quinta-feira, 28 de setembro de 2017

A "reforma fiscal" de Trump e o GOP

           
             Infelizmente, o Partido Republicano detém a maioria tanto no Senado, quanto na Câmara. Nesta última, é público e notório que em muitos estados o GOP realizou um gerrymander para valer, e por isso, em estranhíssimo fenômeno - de que a imprensa estadunidense só reporta de forma raríssima - nas eleições - que para a Câmara de Representantes ocorrem de forma bianual -  é praticamente impossível que o Partido Democrata obtenha a maioria nessa Câmara e logre designar Nancy Pelosi outra vez como  Madam Speaker, essa possibilidade tende para zero, enquanto não forem redesenhadas as circunscrições políticas em muitos Estados, de forma a que a regra da igualdade seja observada. 
              Antes de ir além, darei exemplos para que o leitor entenda o que está acontecendo em boa parte dos Estados Unidos.
               Tomem, por exemplo, o estado de Ohio, importante e populoso estado, no centro norte dos Estados Unidos. Nesse estado, não é impossível que o Partido Democrata eleja um ou os dois senadores, porque funciona para as eleições majoritárias (como Senador, Governador e Presidente) todo o Estado como se fosse um grande distrito.  Já para os deputados, tanto estaduais quanto fede-rais, cada um representa no Estado um distrito, onde é eleito por votação majoritária. É aí que funciona a deformação criada pelo gerrymander.  Os distritos eleitorais são traçados pela Câmara Estadual, a cada dez anos (de acordo com o censo). Há gerrymander se tais distritos forem divididos de forma a que se maximize a representação do partido A contra a do partido B. Sendo os democratas um partido de esquerda e os republicanos, uma agremiação de direita, a fórmula do gerrymander  é dividir o estado de forma a que o voto liberal-democrata seja concentrado em distritos maiores (cada distrito elege um deputado), enquanto o voto conservador é distribuído a assegurar sua presença majoritária em um maior número de distritos. No exemplo do Ohio, por exemplo, por vezes - como o Estado forma um só colégio para Presidente e para Senador - tende a vencer o Partido Democrata. Já para a Câmara, diante do redesenho dos distritos, segue para Washington um maior número de deputados republicanos...
                  Para um conhecedor, essa discrepância é facilmente determinável. Se há gerrymander,  na delegação de deputados federais preponderam os republicanos, e em contraste, nos votos majoritários (Senador e Presidente) não despertará maior surpresa se o total do Partido Democrata supera aquele do GOP...
                  Como qualquer pessoa há de verificar,  o gerrymander é uma fraude, e como tal deveria ser combatido. No entanto, a sua supressão é muito difícil, primo porque é defendido atualmente pelo Partido Republicano, e tende a contrabalançar - ainda que de forma faltosa - a maioria democrata em muitos casos, como sobretudo os distritos para a Câmara de Deputados. É por isso que a chefe de fila dos democratas, a deputada Nancy Pelosi durante todos os oito anos de Barack Obama só foi presidente da Câmara nos primeiros dois anos... E como o mesmo pode ocorrer em muitos outros estados, entende-se porque na Câmara Baixa o gerrymander determine a contínua maioria republicana desde então...
                    É provável que o gerrymander continue na Câmara de Representantes. Quanto ao Senado,  como não parece possível - pelas suas mostras iniciais - que Mr Donald Trump faça um bom governo, é provável que no Senado pelo menos a aumente a bancada de Chuck Summer, o líder democrata.  Trump tem falado bastante sobre a sua reforma fiscal... Sabemos como são as reformas fiscais dos republicanos. São cortados os impostos para os ricos, feitas módicas reduções para os impostos que atingem a classe média, e sobre os pobres recairão impostos e sobretudo taxas que em nada os favorecerão. Porque não é à toa que o Grand Old Party (GOP), o muito falado partido republicano do Presidente Abraham Lincoln,  na verdade desde muito abandonou o que o caracteriza no governo do melhor presidente estadunidense de todos os tempos.  Hoje o Partido Republicano é o partido dos ricos, e é por isso que o orçamento a ser aprovado por Trump - enquanto tiver maioria no Legislativo - favorecerá os ricos, com grandes cortes - como já se está verificando.  Em consequência disso, a tal "grande reforma" buzinada por Trump se caracterizará pelo aumento do déficit orçamentário, eis que a fórmula do GOP assim funciona.  Enquanto os governos democratas buscam chegar a um equilíbrio orçamentário, os republicanos cortam sem misericórdia os impostos e as taxas... para os ricos, de forma que o déficit orçamentário é uma característica dos governos do GOP.
                     E da maneira que se está prefigurando a dita "reforma orçamentária" buzinada e enaltecida por Trump  o que teremos pela frente será a repetição de o que houve com outros Governos republicanos desse século, como o de Bush júnior, aquele que inventou a caça às armas de destruição em massa (WMD) do líder iraquiano Saddam Hussein - que na verdade não existiam - mas serviram para justificar uma das guerras mais desastrosas e ruinosas dos Estados Unidos,  que rapou os cofres americanos, e iniciou um movimento preocupante quanto ao início da diminuição do poder da Superpotência, situação similar talvez às causas do livro de Oswald Spengler, a Decadência do Ocidente, no caso o Reich  Alemão do Kaiser Wilhelm II, com a sua derrota na Primeira Guerra Mundial.
                    Nos Estados Unidos, isso tomou o nome de decline (declínio) de que essa coluna já se ocupou mais de uma vez.


( Fontes:  The New Yorker, The New York Times, George Packer )


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