sexta-feira, 26 de maio de 2017

2ª Mensagem ao Sr. Prefeito

                             

        Na minha primeira comunicação ao Senhor Prefeito do Rio de Janeiro, perguntava se havia já assumido as suas funções.
        Há um problema com Sua Excelência e seus concitadinos. Empossado em suas altas funções, a única indicação que tive de sua atividade como sucessor de Senhor Eduardo Paes foi de sua viagem-missão à Brasília, levando o próprio filho, com o escopo de convencer o Supremo Tribunal Federal de que a sua nomeação para a chefia de seu gabinete não constituía nepotismo.

        Como nada resultou de sua visita ao STF, é de supor-se que o colendo colegiado - ou um membro dele representativo - terá ponderado que, nas presentes circunstâncias, a designação de um filho do prefeito Crivella em alguma função na prefeitura constituiria sempre nepotismo. Em outras palavas, havia uma pedra no caminho, a impedir a realização do desejo do genitor que aspirava valer-se do próprio filho para ocupar funções de gestão no respectivo gabinete.

        Já o motivo desta minha segunda mensagem ao Prefeito Marcelo Crivella difere da anterior. Por onde se ande no Rio de Janeiro, se tem a impressão de que o atual prefeito continua ausente de suas altas funções.
        Não se lhe distingue a presença seja - para começar em aspectos mais comezinhos - na pintura das faixas de pedestre nos bairros da cidade que lhe escolheu com o voto para presidir por quatro anos aos seus destinos. Se nas grandes artérias, elas ainda aparecem, se o motorista entra em ruas laterais ou secundárias, outra será a impressão colhida. E ela é a do abandono, com faixas de pedestre cuja sinalização está por desaparecer.
        Por outro, como guarda de trânsito se transformou em espécime raro e os municipais são difíceis de encontrar, é muito comum o estacionamento irregular - tanto no centro, ou o que o Sr. Eduardo Paes doravante mandou chamar de centro, prejudicando a quarteirões inteiros enquanto ao antigo ativo comércio, assim como a bares e restaurantes tradicionais, que tiveram de fechar as portas, tangidos por modernização tão draconiana, quanto artificial.

          Não é preciso fazer curso de urbanismo para ter presente que a "renovação" instituída pelo anterior prefeito, a pretexto, entre outras coisas, de agilizar o trânsito, na verdade criou uma série de monstrengos em termos de circulação, desviada a Avenida Rio Branco do objetivo pela qual foi riscada e planejada por antecessor com maior visão que o dileto amigo do Governador Sérgio Cabral, a quem deveu a eleição, no pontual ponto facultativo de dúbia legalidade, sobre o seu popular concorrente Fernando Gabeira.
            Mas alguma coisa há de fazer-se com esse centro - cuja presente virtual inatividade foi estabelecida por capricho do Sr. Eduardo Paes. Não sei se deva definir como insensato ou ruinoso esse planejamento que nos custou o esvaziamento do centro citadino, antes pleno de gente, negócios e de comércio, hoje transformado em um museu ao ar livre de casarões fechados e de ruas mal policiadas.

             Ora, dirão, que o Senhor Marcelo Crivella, sobrinho do bispo Macedo, nada tem a ver com as experiências urbanísticas de Eduardo Paes. Peço vênia para discordar, e por dois motivos: estou certo de que o trânsito dos modernos VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos)- na verdade, a versão moderna dos bondes pode ter grande utilidade para os cidadãos, mas a sua implantação em outras partes do mundo não acarretou o desconcerto e o desconforto dos demais transportes, cuja eficiência - com exceção do metrô, por óbvios motivos - não persistiu.
               O Sr. Crivella ainda não disse ao que veio. O centro do Rio de Janeiro, antes movimentado e - o que é importante - dando emprego a muitos, hoje se transformou em um quase cemitério. Atravessando ruas e vielas semi-desertas, a pergunta que nos assoma é por quanto tempo se conviverá com tal esdrúxula situação, em que se esvaziam quarteirões inteiros para transformá-los em becos e vielas mortas. Não se carece de ser nenhum profeta para antever a invasão de casas e casarões abandonados pelo mesmo tipo de gente que ora azucrina o Prefeito João Dória de São Paulo. Conhecemos os procedimentos desses senhores. Na verdade, não estão preocupados em prevenir, mas sim em impedir, uma vez realizada a invasão, que se retire de lugares por onde nunca andaram esses infelizes que na atualidade constituem a turma da cracolândia.
                 Em outros tempos, as autoridades cuidavam de administrar as cidades, grandes ou pequenas, e de assegurar-lhes a progressão no comércio e na indústria.

                Até agora - e que me desculpem os seus partidários - não logrei entender aonde está o segredo do radioso futuro do centro dessa sofrida e mui leal Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. De um lado, temos um prefeito não tão recém-eleito que teima em não dar o ar de sua graça, nas ruas, avenidas, calçadas e tudo o mais da mega-cidade a que chamaram de maravilhosa. E de outro lado, alguém que exerceu dois mandatos, mas até agora tampouco nos transmitiu qual o segredo de sua avalanche de modernização, pois ao invés de criar núcleos flamantes de atividade, ele transformou o centro em cidade quase-morta, onde os mais velhos caminham e dizem para os mais jovens, usando sempre o tempo passado: aqui foi isso, aqui foi aquilo, nestas ruas e travessas muita gente passava, atarefada ou não, e agora muitos têm medo de adentrar esses espaços ermos, criados pelo planejamento da Prefeitura... 


(a continuar)      

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