quarta-feira, 10 de maio de 2017

A demissão de Mr Comey

                              

       Nada tem a ver com os democratas e o esbulho da candidata Hillary Clinton a inesperada demissão do diretor do F.B.I. James B. Comey, tão tristemente conhecido pelo seu ambíguo papel na última eleição, com a estranhíssima comunicação ao Congresso, às vésperas dos comícios de novembro, que tanto afetaria a candidatura favorita de Hillary Clinton, eis que coincidiu com o chamado período da votação antecipada.
      Comey estava tratando de assuntos de serviço com funcionários do FBI  quando o aparelho de tevê da sala informou que o Presidente Donald Trump acabara de exonerar o Diretor do Federal Bureau of Investigations...  

      Mitch McConnell, o lider da maioria (republicana) no Senado Federal, diante da solicitação dos democratas de nomear-se um procurador especial, como costuma ser a prática em tais situações, quis encaminhar 'solução'  mais favorável ao Governo Trump, de o que seria a de um alto funcionário independente para analisar as causas da súbita exoneração do diretor do FBI.
       Enquanto o Presidente Trump gostaria de encaminhar a motivação da demissão do diretor do FBI (que ainda disporia de sete anos, no seu mandato de dez à frente do Federal Bureau of Investigations) como relacionada com o prejuízo causado à candidata Hillary Clinton, ao re-levantar, durante a votação para presidente, o possível envolvimento da democrata (depois provado insubsistente) na questão dos e-mails do servidor privado de computador.


        Embora, aparentemente essa re-investigação faça algum sentido, a opinião comum em Washington  é que se trataria ao invés de um caso de red herring (que é  metáfora linguística para o intencional desvio de assunto ).  Não é por acaso, outrossim, que tal estranha intervenção de Trump tenha muitas semelhanças com a tentativa de Richard Nixon de desviar a investigação do arrombamento do comitê democrata, ao tentar culpabilizar o funcionário encarregado de investigar o que realmente ocorrera  em Watergate.  Agora, só para avivar o que está em jogo  -  o perigo que uma investigação séria sobre a conexão russa nas últimas eleições possa causar em termos de estragos  no Partido Republicano. Mais especialmente no que tange às conhecidas ligações do Presidente Trump com o 'amigo' Vladimir Putin e toda a conversa acerca da excessiva desenvoltura dos agentes russos quanto  à criação de dificuldades de toda sorte à candidatura democrata de Hillary Clinton. Só a suspeição de jogo duvidoso neste assunto bastara para que o então Assessor para a Segurança Nacional, Michael Flynn fosse sumariamente afastado  do governo Trump. A rapidez da providência indicaria de que há algo de muito podre não só no Reino da Dinamarca, mas também na superpotência.
         O GOP - que sabe como terminou o escândalo famoso de Watergate - trata agora de cometer a republicanos confiáveis  o trato dessa questão, dado  o perigo de que a história se repita.

          Entrementes, qual o papel que há de desempenhar Mr  James B. Comey nessa espinhosa matéria é difícil prever. Se a coragem e quiçá uma excessiva segurança quanto às dimensões do papel que lhe caberia exercer  - o primeiro avatar, quanto a assegurar que a verdade e o interesse nacional fossem preservados - o que motivara a sua indicação pelo Presidente Barack Obama para o posto no FBI -  será ele acaso corroborado neste último episódio, por mais que a sua atuação no caso dos e-mails de Hillary se haja marcado por visão excessiva da respectiva relevância, visão essa que foi contra tudo o Departamento de Justiça determinara em matéria de cautela durante o período eleitoral propriamente dito?
           De qualquer forma, a súbita demissão do diretor do FBI pelo Presidente e a sua substituição por republicanos escolhidos a dedo por Mr Trump  levantam não poucos suspicácias.  Essas suspeitas aumentam quando agora se sabe que Mr Comey pediu audiência a um chefe imediato no Departamento de Justiça, a quem solicitou aumento de dotação para habilitar o FBI a investigar a presença russa na eleição presidencial... Ao falar de corda em casa de enforcado, o seu chefe (indicação política de Trump) tratou de comunicar a questão para a Casa Branca, provavelmente acionando o mecanismo que levaria à pronta exoneração de Mr Comey, pela clara ameaça que passara a representar. Daí, a imediata referência ao escândalo de Watergate, que determinara, como se sabe, ao cabo de um relativamente longo processo político,  o impeachment de Richard M.Nixon.


( Fonte: The New York Times )

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