domingo, 28 de maio de 2017

O problema Trump

             
             Parece que o presidente Donald Trump está esquecendo o que significa liderar.
  
       Dentro do contexto internacional, é necessário - mais ainda do que no plano interno - o que se chamaria um pré-consenso. Em outras palavras, as partes de acordo, no caso internacional, serem movidas por princípios básicos que informam o acordo geral. Se um dos países tiver dúvidas acerca de determinados tópicos, e se este país ocupar posição de liderança,  ele carece de verificar se os demais - ou a maioria dos membros - estão dispostos a rever a respectiva posição.
        Vamos começar do mais simples. No ano passado, o Acordo Geral do Clima em Paris enfatizou que havia consenso bastante amplo quanto à validade de seus princípios.
         Por isso, diante das esdrúxulas posturas do novo governo americano - negacionista quanto ao aquecimento global e com um resoluto pé atrás em termos de medidas internacionais (e nacionais) que busquem combater fatores poluentes (como a indústria do carvão) - será mandatório reconhecer que o governo direitista republicano encimado por Trump assumiu uma postura nacional e internacional que está na contra mão de um consenso generalizado sobre a necessidade de tudo fazer para evitar que continue o desastroso incremento da temperatura média global do planeta.
         Negar o aumento global da temperatura média mundial é adotar posição insustentável sob o aspecto científico. Não estamos mais em período em que tal asserção possa ainda ser interpretada como válida. Ou se trata (a) de país atrasado, em que as ciências não recebem a atenção devida, ou então a comunidade internacional se defronta com postura de má-fé (b).
          Como não é possível incluir os Estados Unidos sob a alínea (a),  defrontamos a hipótese (b), que se aplica caso a Administração Trump se obstine na senda negacionista (ou, se recuse a assinar o Acordo Geral do Clima, firmado em Paris).
           Mas o aspecto nocivo das posturas desse governo Trump, não se limita  à questão do clima, ou ao meio ambiente em geral
            Há um outro setor, este relativamente mais complexo, em que a posição da Administração Trump, se convive filosoficamente com o negacionismo da anterior, pode a princípio parecer mais complexa, posto que na verdade ela possa ser bastante singela e até simplista nas suas premissas, que estão igualmente na contramão da História, posto que pareça aos menos avisados que ela participe do livre-arbítrio político de um novo Governo.

              Causou desconforto em líderes europeus, como Angela Merkel, que ao invés de celebrar o septuagésimo aniversário da Organização do Atlântico Norte (OTAN), Donald Trump tenha, a par de dissociar-se de premissas básicas dessa organização (em que a ameaça a um membro é uma ameaça a todos), procurou ralhar mais os membros-partícipes, do que forjar um reforço à aliança comum (que pelo visto vem funcionando a pleno contento, além de representar para os pequenos países - como aqueles que estão na faixa do estrangeiro-próximo, que é a designação que o urso russo dá àquelas nações que se inserem na sua esfera de influência).

               Só a História dirá até que ponto a Rússia prevaleceu na sua óbvia preferência por alguém que, ao contrário da maioria dos seus demais concidadãos, tem marcada preferência pela amizade com Vladimir Putin. Até hoje, resta difícil para engolir tanto a derrota de Hillary Clinton, personalidade muito mais preparada do que o adversário republicano, quanto até que ponto a sua ligação com Moscou terá sido determinante no grau da suposta intervenção russa na eleição geral americana do ano passado. Dada a garrafal diferença entre os dois candidatos, o Conselheiro especial que foi recentemente nomeado poderá avançar mais para que, com a ajuda de outros organismos, como o F.B.I., se possa talvez entender melhor porque uma personalidade tão esdrúxula quanto Trump pôde ter ganho de Hillary na votação indireta (perdeu no voto popular). É um enigma que seria muito útil decifrar, antes que ele devore os princípios básicos que norteiam a Aliança Ocidental...


( Fonte:  The New York Times )     

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