sábado, 2 de setembro de 2017

Os generais controlam Trump

  

        O Secretário da Defesa dos Estados Unidos, o General James Mattis, teve as suas palavras em base militar captadas por um smartphone, dirigidas à tropa em base militar no exterior: "Aguentem firmes até o nosso país voltar a ter compreensão e respeito de uns pelos outros e demonstrar isso."
        Não cabe duvidar quem Mattis tinha em mente quando pronunciou essas palavras,quando o Secretário de Defesa complementou o seu improviso, na frase acima."
        Ainda nessa conversa aparentemente  simples, Mattis lembrou os dois grandes poderes  dos Estados Unidos: o de intimidar e o de inspirar.  E completou:  o de intimidar, voltando para os soldados, "são vocês". Agora,  quanto ao poder de inspiração "nós ainda vamos recuperar nosso poder de inspiração."
          E quando no dia seguinte, com relação a mais um tuite de Trump "Os Estados Unidos conversaram com a Coreia do Norte e pagaram extorsão a eles durante 25 anos. Conversar não é a resposta!"  Duas horas depois, o general Secretário da Defesa disse para as câmeras: "Não, nunca esgotamos as soluções diplomáticas."
           Dadas as posições desatinadas de Trump, e o próprio manifesto descontrole diante de crise que é muito maior do que o seu intelecto, não surpreende  que não só altas autoridades militares, como Mattis, mas até mesmo civis, como o Secretário de Estado Rex Tillerson, afirmem posição contrária à atitude de Trump.  Ao dizer Tillerson que ninguém duvida do direito à igualdade, quando perguntado  "E o presidente?", o secretário de Estado respondeu : "O presidente responde por si mesmo."
              Se se tratasse de um governo parlamentarista,  Trump, enquanto chefe de governo, cairia. No sistema presidencialista, a solução é torná-lo, na prática, uma figura algo patética que fala coisas que a realidade à sua volta desmente. Com a erosão, não só do prestígio, vai junto também a própria autoridade, ainda que respeitada em termos formais. Funciona aqui uma espécie de autopreservação do poder estadunidense, e assim as manifestas sandices do presidente se dissolvem no ar, como se fora uma conversa entre particulares, que não é suposta produzir consequências mais efetivas. É a preservação do poder real, que diante da provada incapacidade de lidar com o desafio, leva ao consensual afastamento - de forma prática e sem aparente reflexo na realidade estatal - como se fora medida da prevenção dos poderes do Estado, enquanto devidamente exercidos.


( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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