sexta-feira, 31 de março de 2017

O desafio da desordem nas contas públicas

                         

         A coluna de Miriam Leitão nos dá ideia de como são difíceis os ajustes das contas.   O impasse do Governo era o de fechar a conta de onde tirar R$ 58 bilhões. As condições para tanto eram: a ordem de Temer de não aumentar impostos, a Advocacia Geral da União desaconselhava o uso do dinheiro dos precatórios, a Receita Federal era contra a oneração do setor da construção civil, e a lei mandava fechar tudo para enviar ao Diário Oficial.
         Tratava-se de uma dramática corrida para cobrir um déficit extra só ilustra - e não pela primeira vez - o estado de desorganização das contas públicas.
          Note-se que o esforço adicional é para reduzir em R$ 58 bilhões o buraco que o Brasil terá este ano em suas contas primárias, isto é, sem contar os juros da dívida. Feitas as contas dos débitos e dos créditos, há um rombo de R$ 197 bilhões. No entanto, o Tesouro está autorizado a ficar no vermelho em R$ 139 bilhões, como determina o Orçamento.
           A Fazenda divulgou nota em que explica o desafio das  contas públicas.  O Brasil tem uma despesa de R$ 1,3 tri. E tem uma receita líquida de R$ 1,19 tri.  O país precisa cortar esses R$ 197 bilhões. E até mesmo cobrir os R$ 58,2 bi foi uma operação em que a equipe econômica se viu empenhada durante vários dias.
            O principal problema é o conhecido engessamento do Orçamento. Dinheiro há, mas não se pode mexer em nada. Os principais blocos da receita estão comprometidos com despesas que tem de ser feitas, como Previdência (R$ 560 bi), pessoal e encargos (R$ 284,5 bi). Retiradas todas as despesas obrigatórias, restam R$ 274 bi.
             Na verdade, sobrariam. Há outros gastos que não podem deixar de ser feitos: as emendas de parlamentares, água e luz de hospitais e universidades. Feitas todas as contas, sobram R$ 90 bi. E mesmo nesse total, é difícil encontrar espaço de corte.
            Feitas todas as contas, o Governo pôde afinal anunciar um corte de R$ 42,1 bilhões, com mais R$ 16,1 bi de aumentos de receitas com o fim da desoneração da folha de pagamentos de vários setores, aumento do IOF para cooperativas de crédito e concessão de hidrelétricas.
            Como assinala Míriam Leitão na sua coluna, ao longo do dia, cada vez que uma fonte de receita se tornava duvidosa, o conselho da Secretaria de Orçamento Federal (SOF) era que se contingenciasse os R$ 58 bi, porque a opção  de não concluir ontem não existia. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) manda que a cada dois meses se apresente o balanço de receitas e despesas, e no final do mês subsequente se especifique como fazer para  corrigir a rota em relação à meta. E é isso que o governo perseguiu nos últimos dias para cumprir exatamente o que determinou o  TCU. O Governo Dilma tentou contornar essa obrigação, mudando a meta na reta final do ano.
              A grande dúvida que surgiu na quarta-feira, à tarde, em relação ao planejado foi sobre os precatórios. Os ministros Henrique Meirelles e Dyogo Oliveira tiveram longa reunião com a ministra Grace Mendonça, da AGU. Para ela, não havia segurança jurídica do uso desse recurso, eis que é dinheiro depositado pelo Governo, mas em nome de particulares. De qualquer forma, os ministros julgaram mais prudente consultar a presidente do Supremo, Cármen Lúcia e, ao cabo, decidiram não utilizar essa receita.
             Ao cabo de seu artigo, Miriam Leitão escreve também sobre o escândalo do TCE, e as prisões e a condução coercitiva. Dada a situação do Estado, é forçoso concordar com a articulista: "E o pior é que, por mais inusitado que o fato seja, não surpreendeu. Talvez pela dimensão, mas não o fato em si de haver corrupção no TCE."      

( Fonte: artigo de Míriam Leitão (O Globo)         

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