segunda-feira, 8 de maio de 2017

Emmanuel Macron

                              

        Apesar de todo o medo do Front NationaleMarine Le Pen imitou seu pai e morreu na praia.O povo francês  pode ter suas idiossincrasias mas tenderá sempre - ou quase sempre - para o centro.
        À volta, a torcida dos inconfessáveis fazia sua fezinha na aposta alta de Marine Le Pen.  Como espantalho, pode servir, mas só mesmo um povo despreparado e ignorante jogaria tudo fora, votando na filha do velho  Le Pen.
         Mas anti-milagres não costumam acontecer,  sobretudo  na gente cujos pais enfrentaram  a desgraça de Vichy. O francês é  povo conservador, e esse conservado-rismo tem longas raízes. À Revolução Francesa sucedeu o bonapartismo, e mais tarde, após liquidar-se a juventude e os sonhos da Bel Époque nas mortais trincheiras da Primeira Guerra - há um monumento, perdido nos Balcãs, a Gavrilo Princip, o terrorista que morreu na cama, após matar o herdeiro da coroa austro-húngara, e provocar o primeira grande conflagração do século vinte. Não foram só os muitos milhões da juventude européia que o gás e incapazes generais iriam ceifar nas trincheiras  da campanha francesa; partiu também um tempo quando não se precisava de passaporte para viajar. Havia muitos reis, imperadores e velhas senhoras, com longos leques, mas sobretudo um tempo de paz.
         Mesmo no paraíso existem descontentes, e um bando de terroristas resolveu matar o casal real, que cometeria a asneira de visitar, com a pompa do século XIX, o que seria a antevisão do inferno. Não tardou que o implacável sistema das alianças, costurado pelos gabinetes europeus, entrasse em funcionamento, e lá se foi, na lama da charneca francesa, a flor da juventude europeia que pensara ter nascido para vida melhor e mais longa.
         Como sabemos tudo ali começou, mas não terminou. Pois depois da primeira viria a segunda grande matança, encabeçada por um louco - que chegara a gostar do aperitivo da guerra das trincheiras - e que levaria para o inferno, não só a juventude do entre-guerras, mas quase todo um Povo, pensando terminar com o antissemitismo através da total extinção das vítimas.
         Hoje, havia gente assistindo de camarote à desgraça que não houve.  Pois chuleavam para que o bom povo francês fosse tão louco que a dose repetisse, elegendo a filha de um velho extremista. Há gente que pensa que o ódio e o ressentimento podem construir algo, assim como o oportunismo na vitimização de falsos culpados. A direita está sempre à cata de  vítimas que possam catalisar a miséria e os erros do passado.
         Enquanto a Theresa May, depois de associar-se ao Brexit, ficou no balcão para ver se assistia de camarote ao naufrágio  do Mercado Comum. Se a Inglaterra terá custado a ingressar no clube - obstada pelo general de Gaulle que os conhecia bem - saíu dele pela porta dos fundos, por meio de plebiscito que foi convocado de repente, no último verão.
         Emmanuel Macron é ainda jovem, mas preferiu escolher como esposa alguém com mais experiência.  Como a liderança francesa, saída do Partido Socialista e do Centro, dava muitos sinais de cansaço,  a História que tem um fraco pelo  Povo que admira Voltaire, vê outras terras escolherem as receitas do suiço-francês  Jean-Jacques Rousseau,  e que ainda trouxe para o Continente um corso que algo de tática e estratégia militar conhecia, a ponto de infernizar a arena europeia por uma quinzena de anos,  hoje prefere cultuar Emmanuel Macron, que sendo o que é, promete grandes coisas levado pela mão serena da esposa.  
           Desta feita, não funcionaram os jogos do Norte, que tantos problemas criaram  naTerra que acolheu La Fayette. Será o conhecimento misturado com a experiência...  Que o século XXI progrida no bom senso e nos caprichos  desta velha senhora, a Paz, que  não tem decerto o charme daquela virago de temperamento insuportável e de tantas belas páginas, que costumam, hélàs, terminar na doença, miséria e ódios comuns, silenciosamente cultivados junto de enegrecidas lareiras...


( Fontes:  The New York Times,  July 1914, de Sean McMeekin, et al.)

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