sexta-feira, 19 de maio de 2017

O dilema dos democratas

                              

        Há grande movimentação dentro do Partido Democrata em prol de  oposição mais agressiva contra o Governo Donald Trump, com um claro viés para agilizar o seu impeachment. Essa ala de esquerda no partido recebeu mal a designação de apenas um Conselheiro Especial para cuidar da questão.
         Apesar do ótimo curriculum do antigo Diretor do FMI, Robert S. Mueller III, e da certeza de que há de monitorar de perto o presidente Trump, a ala mais radical dos democratas quer o impeachment do 45º presidente, por força de como lidou com os representantes russos, além das irregularidades na última eleição. Por isso, acharam pouco a designação de Conselheiro especial e não de um promotor especial, como o foi, v.g., Ken Starr, que substituíra a Robert Fiske, nomeado este pela Secretária Janet Reno, considerado demasiado correto e moderado para ser special prosecutor do Presidente Bill Clinton.

            Ken Starr, pela própria rigidez e severidade, se marcaria pela perseguição implacável a Bill Clinton e a esposa Hillary, a quem submeteu inclusive a um grand jury, para determinar se cometera perjúrio ou não. O processo de impeachment do presidente Clinton foi até o Senado, mas o promotor especial, malgrado a extrema rigidez e severidade (chegou a algemar uma das testemunhas favoráveis a Clinton, com o escopo de que se retratasse) acabou sendo derrotado, pois o impeachment fracassou no Senado, a maioria dos senadores votando contra.  Pelo seu comportamento, Starr mostraria, dessarte, na questão judicial de Whitewater,[1] o que não deve ser um promotor especial. Se a justiça deve prevalecer, igualmente é necessário que haja de parte da acusação  atitude equilibrada, e não a crua e extrema busca de sem quartel lograr condenação a qualquer custo.

           Para o Presidente Trump, que por uma série de atitudes tem mostrado comportamento contrário àquele a ser observado pelo Chefe da Nação - e em decorrência disso não houve maior oposição no Congresso a que fosse designado um conselheiro especial para seguir-lhe os  atos, monitorá-los, e também para examinar medidas contestáveis, como contactar o Diretor do FBI a respeito de investigação em curso, cujo resultado pode ser negativo para Trump. A pessoa escolhida para a função de Conselheiro Especial, Robert S. Mueller III, não poderia ter melhor nome na atual administração. Não obstante, Trump se tem manifestado negativamente, e é mesmo estimulado por seu genro  Jared Kushner, a reagir contra essa marca de desconfiança oficial. No entanto, como os republicanos têm a maioria na Câmara e no Senado, se coube a Trump um funcionário extremamente respeitado como é Robert Mueller, o fato de dominarem o Congresso exclui por ora a nomeação de um Promotor Especial, como foi no caso de Bill Clinton.
         No entanto, não há dúvida que Robert Mueller pelas suas qualidades profissionais e pela sua conhecida seriedade não será presa fácil para o histriônico Trump.  Os democratas, por sua vez, procurarão ajudar o Conselheiro Especial, pois o seu escopo é o enfraquecimento progressivo de Donald Trump, tarefa, aliás, que é sobremodo facilitada pela série de erros e de atitudes pouco condizentes da parte do atual Presidente. Tampouco lhe ajuda a circunstância de atacar o Conselheiro Especial, que é personalidade muito respeitada nos círculos governamentais de Washington.

          E é por isso que a maioria dos democratas - embora desejando o impeachment de Trump - considera que nas atuais condições é mais prudente e é mais bem visto seguir de perto o processo, conscientes de que, se dispuser das cordas necessárias, pelo seu comportamento o atual presidente tenderá a acirrar as condições para o processo de impeachment.

( Fonte ancilar: The New York Times )



[1] O "escândalo" de whitewater iniciou-se com uma investigação do jornal The New York Times, contra Hillary Clinton e Bill Clinton, por essa empresa com procedimentos que pareceram ilegais ao jornal nova-iorquino. Sob tal designação, a dita questão se estenderia por boa parte da Administração de Bill Clinton, com as consequências acima referidas. Tanto o jornalão de New York, quanto o severo promotor especial Ken Starr fracassariam, não sem antes - este último sobretudo - causar muitos problemas ao casal Clinton.  

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