terça-feira, 7 de março de 2017

Interferência russa na eleição de 2016

                             

      O Partido Democrata, que é oposição, tenta a nomeação de Procurador Especial (Special Counsel) para cuidar da investigação penal acerca da interferência russa na eleição presidencial de 2016.
       A Senadora Democrata Dianne Feinstein, a mais antiga representante da Oposição no Comitê Judiciário do Senado, reputa a designação indispensável para evitar eventual interferência política pela Administração Trump.
        À maioria  republicana, no entanto, não interessa a indicação de um Special Counsel. No tempo do Presidente Clinton, quando eram oposição, tinham outra opinião. Chegaram mesmo a designar para substituir Robert Fiske, considerado demasiado moderado, a Kenneth Starr, que marcaria época como se fora um inspetor Javert[1] da pós-modernidade, tal a impiedade (horresco referens[2] alguns detalhes de seus métodos investigativos) e a ínsita brutalidade de seus métodos (malgrado tudo, não conseguiu obter o impeachment de Bill Clinton...)
           O presidente (chairman) da Comissão, o republicano Senador Charles E. Grassley, do pequeno estado de Iowa, disse a respeito que não vê necessidade para que se designe um procurador especial.
            Com a postura superior de quem se julga por cima da carne seca, Mr Grassley sentenciou que existem tempos em que procuradores especiais são necessários, mas que para ele é demasiado cedo para dizer se agora  há necessidade disto ou não e se há algum crime conexo, uma vez confirmado  Mr Rosenstein (o substituto de Jeff Sessions, que mentiu para o Congresso no quadro  dos contatos com a embaixada russa, e por isso se afastou da investigação).
                O poder tende a obnubilar as pessoas. O veteraníssimo Senador Grassley não vê qualquer necessidade de um procurador independente em um escândalo como esse da interferência (determinada por gospodin Vladimir Putin) russa nas eleições presidenciais americanas, motivada pelo ódio que o autócrata do Kremlin vota a Hillary Clinton[3]  (que declarara em depoimento pós-eleição ter Putin um rancor pessoal contra ela, por haver denunciado  fraude generalizada na eleição parlamentar russa).
                Ora, Mr Grassley não vê maior importância na aberta interferência russa na última eleição presidencial.  É interessante a ousadia do homem-forte Putin que, ao parecer, realizou na Superpotência uma verdadeira superoperação tendente menos a prejudicar Hillary do que a ensejar a eleição de um político afastado do establishment republicano, e que logrou a presidência por um conjunto apreciável de fatores controversos. A desenvoltura dos hackers russos que penetraram nas comunicações do Diretório Democrata logrando colher elementos das instruções partidárias que poderiam ser utilizados de forma negativa, tanto que foi empregado para a divulgação  sistema deles dependente, o wiki-leaks de Julian Paul Assange.
                   Com a segurança do personagem do Conselheiro Acácio, o Senador Grassley não vê necessidade alguma de aprofundar a análise da operação muito provavelmente ordenada a partir do Kremlin.
                    É de certo modo contristador que um país como os Estados Unidos da América, que passa por ser a única Superpotência, possa sofrer tal operação disposta por um país que, apesar do arsenal nuclear, no dizer do Presidente Obama é um poder continental, não podendo, por ora pelo menos, ser comparado a antiga União Soviética.
                      Por outro lado, enfim, é oportuno mencionar a observação do colunista Paul Krugman, do New York Times, que define como scary as implicações da suposta estreita amizade entre Donald Trump e Vladimir Putin. Na sua coluna, o Prêmio Nobel Krugman deixa muito evidente a possibilidade do presidente estadunidense ser colocado em situação em que haja certa dependência do poder exercido pelo ex-KGB  Putin.
                      Mas decerto - como se depreende da atuação do Chairman da Comissão Grassley - nada disso tem a relevância para que se realize uma investigação mais séria sobre o que outros podem considerar uma ameaça à segurança estadunidense...


( Fontes : The New York Times, Virgílio, Victor Hugo, Eça de Queirós  )



[1] O inspetor Javert é  personagem do célebre romance de Victor Hugo Les Misérables, que pelo seu zelo na perseguição a criminosos e suspeitos se tornaria o epônimo do policial implacável.
[2] Virgílio, Eneida.
[3] A fonte da notícia é própria Hillary, então Secretária de Estado, e que disse há pouco ter Putin "a personal beef against her", por causa de sua denúncia então de fraude generalizada.

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