quinta-feira, 4 de maio de 2017

Uma leve sensação de náusea...

                          

        Os erros custam a sair de cena, e mais ainda quando levam a resultados contrários, ao sentir das personalidades envolvidas.
        Corroborando assertivas anteriores, e cerca de um dia antes das declarações do Diretor do F.B.I., James Brien Comey, a Senhora Hillary Clinton, em evento social em New York, se reportara aos seus esforços  para lidar com a inesperada derrota na eleição.
        "Eu acredito que o motivo de nossa derrota foram os acontecimentos nos últimos dez dias (antes da eleição). Se a eleição houvesse ocorrido em 27 de outubro (antes das 'revelações' de Mr Comey) eu seria a Presidente dos Estados Unidos."
        Não surpreende tampouco que o Presidente Trump procure esquecer as decisões do Diretor do FBI, assim como desmerecer dos esforços russos para ajudar a sua campanha.

         A Senadora Dianne Feinstein, a Democrata mais categorizada na Comissão do Judiciário, disse para a testemunha Comey que ele tinha tomado iniciativa bastante arriscada, ao mandar correspondência para o Congresso, sem saber como os e-mails descobertos poderiam influenciar nas investigações. E acrescentou: " Precisamos saber como o F.B.I. vai recuperar a fé e a confiança. Nós precisamos de respostas confiáveis para as nossas perguntas, e nós queremos ouvir como o Senhor continuará a guiar o FBI no futuro. Nós não queremos que tal possa vir a acontecer de novo."
         O próprio Senador Charles E. Grassley, de Iowa, o presidente republicano da Comissão, não poupou Mr Comey: "Precisamos que o F.B.I. seja responsável por seus atos, porque precisamos que o FBI seja eficaz."

           A sessão de 4ª Feira seria em princípio apenas exercício da supervisão de rotina do Congresso, ao contrário da audiência em março, na qual Mr Comey tomara a rara iniciativa de confirmar a existência de investigação sobre a interferência da Rússia na eleição.
            Houve singular diferença na interpretação dada ao encaminhamento de mais e-mails para o computador de Anthony Weiner, então marido de Huma Abedin (secretária da Senhora Clinton no State Department). A maioria dos altos funcionários viu a prática como de rotina, com a maior parte dos e-mails sendo encaminhada para arquivamento no computador de Mr. Weiner e uns poucos sendo dirigidos para Mr Weiner.
            Outras regras básicas do comportamento a ser seguido não foram respeitadas por Mr Comey.  O que os funcionários do Departamento de Justiça viam como obediência às regras, Mr Comey via como encobrimento.  Por outro lado, o FBI não confirma normalmente investigações em curso. A par disso, as altas autoridades do Departamento encareceram Mr Comey a que não informasse a respeito o Congresso.

           Apesar de toda a empáfia de Mr James Comey - além do modo rude em que se referira como Mrs. Clinton havia manuseado os e-mails (na primeira audiência perante a Câmara de Representantes) - a direção do FBI semelha não haver sido muito estrita quanto ao segredo a ser observado. O antigo adversário de Hillary, Rudolph W. Giuliani - que é assessor de Trump - três dias antes do anúncio fatídico de Mr Comey em outubro, declarou  na Fox News (a tevê de direita que apoiava Trump) que a campanha iria apresentar ainda "um par de surpresas".
            Quando o infatigável Comey mandou a sua carta (ao Congresso) decidindo a eleição,  a campanha  de Trump apressou-se em dizer que Giuliani "estava apenas se divertindo".  Mas Mr Giuliani, em observação que diz bem de seu caráter, fez questão de precisar  que ele havia sabido antes que o FBI  encontrara novos e-mails de Hillary Clinton relacionados com a questão.

             Antes de pôr um ponto final pelo menos nesse artigo, as respostas do Diretor do FBI, tentando reforçar uma posição cuja insustentabilidade cresce a cada nova informação recebida, tendem apenas a colocá-lo em ulteriores dificuldades.
             Por fim, perguntado como se sentiu quando se verificou da influência que tiveram as suas comunicações para o Congresso, e o consequente peso na sorte da candidatura de Hillary Clinton, Mr James B.Comey declarou: "Me senti levemente nauseado".

             Quanto mais este senhor fala - seja também no intento de desmerecer do peso da influência russa no andamento da campanha - mas sobretudo quanto a suas intervenções descabidas e inoportunas no tópico dos e-mails -, cresce e se generaliza o sentimento de quanto o ego de um alto funcionário da Administração que não teve presentes, seja a orientação do Departamento de Justiça no que tange ao cuidado de não influenciar de modo algum o eleitor, seja respeitar uma atitude mais criteriosa no que concerne ao próprio vedetismo - pesou ao final tristemente no resultado da eleição.

              Findo esse melancólico mega-episódio, a Opinião Pública e o Congresso ficaram conhecendo melhor a Mr  James  Brien Comey.  Mas para tal prejuízo - ficar com Donald Trump e não Hillary R. Clinton como Presidente, creio de minha modesta parte que foi um preço demasiado cruel, de todo desproporcional à oportunidade de melhor aquilatar da mente e da capacidade do atual Diretor de Federal Bureau of Investigations. Dela tratará a História, com as duras, inapagáveis palavras que tais atos, oriundos de personagens menores, podem ter ao conformar o destino dos Estados Unidos da América no próximo quadriênio.       




( Fonte: The New York Times )

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