por mais que Janot diga que a eventual anulação da delação da JBS não compromete as provas obtidas, fica evidente que a conversa com Temer  foi montada e orientada para obter os benefícios alcançados pelo grupo.  Justamente por alguém que, no GT de Janot, tinha como 'expertise' orientar delatores a gravar seus alvos. É uma derrota avassaladora para o procurador Janot, que se acha nos seus ultimíssimos dias de mandato.Não só destacado  integrante de sua equipe foi colhido cometendo  crime, como todo o edifício  por ele construído contra Temer se mostra obra sem alicerces sólidosO  Procurador se vê, por isso, enfraquecido  para lançar mais qualquer flecha na direção de quem quer que seja.

                  Mas o revés não se limita a tanto. Ele "também colhe Edson Fachin, relator da Lava Jato, que  referendou todas  as decisões do PGR no caso JBS. Fachin fica 'vendido' diante das novas revelações e dificilmente vai homologar outra delação com endereço certo, a  de Lúcio Bolonha Funaro, diante da arapuca em que  Janot acabou por enfiá-lo."  Ao que acrescenta, por oportuno, a Cantanhêde: "Fachin não pensou duas vezes em homologá-la, sem ao menos pedir uma perícia oficial e especializada. Um espanto."


(Fontes: Estadão, colunas de Eliane Cantanhêde e Vera Magalhães),
         



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